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Raio-X da Temporada 2022: múltiplos fatores afetam a busca da Ferrari pelo título

Ferrari lida com falta de confiabilidade, problemas de estratégia e erro dos pilotos e com esse conjunto perdeu a chance de disputar o título em 2022

A Ferrari encerrou a temporada 2022 como vice-campeã do Mundial de Construtores, mas ao longo do ano a equipe perdeu o duelo direto com a Red Bull e passou a ser ameaçada pela Mercedes. O time italiano obteve 554 pontos, contra 759 da RBR e 515 da Mercedes – 205 pontos separaram a Ferrari da equipe austríaca.

Comparativo de desempenho entre os pilotos da Ferrari em 2022 – Foto: reprodução F1

Enquanto na primeira metade do Campeonato a Ferrari obteve algumas vitórias, o retorno das férias de verão foi marcado pela escassez, Charles Leclerc e Carlos Sainz até conseguiram poles, mas não conseguiam reverter o resultado em vitórias.

Ao longo dos textos sobre as equipes mencionei bastante a palavra confiabilidade, algo que deu o tom da temporada 2022. Haas e Alfa Romeo que são clientes da Ferrari e recebem motores da fabricante lidaram com abandonos e quebras, mas o mesmo aconteceu com a Ferrari.

Para compreender melhor, sabendo do congelamento dos motores, a Ferrari correu para conseguir mais potência, tentando se igualar aos motores da Honda (usados por Red Bull e AlphaTauri), além dos motores da Mercedes (usados por McLaren, Aston Martin e Williams). Como o regulamento constava a possibilidade de realizar algumas alterações no período de congelamento voltadas para a confiabilidade, a Ferrari então fez essa manobra.

O time de fato conseguiu isso, na pré-temporada chamou a atenção e na primeira corrida do ano Charles Leclerc fez a pole, foi o dono da volta mais rápida e ainda venceu a prova. Porém, aqueles problemas que surgiram com Alfa Romeo e Haas durante a pré-temporada, chamavam a atenção e com a falta de confiabilidade do motor, a Ferrari tinha tudo para perder alguns pontos preciosos.

As quebras e a necessidade de fazer substituições de componentes do motor além do que são permitidos pelo regulamento, comprometeram alguns resultados da Ferrari. Porém, esse não foi o único fator que fez a Ferrari perder a chance de disputar o título.

A Ferrari também cometeu diversos erros estratégicos, não apenas perdendo vitórias para a Red Bull, mas também perdeu pódios para a Mercedes. Em vários momentos a equipe fez escolhas esdrúxulas de pneus e não soube aproveitar certas oportunidades. O episódio na Hungria foi apenas um do show de horrores da Ferrari, quando apostou em pneus duros, em uma pista fria e fez Leclerc perder pontos.

O F1-75 também enfrentou as suas questões com os pneus, em algumas pistas o desgaste dos compostos era muito acentuado, forçando Charles Leclerc e Carlos Sainz anteciparem as suas paradas.

Um dos melhores carros da pré-temporada mas a falta de confiabilidade e os erros na estratégia foram o ponto fraco da equipe em 2022 – Foto: reprodução Ferrari

Antes do retorno das férias Mattia Binotto dizia que era possível a Ferrari ganhar todas as corridas, porém, o time italiano não subiu no lugar mais alto do pódio nenhuma vez mais.

O ponto mais positivo de 2022 foi ver a equipe construir um bom carro, que já se destacava na pré-temporada, mas a Ferrari não manteve o ritmo de atualizações, desta forma passou a ser superada pela Red Bull que foi contra a decisão da equipe rival, atualizando o carro constantemente e tentando reduzir o seu peso para se tornar mais competitiva.

Mesmo com o que foi apresentado em Barcelona e no Bahrein, a Ferrari não se via na disputa pelo título ou como favorita na temporada 2022. Quando a sequência de erros passou a ditar a temporada 2022 era óbvio que mesmo com um bom carro o time italiano estava desistindo de disputar o título pois os problemas não eram resolvidos.

Mattia Binotto tentou em alguns momentos não responsabilizar outros funcionários por erros que estavam ocorrendo, mas se aproveitava principalmente de Charles Leclerc quando o piloto se sentia responsável por erros que aconteceram em algumas provas. A falta de pulso firme para coordenar a equipe foi sentida, principalmente quando Binotto não foi capaz de determinar quem seria o primeiro piloto ou tentar favorecer Leclerc em algumas situações, algo que a Red Bull não mediu esforços, pois queria tornar Max Verstappen seu bicampeão.

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Problema após problema tornou a permanência de Binotto insustentável, desta forma o chefe de equipe deixará a Ferrari ao final de 2022, enquanto o time contará com Frédéric Vasseur como novo chefe de equipe da Ferrari.

Sobre os pilotos, é importante fazer algumas considerações não apenas individuais como coletivas. No início da temporada foi publicado um texto no Boletim do Paddock falando sobre as melhores duplas do grid, Charles Leclerc e Carlos Sainz apareciam nela com tranquilidade. Ainda achamos que eles são uma excelente dupla, pois são pilotos que tem performances que se complementam e se cada um pudesse extrair um pouco das características do outro, teríamos sem dúvidas a melhor dupla.

Charles Leclerc é extremamente rápido, ele consegue encontrar espaços para fazer boas classificações, se destaca em uma volta rápida, mas ainda fica devendo um pouco de técnica e até mesmo um pulso firme para ter mais controle da sua corrida, sem depender muito do time.

Ainda são uma excelente dupla, mas seria um pouco melhor se Sainz fosse um tanto mais rápido e Leclerc desenvolvesse melhor a técnica – Foto: reprodução Ferrari

Em Abu Dhabi quando o piloto optou por fazer apenas uma parada, tentando superar Sergio Pérez em pista e garantir o vice-campeonato, Leclerc foi excepcional. O monegasco estava na estratégia de duas paradas, mas com a segunda troca de pneus do mexicano, ele permaneceu em pista, aguardando para ver se Pérez conseguira se aproximar. Como Hamilton atrasou o piloto da Red Bull naquela prova, Leclerc cruzou a linha de chegada na segunda posição.

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Carlos Sainz por outro lado é um piloto que tem melhorado a sua performance, mesmo cometendo alguns deslizes no início do ano, conseguiu se adaptar ao carro. Sainz também teve aquele fatídico GP do Japão, em que escapou da pista e bateu. Mas o espanhol se destaca principalmente nas questões estratégicas e algumas escolhas de Sainz ao longo do ano fizeram o espanhol terminar provas à frente de Leclerc ou ao menos, evitou a perda de posições no grid.

Tanto Leclerc como Sainz poderiam ter encerrado a temporada mais bem posicionados no Campeonato. O monegasco é aquele piloto que aparece na vice-liderança, mas não brigou de fato por ela, sua disputa foi mais com o terceiro colocado do que com o Campeão de 2022 – Max Verstappen. Sainz também ficou bem próximo de ser superado por Lewis Hamilton, isso só não aconteceu, pois, a Mercedes também teve uma parcela de culpa para o inglês ter perdido alguns pontos durante 2022.

Se esperava muito mais do conjunto da Ferrari e certamente o time italiano foi uma das maiores decepções de 2022. É esperado que agora que a Ferrari contará com um novo chefe de equipe, algumas mudanças internas possam acontecer, pois a não substituição Iñaki Rueda do comando das estratégias seria manter uma falha que já vem dando problemas, o único problema da Ferrari certamente não era Mattia Binotto.

Um outro questionamento também surge com a chegada de Vasseur, por mais que ele tenha feito muito com pouco na Alfa Romeo, o time tem problemas bem semelhantes ao da Ferrari e por um bom tempo ficou estagnada no final do pelotão. A temporada 2022 da Alfa Romeo teve os seus brilhos, mas erros também comprometeram a disputa da equipe no meio do pelotão.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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