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O que aprendemos na temporada 5 da Fórmula E

Há cerca de um mês, a 5ª temporada da Fórmula E foi encerrada em Nova Iorque com uma rodada dupla e a consagração de Jean-Eric Vergne como o primeiro bicampeão da categoria. Antes mesmo da primeira rodada na Arábia Saudita, ainda em 2018, havia uma imensa expectativa em relação a todas as mudanças que estavam por vir, como expliquei nesse texto aqui: 10 motivos para você dar uma chance à Fórmula E. Agora que o biênio 2018-2019 acabou, é hora de analisar o que ele nos deixou de lição. Quais foram os altos e baixos?

lll O Gen2

O novo carro da Fórmula E foi sem dúvidas a maior novidade da 5ª temporada. O modelo mais veloz e potente o suficiente para durar uma corrida inteira sem a necessidade de pit stops – e mais bonito também – era uma incógnita para todas as equipes do grid. E não decepcionou. Aprovado por todos os pilotos, o Gen2 ficará até o fim da temporada 2021-22.

Como nada é perfeito, as dimensões do novo carro interferiram no desenrolar das corridas em alguns momentos. O caro é mais largo e mais comprido que o anterior, fazendo com que toques em outros carros e nos muros fossem inevitáveis, Jean-Eric Vergne foi um que reclamou publicamente sobre a quantidade de acidentes acontecidos nesse ano, mas isso é assunto para daqui a pouco.

lll O Qualy

O novo modelo de qualificação não foi unanimidade no grid da Fórmula E. O sistema que dividia os pilotos em grupos de acordo com a classificação deles no campeonato foi alvo de muitas reclamações, especialmente por parte daqueles que se sentiram prejudicados por ele. Os líderes do campeonato por muitas vezes falaram que a pista no começo da sessão estava fria e suja e que isso afetava diretamente o desempenho deles. Em alguns momentos, houve aqueles que conseguiram se superar, mas o maior resultado foi que 9 pilotos diferentes conquistaram a pole position em 13 etapas e das 13 poles possíveis, 6 foram da Nissan – 3 para cada um de seus pilotos (Sebastien Buemi e Oliver Rowland). Bom pra gente!

E tem novidade para a temporada 6: os pilotos mais rápidos de cada grupo ganharão um ponto no campeonato.

lll O Modo Ataque

Além de um novo carro e de um novo modo de classificação, a Fórmula E também trouxe um novo elemento para as corridas: o Modo Ataque. Cada piloto teria 25 kW de potência extra durante um determinado período, desde que passasse pela zona de ativação. Esse espaço fica fora do traçado que os carros fazem normalmente, então é preciso perder um pouco de tempo para ganhar esse benefício. A novidade causou certa desconfiança antes de a temporada começar, mas à medida que as corridas aconteciam, ficava claro que esse foi um grande acerto esse ano.

O modo ataque se tornou um elemento a mais na estratégia de pilotos e equipes, o grande segredo era encontrar o momento certo de ativá-lo. Alguns pilotos nos proporcionaram momentos incríveis com o modo ataque como Mitch Evans se defendendo de Andre Lotterer em Roma e Jean-Eric Vergne recuperando brilhantemente sua posição em Berlim.

Apesar dos bons resultados trazidos pelo Modo Ataque, já foram anunciadas mudanças para a próxima temporada: não será mais permitido ativar o benefício durante o Safety Car e nas bandeiras amarelas no circuito inteiro, ou seja, mais pimenta nesse feijão!

lll A [des] Organização das provas

Ok, sem dúvidas esse é o ponto mais delicado e que mais precisa de mudanças urgentes na Fórmula E. Desde a primeira etapa em Al Diriyah, foi possível perceber o quanto a categoria ainda é deficiente nesse aspecto, a chuva atrapalhou os treinos e o classificatório e ficou evidente que não havia um plano de contingência.

No ePrix do México, Nelsinho Piquet acertou a roda traseira de Jean-Eric Vergne, voou por cima do carro do francês e atingiu Alexander Sims da BMW, o acidente ocasionou uma Full Course Yellow seguida de uma bandeira vermelha. A prova foi interrompida, mas o relógio continuou contando e o caos foi instaurado. Ninguém sabia ao certo o que ia acontecer, pilotos voltaram para os boxes, equipes tentavam recuperar os carros acidentados e o relógio correndo… Depois de cerca de 50 minutos, a prova recomeçou e o tempo de paralisação foi acrescido ao tempo de prova para que os pilotos continuassem o ePrix.

Nas etapas seguintes, o cronômetro parava sob bandeira vermelha e o tempo continuava quando os carros recomeçavam a prova. Ainda assim, havia muita demora para retirar carros acidentados da pista, o que me levou a desenvolver a “teoria do tratorzinho” – acredito que só exista um trator para a remoção de carros e como os circuitos da Fórmula E não são exatamente apropriados para a realização de corridas de carros, o trator tem dificuldades para ir de um canto a outro, um dia ainda vou confirmar essa teoria. Outra coisa que atrapalhou bastante o recomeço das provas foi o trabalho ruim dos fiscais de pista, na maioria das vezes eles pareciam não ter o preparo suficiente para lidar com situações básicas como a retirada de detritos dos carros. E, como já falei anteriormente, não foram poucos os acidentes nessa temporada, principalmente os toques leves que espalham pedacinhos de carros pelo asfalto, a preparação dos fiscais merece muita atenção no ano que vem.

Falando em acidentes, muitos deles aconteceram por causa das chicanes mal colocadas em traçados já estreitos, atrapalhando as disputas e o desenrolar das provas.

Mas de todos os problemas citados até aqui, nenhum supera as dores de cabeça causadas pelas punições mal aplicadas esse ano. Penalidades confusas, mal explicadas, sem critérios definidos e, o pior, divulgadas horas depois do fim das provas. O auge foi o ePrix de Hong Kong, vencido e comemorado por Sam Bird (Virgin) que perdeu a vitória cerca de horas depôs do fim da prova, Edoardo Mortara (Venturi) foi quem ficou com os pontos. Se tem uma coisa que precisa soar todos os alertas vermelhos de prioridade máxima na Fórmula E são as aplicações de punições e o trabalho da direção de prova.

lll Os Novatos

Atraindo cada vez mais novos nomes, a Fórmula E tem se mostrado uma alternativa real e super viável no mundo do automobilismo. Aos nomes vindos da Fórmula 1, juntaram-se Pascal Wehrlein, Stoffel Vandoorne e Felipe Massa – o brasileiro, aliás, foi um dos nomes mais celebrados do ano. Mesmo com um pouco de dificuldade em se adaptar ao novo carro, Felipe conseguiu bons resultados para a Venturi – melhor deles foi um terceiro lugar em Mônaco. E mesmo com o aporte da Mercedes, a equipe de Massa ainda está em desenvolvimento. Felipe terminou o campeonato na 15ª posição com 36 pontos.

Vandoorne também faz parte de outro projeto da Mercedes, a HWA foi a equipe estreante da temporada 5. O piloto belga conseguiu uma pole position em Hong Kong e um 3º lugar em Roma. Há boatos de que ele possa ir para a equipe Mercedes, que usará a própria marca na temporada 6. Stoffel marcou 35 pontos e ficou em 16º no campeonato.

Max Gunther passou por altos e baixos esse ano, o pior momento foi a substituição por Felipe Nasr, o brasileiro pilotou na Dragon por 3 corridas, mas optou por continuar na IMSA após os maus resultados apresentados. Quando retornou, Gunther conseguiu andar melhor e juntou 20 pontos contra 3 do companheiro de equipe, o experiente Jose Maria Lopez.

Pascal Wehrlein chegou na Mahindra causando alvoroço, o piloto – a própria equipe – eram grandes apostas para esse campeonato. A equipe indiana começou a temporada muito forte com uma vitória de D’Ambrosio na segunda etapa, mas foi sumindo nas provas seguintes. Pascal ainda chegou a fazer uma pole position no México e quase venceu a prova, mas ficou sem bateria nos últimos metros e foi ultrapassado por Lucas di Grassi em cima da linha. O alemão já havia conquistado um 2º lugar em Santiago e ao final do ano ficou em 12º no campeonato com 58 pontos.

Oliver Rowland foi sem dúvidas o melhor estreante da temporada 5. O jovem piloto britânico chegou à Nissan para ser companheiro de Sebastien Buemi e fez um ótimo trabalho, conseguiu 3 poles positions, um 2º lugar em Sanya e outro em Mônaco e o 10º lugar no campeonato com 71 pontos. Olho nele!

lll Os Coadjuvantes

Vou falar 3 nomes para vocês: Andre Lotterer, Mitch Evans e Robin Frijns. Enquanto todos estavam de olho em Vergne, Bird, di Grassi e Buemi, os 3 coadjuvantes roubaram a cena e fizeram temporadas incríveis, cada um ao seu próprio modo.

Andre Lotterer viu seu companheiro de equipe se sagrar bicampeão da Fórmula E, mas nem por isso se deixou ofuscar pelo amigo, dono de um invejável currículo no automobilismo, Lotterer participou ativamente do campeonato da Techeetah, o melhor momento foi sem dúvidas e corrida de Roma em que fez a pole e brigou até quando pode com Mitch Evans, acabou ficando em 2º, mas nos proporcionou uma batalha incrível na Itália. O alemão ainda voltou ao pódio na etapa seguinte em Paris, novamente em 2º. A primeira vitória de Lotterer pode vir na próxima temporada com a Porsche, a outra equipe estreante. Andre terminou o campeonato em 8º lugar com 86 pontos.

O holandês Robin Frijns retornou à Fórmula E na temporada 5 para ser companheiro de Sam Bird que lutou pelo título na temporada 4, apesar de carregar essa grande responsabilidade, Robin não se deixou abater e foi consistente na maior parte do campeonato, teve abandonos – como em Berna, em que mal completou uma volta e se viu em um acidente que pegou quase metade do grid – mas conquistou duas grandes vitórias (Paris e Nova Iorque, corrida dois). No geral, Frijns ficou em 4º lugar com 106 pontos, incrível!

A maior surpresa da temporada foi mesmo Mitch Evans, o neozelandês chegou em Nova Iorque com chances de ser campeão com uma Jaguar que mostrou uma grande evolução ao longo do campeonato. Evans viu seu companheiro de equipe ser substituído – Nelsinho Piquet deu lugar a Alex Lynn – mas conseguiu levar a Jaguar nas costas até a última prova. Venceu em Roma e conseguiu dois segundos lugares (Suíça e Nova Iorque, corrida um), além de ter pontuado em 10 das 13 etapas disputadas. Se a Jaguar conseguir um bom carro para o próximo ano, Evans certamente dará muito trabalho, seu 5º lugar geral com 105 pontos nas costas comprova isso.

lll Os Brasileiros

Quatro brasileiros passaram pela Fórmula E em 2018-19, mas apenas dois fizeram uma temporada completa.

Felipe Nasr ficou na Dragon por apenas três corridas substituindo Max Gunther, na época chegaram a circular boatos de que ele e o britânico revezariam o lugar de companheiro de Jose Maria Lopez, mas devido aos maus resultados de Felipe (um 19º lugar e dois abandonos por acidente), ele e a equipe decidiram que a parceria não funcionaria agora.

Nelson Piquet Jr tinha a missão de fazer a Jaguar se tornar uma das grandes esse ano, mas não foi o que aconteceu. O brasileiro que já teve uma temporada difícil no ano passado – abandonando em quase metade das provas em 2017-18 por problemas no carro – foi demitido após a 6ª corrida do calendário em Sanya.

O estreante Felipe Massa teve como ponto alto o 3º lugar em Mônaco e deve retornar com a Venturi ano que vem.

Lucas di Grassi foi quem mais se destacou, apesar do começo difícil, foi se recuperando ao longo do campeonato, tirou a camisa para comemorar a vitória suada no México, venceu em Berlim e lutou pelo bicampeonato até a última etapa, mas se envolveu em um acidente com o também postulante ao título Mitch Evans e no final ficou com 108 pontos e um terceiro lugar no geral. Um dado impressionante de Lucas é que nas cinco temporadas da Fórmula E, ele nunca ficou fora dos 3 primeiros na classificação final! INCRÍVEL!

Para a temporada 6, circulam rumores de que Sérgio Jimenez – campeão do primeiro Jaguar iPace e-Trophy estaria negociando com a própria Jaguar para ocupar um dos carros ano que vem. E euzinha aqui sempre tenho a esperança de que um dia Augusto Farfus ocupará um dos carros da BMW, será que rola?!

A 6ª temporada da Fórmula E começa dia 22 de novembro com rodada dupla na Arábia Saudita, espero vocês!

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