Zak Brown assumiu a McLaren com o dever de reestruturar a equipe, colocando em ordem as contas e levantar a moral da equipe que desde 2007 não vence um campeonato de pilotos e desde 2012 não vencia uma etapa sequer na Fórmula 1.
A McLaren precisava urgente de um rosto amigável e que agradasse a todos, de fãs a investidores, além é claro, que levasse o time aos pódios, vitórias e títulos, alguém que já tivesse propriedade no assunto.
Daniel Ricciardo seguia descontente na Red Bull, ofuscado pelo jovem talento da equipe Max Verstappen, o piloto australiano em 2017 buscava uma alternativa para se tornar campeão, fazia comparações com Sebastian Vettel que naquela época com a mesma idade já possuía no currículo 4 títulos. Olhando para o quadro geral da categoria os cockpits disponíveis em carros competitivos eram escassos e disputados a tapa. Duas alternativas eram as mais atrativas, Renault e Ferrari, duas equipes apoiadas por montadoras, um alto orçamento e com sentimentos que caminhavam juntos com os de Ricciardo. A McLaren na pessoa de Zak Brown tinha um crush em Ricciardo, porém o australiano fez questão de colocar a equipe inglesa na friend zone.
Ferrari era mais uma aposta dos especialistas, que viam na proximidade da descendência italiana de Ricciardo com a equipe de Maranello, porém foi descartada logo quando o australiano fechou com a Renault. Não nego que na época concordei com a escolha dele, era um projeto ambicioso, trazer novamente a equipe francesa as glórias do passado, porém não vingou.
Renault possuía uma direção engessada por camadas e mais camadas de burocracias e lentidão nas decisões somada a demora de crescimento do projeto que impedia que os pilotos atingissem o seu potencial, Riccardo na época já contava com 7 vitórias. Porém ele não se adaptou tão rápido ao carro, levou tempo, o que gerou a primeira falha no que viria a ser o casamento com a McLaren, eles sabiam que o Ricciardo poderia, em um carro que não o agradasse, demorar a se adaptar.
McLaren por sua vez tentava acertar uma dupla confiável e que lhe rendesse vitórias. Em 2019 seu pupilo subia da F2 para F1, Lando Norris é o nome da aposta da equipe inglesa para chegar aos tempos de glória já há muito tempo ofuscado por péssimas decisões. Porém, Norris é juvenil, não tem maturidade para encabeçar a equipe, que ainda sonhava acordada com o Daniel Ricciardo, contrataram outro jovem talento o espanhol Carlos Sainz. Não sabiam que dessa união provisória iria brotar Carlando, uma das parcerias mais homogenias e simpáticas do grid, em dois anos dessa dupla a equipe criou um novo perfil, jovem e despojado, com talento e audácia, Norris o jovem pupilo sem experiência porém com muita velocidade e Carlos Sainz, jovem contudo com uma vasta experiência que o destacava dos demais pilotos da sua geração.
Daí veio a Ferrari, colocando Vettel de molho, negociou no GP de Abu Dhabi de 2019 o contrato com o jovem espanhol, sem avisar o tetracampeão, que por sua vez só soube que não estaria mais na equipe a partir de 2021 no início da pandemia de 2020.
2021 estava começando o noivado perfeito, para o casamento perfeito que visava a lua de mel perfeita entre Ricciardo e McLaren, o australiano assinou com a equipe inglesa que assim realizada um antigo sonho de Zak Brown que já havia oferecido caminhões de dinheiro ao australiano.
Veio a união, valendo uma apresentação do carro 100% voltada a destacar a chegada de Daniel Ricciardo, Norris em segundo plano. A temporada de 2021 foi um ano complicado para todos, com novas regras para se manter o carro de 2020 ainda no grid e com segurança, assim Pirelli solicitou mudanças para que seus pneus resistissem ao forte crescimento de downforce e exigência que estes carros impunham aos compostos da fornecedora italiana.
Ricciardo seguiu uma temporada inteira com o discurso de adaptação, a McLaren não contestava e sim, até trazia informações que condiziam com o que o australiano passava à equipe e a mídia, porém com as mudanças radicais que os carros iriam sofrer em 2022 por conta das novas regras, havia uma esperança absurda que o novo carro seria de fácil adaptação, bem como, seria um exigência igual a todos pilotos. A cereja do bolo foi a dobradinha da rival histórica da Ferrari em Monza, vitória obtida por Ricciardo na casa do seu maior rival, acendeu um chama ancestral no coração dos fãs da equipe Papaya, que viam que esperar por um ano a adaptação do Riccirado não ia doer em nada.
Porém doeu e muito, para ambos, não podemos negar que 2022 esta sendo uma dor dilacerante, uma dor que gera angustia e atritos, Ricciardo não se adaptou novamente ao carro. Mesmo discurso do piloto e o mesmo discurso da equipe com um carro ineficaz que jogou os seus pilotos em uma armadilha que os testam a cada corrida, porém hoje, Norris soma mais que o triplo de pontos que Ricciardo e possuí um pódio.
Um casamento desastroso, McLaren não entrega um carro que se molde ao seu piloto n.º.: 01, este, não se adapta, não se encontra com o carro.
Não podemos negar que os ânimos se esquentaram, com Zak Brown sendo questionado e respondendo com palavras duras a Ricciardo, porém não se pode negar a frustração de não ver nenhum progresso no seu piloto mais caro, que custou um forte investimento a equipe. A escolha que fez com que a equipe, caísse de 3º para 4º no campeonato em 2021 e hoje vê novamente uma queda de 4º para 5º no Mundial de Construtores na primeira metade do campeonato de 2022, olha se isso não são motivos para se dar uma resposta dura que não é direcionada a fãs ou jornalistas e sim a investidores, patrocinadores e ao próprio piloto, eu não sei quais outros motivos poderiam existir, porém Ricciardo logo respondeu com uma leve provocação em seu capacete no GP de Mônaco de 2022, provocação esta que negou de pés juntos.
Enfim, azedou de vez, Ricciardo não entregou pelo que foi contratado e a McLaren depositou muitas esperanças em seu talento e na sua pilotagem, porém as esperanças da equipe foram excessivas, a resposta desta teria que ter sido no carro, em um carro que se acertasse ao Ricciardo, bem como, este deveria ter buscado com mais afinco a sua posição de piloto n.º.: 1.
Hoje, reza a lenda dos manuscritos mais abusados do achismo que a McLaren para se divorciar de Ricciardo terá que pagar uma bagatela de 21 milhões de dólares. Bom, a exigência do piloto até se justifica uma vez que uma dispensa da equipe inglesa iria gerar um rompimento com uma das mais provável e ultima chance de ser campeão mundial – uma vez que os cockpits das equipes competitivas são escassos, limitados apenas a 6 pilotos, sair da McLaren, para pleitear uma vaga com os contratos de múltiplos anos que as estrelas como Verstappen, Leclerc e Russell possuem seria uma loucura, um despautério sem o menor pingo de lógica e a mesma loucura a ser imposta a Ricciardo deve ser indenizada. Não é uma tarefa fácil, então o jeito era fazer uma amarração para se segurar a McLaren, uma multa de 21 milhões são 21 milhões de motivos para não se quebrar um contrato, acho até justo a previsão de multa punitiva dessas no cenário atual da categoria.
Por sua vez, como dito acima, a equipe despencou de 3º para 5º lugar no Mundial de Construtores em menos de 18 meses, é a perda de uma grana gigantesca, ouso dizer que o volume perdido em dólares se supera aos 21 milhões que Ricciardo, dizem, exigir! Lando Norris cumpri o papel de segundo piloto pontuando como primeiro e recebendo como reserva da equipe, a conta não fecha, somado a um carro malnascido, que vai levar mais de uma temporada para se acertar o cenário não é favorável para se manter a união, uma pena e dói em saber que é verdade.
Hoje no meio das férias do verão europeu o frio já atinge a Austrália como a possibilidade de receber os 21 milhões e ficar sem alinhar no grid em 2023, forçando Ricciardo e a McLaren a entrar em uma disputa silenciosa e oculta por definir quem fica e quem paga, quem recebe e como ficará esse relacionamento até o fim do ano.
Minha opinião, não é mais possível manter esse relacionamento, clima azedo de box não rende pontos, ao contrário, gera atritos, que dificulta a pontuação da McLaren em retomar a 4ª posição do Mundial e de Ricciardo ainda se manter como um nome forte. A melhor solução para ambos e a derrota mútua, Ricciardo recebe o seus 21 milhões de dólares ou um valor que satisfaça a quebra de contrato, que é justo, McLaren possa pagar sem comprometer o seu orçamento e ainda possa disputar de igual para igual com a Alpine o restante do campeonato.
A solução que apontaria e aconselharia era o rompimento com Ricciardo antes do GP da Bélgica e em seu lugar, colocaria um dos pilotos da McLaren, pilotos estes que podem lotar uma Kombi laranja da extinta Telesp. Ricciardo buscaria a vaga da Alpine, este deveria receber auxílio na negociação por parte da McLaren, como dever moral do time de auxiliar o piloto depois de toda o transtorno que gerou. Até se não for agora, o australiano pode tirar um período sabático, quem sabe, uma vaga na Nascar, uma categoria que o Ricciardo ama e poderia assim se reencontrar.
Nesse divórcio, nenhum deles esta errado nem certo, na verdade errados estão os especuladores, aqueles que como eu, uma vez ou outra teceu palavras duras para ambos ser ver o quadro todo, observando apenas a moldura.