No ambiente do automobilismo ainda existem alguns assuntos que são tratados como tabu, demandam muito empenho e força de vontade daqueles que decidem abordar eles. A saúde mental mesmo é algo que muitos fingem não ser necessário abordar. Todos são fortes, se chegaram até ali deveriam ser capazes de aguentar a pressão, mas sabemos que só por ser ‘forçado’, em algum momento as coisas começam a ruir.
O ambiente que o automobilismo se faz presente é de uma competição, a pressão para obter bons resultados está em todos os cantos. Se o piloto não entrega, sempre existe outro que está esperando a sua vez para assumir um assento. Sempre a maior comparação que ocorre, será aquela com o seu companheiro de equipe.
A base também é um ambiente de muita pressão, por mais que o piloto tenha como fazer aquele investimento, fazer parte de uma academia de pilotos, ele ainda precisa derrotar os seus adversários, chamar a atenção em um grid de mais de 20 pilotos e ainda torcer lá na frente para ter uma vaga na Fórmula 1.
Lando Norris vem abordando a saúde mental de várias formas, o piloto da McLaren contou que no seu início na Fórmula 1 teve dificuldade para lidar com toda a pressão do esporte. O piloto buscou ajuda profissional e hoje está lidando melhor com toda essa situação.
“Acho que agora estou muito melhor do que estava há dois ano. E isso me faz curtir tudo mais. Dá para curtir muito mais a vida também”, disse Norris.
“Você não está sempre se preocupado, pensando, entrando em pânico. Então você se sente muito melhor. E acho que quanto mais virmos pessoas falando sobre isso, mas confiança todo mundo terá em buscar ajuda”, completou Norris.
A McLaren fez uma parceria com a Mind, uma organização sem fins lucrativos, que está focada completamente na saúde mental, com o objetivo de ajudar as pessoas que estão tendo dificuldade.
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Toto Wolff que é o chefe de equipe da Mercedes, e hoje muitos acabam vendo-o como a figura mais bem sucedida do paddock, também falou sobre a necessidade que teve de buscar ajuda psicológica profissional. “Tive ótimas experiências com terapia cognitiva-comportamental, por exemplo. É simplesmente fascinante aprender sobre seus pensamentos e como você pode mudar o padrão, mas todos vão sentir e tentar do seu próprio jeito. Eu acho que é importante perceber que somente se nos sentirmos bem, nosso ambiente vai estar bom.”
E todo este assunto, é porque agora as camadas que estão mais na superfície da Fórmula 1 estão se abrindo, falando sobre isso e recomendando que as pessoas que acompanham a categoria também abram a mente para pedir ajuda. No entanto, não é de hoje que os mecânicos e outros funcionários abordam a saúde mental e falam da dificuldade que tem para lidar com a grande quantidade de viagens no ano, o ambiente competitivo e a saudade da família.
Saúde mental não é algo que chegou com a pandemia, mas certamente foi a oportunidade perfeita para falar mais sobre isso, um assunto tão ignorado. Escolho abordar o tema aqui pois na última semana o calendário da F1 foi divulgado contando com 23 etapas, duas rodadas triplas, mas em grande parte corridas sendo realizadas em meio há rodadas duplas.
Depois da votação do Conselho, todos concordam em participar desta expansão da F1, a passagem da categoria por mais países, além da adição de mais uma etapa. A pandemia também foi a oportunidade perfeita para mostrar para a categoria que eles têm a capacidade de com a realização de 17 etapas em seis meses, como foi em 2020, além de um calendário de 22 corridas em 2021. Mas olhando assim, eles realmente estão preocupados com a saúde mental dos envolvidos?
Neste momento, ainda com a pandemia ocorrendo, os times estão mais permissivos, aceitando as rodadas triplas para ter um campeonato “Nesse contexto, obviamente entendemos que deve haver um nível de flexibilidade das equipes, e é por isso que temos que lidar com essas rodadas triplas de vez em quando, com sorte, a pandemia vai acabar em breve. Pois rodadas triplas são o que provavelmente são o que mais sobrecarregam as equipes”, disse Laurent Mekies, diretor de corrida da Ferrari.
No grid alguns times acham que um programa nutricional basto, nunca pensaram sobre a necessidade de ter um programa voltado para a saúde mental dos competidores. Neste mesmo campo, existem chefes de equipe que acreditam que as pessoas deveriam ficar gratas por estar na Fórmula 1 e felizes por um calendário mais expansivo, “se alguém não gosta, deve ir”.
“Sabemos que temos 23 corridas, é fantástico, bom trabalho da F1. Estou ansioso para isso. Em realização às pessoas na pista, em primeiro lugar somos uma equipe, todos deveriam estar contentes por termos o maior número de corridas possível. Também a imprensa, o marketing, todo o pessoal da pista têm três dias depois do fim de semana da corrida”, disse Franz Tost, chefe de equipe da AlphaTauri.
“Os engenheiros são um pouco mais complicados. Mas no passado, eles tiveram que ir depois de um fim de semana de corrida para fazer testes, o que significa que eles também tiveram que trabalhar lá. Acho que todos devemos estar felizes por estar em uma posição na Fórmula 1 e ter 23 corridas. Se alguém não gosta, deve ir.”
Para enfrentar essa quantidade de provas, a Mercedes que tem um poder aquisitivo maior, está pensando em fazer um esquema de rotação de funcionários, com o objetivo de diminuir a pressão. O time também acredita que isso precisa ser algo da F1, fazendo os outros times considerarem esse revezamento obrigatório.
Só que equipes menores, nem sempre tem uma quantidade de funcionários adequada para fazer isso, os membros são sobrecarregados com as suas funções. Um sistema de revezamento não é uma realidade para equipes menores e muita se quer estão pensando em uma forma de melhorar a vida dos funcionários.
Olhando para 23 etapas, mas também na possibilidade da Fórmula 1 expandir ainda mais o seu calendário, certamente a saúde mental de muitos será abalada. Pensamos nos pilotos, mas também na demanda que outras pessoas têm, um calendário com 23 etapas é puxado e exaustivo. Quando mais embaixo se está de uma cadeia, menos privilégios essas pessoas têm, mas também tem menos voz para falar sobre isso.
Jornalistas, pessoas do marketing, produtores de conteúdos menores acabam abrindo a mão de algumas coisas, para viver esse sonho da Fórmula 1. Para todos é complicado, só não é para quem não acha que saúde mental não é uma questão importante.
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