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Uma longa espera: a jornada de Lando Norris rumo à primeira vitória na F1

Depois de alguns erros, Lando Norris se supera e fatura primeira vitória com a McLaren e na Fórmula 1

Lando Norris estreou na Fórmula 1 em 2019 e existia uma expectativa que este piloto que fazia parte da nova geração se tornasse a cara da McLaren. No entanto, o britânico precisava lidar com alguns conflitos internos para evoluir na categoria. O competidor experimentou realmente a jornada do herói, culminando na vitória em Miami, o novo polo de entretenimento da Fórmula 1.

Em seu começo na competição, esteve ao lado de Carlos Sainz. Aqui o britânico recebe o seu chamado para participar da categoria. Um desafio grandioso, ainda mais se juntando a uma equipe que estava em busca da sua própria redenção, depois de vários problemas envolvendo a construção dos carros e a unidade de potência desastrosa da Honda, que comprometeram anos de desenvolvimento da McLaren.

Com Sainz segurando as pontas, Norris começou a ganhar confiança com a equipe. O espanhol fatura o seu primeiro pódio com a equipe no Brasil em 2019, enquanto Norris vai conquistar o seu primeiro pódio, um terceiro lugar, no GP da Áustria de 2020, durante a corrida de abertura do campeonato.

Um competidor que já tinha chegado à marca dos 15 pódios, era marcado pela falta de vitórias. Norris foi apelidado de “Nowis” por esta marca, mas também pelo hábito de cometer erros em momentos decisivos. O GP da Rússia de 2021 foi um marco da sua carreira de uma forma negativa, principalmente em um ano que Daniel Ricciardo tinha vencido na Itália.

Naquela prova Norris experimentou a recusa, decidiu ficar na pista, a chuva começou a cair e o piloto teve a corrida prejudicada. A liderança escapou das mãos do piloto e desde então, muitos até consideravam o britânico um bom competidor, mas um pouco abaixo de outros nomes, por não ter uma vitória. Se tivesse vencido na Rússia, seria um gênio, por tomar a melhor decisão e bater o pé com a equipe, mas ficou estigmatizado pelo erro que se sobressaiu. Ele custou alguns anos difíceis, sendo cobrado constantemente pelo primeiro lugar.

Em Singapura em 2023, o britânico flertou com a vitória, no GP do Catar o mesmo aconteceu, novas recusas pelo caminho. Inclusive, no Catar, Oscar Piastri faturou a sua primeira vitória na F1, mas em uma corrida Sprint. Bastou para que mais uma vez a performance de Norris fosse contestada. Novamente, Norris tinha ao seu lado um companheiro de equipe forte, com muito prestígio na base, tentando construir o seu espaço.

Em 2024, teve a sua participação no pódio do GP da Austrália e o segundo lugar conquistado na China… A prova em Xangai também teve um gosto amargo após a pole na Sprint, marcada por mais um erro do competidor. A vitória estava à espreita, mas faltava um pouco mais para ela se concretizar.

Norris precisou crescer e assumir a responsabilidade quando Carlos Sainz deixou o time ao final de 2020, pois o espanhol era muito responsabilizado pelo desenvolvimento do carro e a condução das escolhas para o seu desenvolvimento. Daniel Ricciardo chega com muito prestígio, por ser um piloto experiente e que tinha algumas vitórias em seu nome, pronto para assumir a liderança da equipe e atuar como o primeiro piloto. Foi neste momento que o britânico mudou a chave e tentou assumir mais responsabilidades, se sobressaiu, por conta do desempenho apresentado pelo australiano que viveu um longo período de adaptação.

Daniel Ricciardo venceu o GP da Itália de 2021 com a McLaren, colocando mais pressão em Lando Norris por não ter uma vitória. Nesta corrida, mesmo com o britânico tendo mais ritmo, a McLaren não autorizou a inversão das posições – Foto: reprodução

Algumas pessoas não têm uma estima por Norris, pelas coisas que ele falou nos últimos anos, mas principalmente por elevar os seus rivais e em alguns momentos ‘esquecer’ que nesta competição é importante não expor as suas fraquezas. Mostrar que tem algum ponto vulnerável, ainda mais sem a primeira vitória, não é algo bem-visto.

Guiar pela McLaren nunca foi fácil, a equipe está passando por uma fase de crescimento, mas desenvolveu carros bem complicados de guiar. Norris por vezes falou que para guiar um novo carro da McLaren, ano após ano, era necessário esquecer o que tinha aprendido, pois os equipamentos mudavam muito. Na introdução dos novos regulamentos, o time penou com algumas escolhas, mas é uma das equipes que a gente consegue ver de forma nítida a evolução, os pontos que foram importantes para a virada da equipe. Os pódios começaram a aparecer com mais frequência, mas para essa “nova” McLaren realmente faltava uma vitória.

Em janeiro, a McLaren deu mais um voto de confiança para Norris, renovando o contrato do piloto, em um novo acordo para além de 2025, uma forma de garantir que ele não fosse para outra equipe, como estava sendo cotado. O britânico se tornou o rosto da McLaren, aquele que tem construído um time ao seu redor, acredita-se que os dois estão rumando para algo mais grandioso como o duelo efetivo por um campeonato. Veremos!

O novo acordo com Norri, acontece pouco tempo depois da McLaren ter pedido Gil de Ferran, o brasileiro tinha voltado a atuar na equipe como consultor. A morte foi sentida por toda a equipe que fez inúmeras homenagens, demonstrou estar desolada e fica claro que ele tinha um papel grandioso na equipe, pois o baque foi grande.

Então caímos na corrida de Miami, uma prova que claramente poderia ser a vitória de número 39 de Max Verstappen, depois de um fim de semana dominado pelo holandês, mas um Safety Car acabou mudando a história.

A McLaren tinha chance de conquistar um pódio com Oscar Piastri, mas a entrada do Safety Car provocou uma reviravolta na corrida – Foto: reprodução McLaren

Primeiro vale lembrar, que a McLaren, como uma equipe que segue preocupada em aperfeiçoar o seu ritmo, seguiu para Miami com um pacote novo de atualizações – o que significa que o carro recebeu um upgrade, mudando o equipamento completamente daquele que o time usou na primeira prova do ano. Lando Norris começou o fim de semana confiante, mas ela foi reduzindo uma parcela de erros.

Na classificação realizada na sexta-feira, era para o piloto ter largado entre os primeiros colocados, mas não conseguiu acertar a ‘volta lançada’ do SQ3, o que colocou o competidor na nona posição para a corrida Sprint. No meio do bolo, Norris se envolveu em um incidente depois da largada, com Fernando Alonso, Lance Stroll e Lewis Hamilton. Os dois britânicos tinham começado a corrida bem, mas pela falta de espaço, se chocaram com os pilotos da Aston Martin. Norris foi o mais prejudicado, pois abandonou a prova.

Uma nova classificação e uma nova oportunidade. A sessão não foi tão espetacular como na sexta-feira, mas Norris começou a corrida ocupando a quinta posição. O piloto teve uma boa reação na largada, mas a trancada de Pérez prejudicou um pouco a sua prova. Oscar Piastri aproveitou as primeiras voltas para brilhar e brigar por um pódio com Charles Leclerc.

A construção da vitória

A vitória de Lando Norris foi dedicada para Gil de Ferran, uma figura presente na equipe – Foto: reprodução McLaren

Norris passou uma boa parte da prova perseguindo Sergio Pérez, no duelo pela quinta posição. Quando Pérez optou por trocar os pneus, Norris começou a desfrutar a pista livre para aumentar o ritmo, mas presando pela conservação dos pneus, alongando a sua permanência na pista.

A prova mudou na volta 29, depois de um acidente entre Kevin Magnussen e Logan Sargeant. O Safety Car pintou na pista e Lando Norris liderada. Neste momento da corrida, Max Verstappen já tinha trocado os pneus, assim como Charles Leclerc, Oscar Piastri e Carlos Sainz – os últimos dois competidores, substituíram os pneus um giro antes do carro de segurança apontar na pista.

Norris precisou dar uma volta completa no circuito até chegar no pit-lane. A McLaren fez um bom trabalho e devolveu o piloto ainda na ponta. A direção de prova fez uma lambança, colocando o carro de segurança à frente de Verstappen. Levaram um pouco mais de tempo para resolver a confusão e permitir que o grid fosse “reorganizado”.

Neste momento a corrida de Verstappen estava prejudicada, o piloto foi um pneu duro de seis voltas, contra Norris que estava com um composto novo. No entanto, o pulo do gato, foi que o holandês não estava se sentindo muito confortável com o ritmo que se deparou ao instalar os compostos duros, além do understeers. Embora o holandês tenha comandado o fim de semana, Verstappen não esteve completamente satisfeito com o carro.

A relargada aconteceu no início do giro 33, Norris comandou o grid, Verstappen tentou avançar, mas rapidamente o britânico encontrou o seu ritmo e começou a se afastar do adversário. Verstappen ainda lidou com Charles Leclerc, mas não voltou a ameaçar Norris.

Nas próximas voltas, o britânico encontrou o seu ritmo e foi avançando volta, atrás de volta, se encaminhando ao final da corrida. Norris cruzou a linha de chegada com 7s6 de vantagem para Verstappen, em um ritmo puro.

O piloto da McLaren conquistou a sua primeira vitória com 24 anos, 5 meses e 22 dias em Miami. Norris se tornou o 114º piloto a obter uma vitória na Fórmula 1, conquistando este feito na semana que completam 30 anos da morte de Ayrton Senna, 128 dias após a morte de Gil de Ferran. Esta é a primeira vitória da McLaren desde o GP da Itália de 2021, aquela prova vencida por Ricciardo.

Voltando a falar sobre Ferran, ele esteve com a equipe em Miami, na prova de 2023, a prova foi um marco para o trabalho que ele voltaria a realizar com a McLaren, enquanto a equipe passava por diversas mudanças internas. A expectativa de Andrea Stella era que a consultoria de Gil durasse ao menos um ano, então ele estaria com a equipe provavelmente até o GP de Miami de 2024, justamente no momento que Norris conquista a sua primeira vitória com a McLaren.

Por mais que Norris fosse cobrado constantemente pela sua primeira vitória, e ele mais do que qualquer crítico sabia o peso dela ainda não ter chegado, também tinha consciência que a McLaren nestes últimos anos teve poucas chances de vencer. Foram períodos marcados pela liderança da Mercedes, mas por uma dominância da Red Bull que teve poucas falhas e quebras. Só poderia ser possível cruzar a linha de chegada na primeira posição se uma brecha surgisse.

Foi exatamente o que aconteceu neste domingo. Verstappen acabou degradando os pneus mais do que era esperado e ficou vulnerável na corrida. O holandês ainda conta com um carro com o desempenho superior, mas em uma corrida marcada pelo calor, além do desgaste dos pneus, a brecha que era necessária surgiu e Norris pode abraçar a chance de faturar a vitória e completar a jornada do herói.

Norris deixou de lado o fantasma da primeira vitória, mas agora tem um trabalho muito mais árduo pela frente, aproveitar mais brechas, seguir liderando o projeto para que a McLaren avance e colocar o time de volta na posição competitiva.

A McLaren dedicou a vitória para Gil de Ferran, enquanto Norris para a sua avó.

Estava na hora! Que corrida. Demorou muito para chegar, mas finalmente consegui fazer isso. Estou tão feliz por toda a minha equipe que finalmente consegui entregar para eles. Um dia longo, uma corrida difícil, mas finalmente cheguei ao topo, então estou nas nuvens”, comentou Lando Norris ao faturar a primeira vitória com a McLaren.

Todo o fim de semana foi bom, só tive alguns pequenos contratempos ao longo do caminho. Eu sabia que na sexta-feira tínhamos ritmo, apenas alguns erros aqui e ali, mas hoje conseguimos acertar. Montamos a estratégia perfeita [juntos], tudo valeu a pena. Obrigado à McLaren a todos, e tenho que agradecer à minha mãe e ao meu pai, é claro.”

 

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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