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ANÁLISE – Quais os motivos da disparidade de desempenho dos pilotos da Mercedes

A Mercedes é o centro das atenções nesta temporada, principalmente por conta das performances que não são nada satisfatórias, afinal, o time alemão é uma equipe de alto desempenho.

George Russell e Lewis Hamilton foram questionados sobre os seus papeis no time, como eles estão colaborando com a equipe neste momento em que tantas incertezas pairam sobre a Mercedes. No duelo interno, Hamilton foi superado três vezes pelo seu companheiro de equipe, mas a realidade é que eles têm focos diferentes neste começo de temporada.

Quando olhamos para o resultado do GP da Emilia-Romagna vemos Lewis Hamilton terminando a prova em um discreto 13º lugar, enquanto seu jovem companheiro de equipe obteve um 4º lugar. Aos críticos que já estão esbravejando sobre o desempenho de Hamilton, é fácil fazer ‘análises’ sem sentido e encontrar os mais variados argumentos para afirmar que ele só venceu ‘por conta dos  seus últimos carros’. Um bom piloto depende sim de um bom carro, mas um piloto que foi sete vezes campeão, não foi feito apenas de um carro.

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A Mercedes segue tentando buscar uma forma de entregar um bom carro para os seus dois pilotos – Foto: reprodução Mercedes / Daimler

A Mercedes está confiando em Hamilton para realizar o desenvolvimento deste carro. O time foi ousado quando elaborou o seu projeto. Além disso, os resultados obtidos por George Russell até aqui, não são um reflexo verdadeiro do desempenho do time.

Como dois pilotos podem ter um desempenho tão distinto em um mesmo fim de semana? Em Ímola os dois pilotos fizeram uma classificação ruim na sexta-feira. Durante a prova Sprint, o desempenho foi igualmente complicado. Geralmente em dias de chuva, os carros que têm alguns problemas, costumam ter o seu desempenho nivelado e oportunidades surgem. A Mercedes na realidade foi bem prejudicada com as bandeiras vermelhas. O time identificou que precisa de mais tempo em pista para atingir a temperatura ideal dos pneus, realizando um stint mais longo para preparar os compostos. Algo que com as diversas bandeiras vermelhas, não foi possível obter.

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É ruim falar sobre sorte, mas quantas vezes não vimos alguns pilotos tendo um pouco mais de sorte que outros? A própria instabilidade climática acaba gerando uma loteria. Precisamos levar em consideração que a Mercedes neste ano errou no pit-stop de Hamilton ao menos duas vezes. Ao mesmo tempo que acertou quando parar com George Russell, chamando o piloto para uma troca de pneus durante um Safety Car. Na Austrália Hamilton ficou vendido, pelo erro da própria equipe. Ele não sabia se deveria buscar o companheiro de equipe e tentar uma ultrapassagem para chegar ao pódio, ou cruzar a linha de chegada na 4ª posição e assumir o erro do time. Ele então aceitou a sua posição.

George Russell foi ao pódio no GP da Austrália, pois a Mercedes se aproveitou do abandono de Max Verstappen e o piloto britânico estavam em um bom ponto da pista quando o Safety Car foi ativo – Foto: reprodução Mercedes / Daimler

A memória pode ser falha, mas como um piloto que dominou várias corridas, trabalhou com o time discutindo estratégias, venceu uma prova com três rodas, simplesmente não sabe mais guiar um carro e perdeu as suas habilidades de uma temporada para outra? Realmente, você é bom até o seu último resultado.

A sorte pode distorcer a realidade. Alguns costumam só olhar para as posições, mas o ritmo de corrida de Hamilton foi impressionante em Ímola. O piloto apostou em uma largada mais conservadora, evitando possíveis confusões que sempre acontecem em piso molhado. Ao longo da prova ele buscou um resultado melhor, mas ficou preso atrás de Pierre Gasly, depois da troca de pneus. Quando os pilotos instalaram os compostos de pista seca, ficaram limitados para andar em um trilho seco, pois se esse tipo de composto passa pelo traçado que está úmido, é muito fácil perder o controle do carro e estampar o muro.

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Russell pode sim levar créditos por ter se saído melhor, quando a Mercedes enfrentou alguma situação mais complicada, mas isso não invalida os esforços que Hamilton tem feito pelo time.

Como na Fórmula 1 os carros são diferentes, mesmo seguindo um mesmo regulamento técnico, é permitido que mesmo carros do mesmo time, trabalhem de formas diferentes no fim de semana. A produção de peças na F1 é algo extremamente caro, lidando um teto orçamentário, as equipes precisam realizar algumas escolhas. É natural produzir um conjunto de atualizações para apenas um dos carros, ver se aquelas novas peças vão funcionar como é o esperado (depois do que foi avaliado no túnel de vento) e após um feedback, fazer o mesmo conjunto de peças para o outro carro.

Em Ímola a Alpine fez exatamente isso, eles apareceram com um pacote de atualizações para testar no carro de Fernando Alonso. Novamente vimos uma disparidade de desempenho entre o espanhol e Esteban Ocon. O piloto francês deve receber o mesmo conjunto de peças para o GP de Miami.

A Mercedes escolheu Hamilton para andar com alguns sensores que foram acoplados em seu carro para coletar dados na Austrália. Esses sensores aumentam cerca de 1,5 kg, em um momento em que os times estão tentando reduzir peso (tirando vários centímetros de tinta das suas pinturas), a Mercedes escolheu sacrificar o desempenho de um dos seus carros, em nome da coleta de dados. O time alemão optou por compreender o carro melhor, justamente para explorar da melhor forma a produção do novo pacote de atualizações que será introduzido em Barcelona.

Alguns se questionam sobre essas escolhas, qual seria o motivo para a Mercedes dar preferência para Hamilton, sendo que de certa forma eles estão prejudicando os resultados do piloto. É simples, geralmente as atualizações e os testes, quem realiza é o primeiro piloto, ou aquele competidor que tem mais experiência. De forma alguma o time está menosprezando o conhecimento de Russell, mas Hamilton está com a equipe desde que o time começou a se preparar para a nova era da Fórmula 1. Ele acompanhou todo o nascimento deste carro, a equipe já tem um cronograma de atualizações. Assim, acabam escolhendo aquele que vai encabeçar as mudanças.

Os pilotos da Mercedes tiveram um fim de semana bem conturbado. Russell salvou um P4 para a equipe – Foto: reprodução Mercedes/Daimler

É incrível se esquecerem de um dado como esse, quando em outros vários momentos, não compreendiam o fato de Max Verstappen e Sergio Pérez usarem peças diferentes em seus carros. A Mercedes tem um problema muito mais sério para resolver, a questão dos pulos está afetando diretamente o seu desempenho em pista.

A Mercedes também não abrirá a mão deste campeonato, acabamos de passar pela 4ª corrida do ano, ainda existe todo um campeonato pela frente. Conhecer esse equipamento e pensar em possíveis soluções para este ano, também podem mudar a performance do time em 2023. A Mercedes conseguiu fazer muito até agora, apenas realizando ajustes de configuração em seu carro. Não é melhor equipamento do time, mas eles estão tentando e vão continuar desta forma, porque acreditam no potencial do seu projeto e também na equipe que formaram.

Russell sempre foi uma referência de trabalho na Williams, mas ele passou um tempo ao lado de Robert Kubica para aprender. Depois naturalmente assumiu a frente da equipe com a chegada de Nicolas Latifi. Russell é um piloto extremamente rápido e técnico, mas como ele mesmo disse, ele e Hamilton estão em um momento da carreira completamente diferente, não tem nenhum motivo para ele gerar um atrito dentro da equipe e assumir o papel de liderança, neste momento em que o britânico está conhecendo o time e apreendendo.

Não existe nenhuma necessidade de criar intriga entre os pilotos, principalmente quando a maior preocupação da Mercedes é resolver o desempenho do seu carro e conseguir brigar por posições melhores no grid – Foto: reprodução Mercedes / Daimler

Enquanto a Mercedes aposta em configurações diferenciadas no carro de Hamilton, no de Russell o time está seguindo configurações mais seguras. Precisamos lembrar que Hamilton agora está guiando um carro problemático, mas ainda busca bons resultados. Russell está no melhor carro que já viu na vida, mesmo diante das dificuldades, as motivações e responsabilidades desses dois pilotos são completamente diferentes agora.

Parece que a McLaren se colocou de volta nos trilhos, mas Lando Norris tinha mencionado que ao primeiro sinal de problemas, as coisas ficaram desequilibradas dentro do time, a falta de motivação, a quantidade de problemas e variações deixavam o clima muito pesado. Imagina o clima dentro de uma equipe que não está acostumada a perder.

Neste momento atribuir culpa aos pilotos é bem injusto, principalmente quando os representantes da Mercedes falaram por diversas vezes que estão buscando alguma solução para o carro. Toto Wolff mesmo entrou no carro de Hamilton para pedir desculpas após o desempenho em Ímola. Falar que Hamilton está desmotivado, ou até mesmo dizer que Russell está sendo privilegiado no time, é uma narrativa extremamente seduzente, vende, principalmente quando as pessoas não querem fazer pesquisas ou chegar ao final de um texto mais longo.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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