A Fórmula 1 estará no Circuito do Sakhir entre os dias 26 e 28 de fevereiro, para os testes de pré-temporada. Em cada um dos dias as equipes contam com 9 horas de atividade, divididas em duas sessões – uma que ocorre pela manhã e outra a tarde.
A quantidade de dia de testes é definida de acordo com as necessidades da categoria e as novidades que serão apresentadas pela competição. Este ano seguindo com o congelamento dos motores, e os carros são uma extensão do desenvolvimento dos regulamentos de 2022, portanto, foram disponibilizados três dias para as verificações dos equipamentos.
O mais interessante, é que a prova do Bahrein, não será a primeira corrida do campeonato, desta forma, os times têm uma folga entre os testes de pré-temporada e a primeira corrida do ano – que acontece na Austrália, entre os dias 14 e 16 de março.
Desta forma eles conseguem retornar para a fábrica, analisar os dados e se preparar de uma melhor forma para o campeonato.
Com pouco tempo de testes, é natural que as equipes priorizem os pilotos titulares, que contam com um 1 dia e meio, cada, para a coleta de dados.
Diferente de 2024, o grid mudou bastante, a Fórmula 1 terá mais pilotos novatos neste ano, são eles: Andrea Kimi Antonelli (Mercedes), Liam Lawson (Red Bull) Gabriel Bortoleto (Sauber), Oliver Bearman (Haas), Isack Hadjar (Racing Bulls), Jack Doohan (Alpine) – que precisam desse contato com o carro, para se preparar para o restante do campeonato.
Também tivemos alguns pilotos trocando de equipe, Carlos Sainz foi para a Williams, enquanto Lewis Hamilton deixou a Mercedes para defender a Ferrari. Esteban Ocon assumiu uma posição na Haas, enquanto Nico Hülkenberg está na Sauber, essas mudanças são importantes, pois são pilotos que estão em fase de adaptação aos seus novos times.
Hamilton é o piloto que mais será observado nessa pré-temporada, já que é a primeira vez do heptacampeão mundial guiando com um carro que não tem motor Mercedes. O britânico precisa conhecer os macetes do novo motor, ao passo que a equipe fez grandes mudanças para o carro de 2025 e precisa ter o máximo de dados para trabalhar no SF-25.
A narrativa é semelhante com Carlos Sainz, embora o piloto seja visto como um competidor que se adapta fácil aos novos times que representa, Sainz nunca usou motores Mercedes e já percebeu uma grande diferença entre os motores Ferrari.
A Red Bull não venceu o Mundial de Construtores, pois o carro perdeu muita performance ao longo do campeonato. Max Verstappen faz o possível para se adaptar rapidamente as demandas do time, mas ninguém sabe como o RB21 se comportará. A equipe ainda tem o desafio de treinar Liam Lawson e compreender de uma melhor forma como é o seu trabalho, para que eles busquem juntos o máximo de pontos em 2025, não deixando a situação que foi com Sergio Pérez se repetir.
A pré-temporada tem várias facetas, que são importantes de serem observadas, vão muito além do tempo de volta. Para as equipes, o que mais interessa é a quilometragem obtida, entender quando os equipamentos podem ter uma falha e evitar perder muitas horas nos boxes, por um problema difícil de solucionar. Eles só vão conseguir dados, se o equipamento estiver em pista.
Os tempos de volta não interessam muito, pois cada uma das equipes define um programa para os seus pilotos, eles vão trabalhar com diferentes níveis de combustível, além de estar na pista ao mesmo momento, com pneus completamente opostos. Desta forma, por mais que seja lembrado quem terminou na frente, existem dados que são bem mais relevantes.
Os testes de simulação de corrida, são muito trabalhados pelas equipes, geralmente o ritmo de classificação ocorre mais próximo do fim do dia, dependendo de como as equipes fizeram a divisão para o uso do carro entre os seus pilotos.
As equipes estão limitados a trabalhar com apenas um carro em pista, esse equipamento é compartilhado entre os pilotos que realizarão os testes.
Algumas equipes preferem ter os dois pilotos em pista, todos os dias dos testes de pré-temporada. Mas essa não é uma regra, já que algumas dividem apenas um dia, e preferem se dedicar exclusivamente ao piloto A e B em dias alternados.
Os testes com os motores também são bem necessários de serem executados, ainda que a categoria esteja vivendo um período de congelamento dos motores. Adquirir quilometragem com o equipamento pode apontar as falhas de algumas peças e o nível de estresse que é necessário até a próxima troca. Isso será um ponto bem interessante neste ano, ainda mais com mais uma temporada contando com 24 corridas.
Nos testes com o combustível, não é apenas avaliado o comportamento do carro em uma volta rápida, mas é necessário avaliar se as bombas de combustível são capazes de coletar todo o combustível do tanque durante uma volta de classificação em que o carro é liberado para a pista mais leve.
As equipes vão para o circuito para fazer uma verificação completa dos carros. Nestas saídas dos boxes eles vão analisar os componentes do carro e todas as alterações que foram realizadas no projeto. A atividade é usada principalmente para identificar a confiabilidade do equipamento, portanto a quilometragem é a parte mais importante destas sessões.
É na pré-temporada que as equipes esperam lidar com problemas e até mesmo perder algumas horas com os carros nos boxes, mas com apenas três dias de atividade, o ideal é que o equipamento esteja rodando o máximo possível. As atribulações na pré-temporada colaboram para a equipe trabalhar em soluções para o equipamento e projetar o desempenho do carro para algumas pistas do calendário.
Com esse trabalho eles já podem pensar nos pacotes de atualizações para os seus carros, compreendendo o que vale mais a pena investir – e que poderá resultar na conquista de pontos.
Durante os testes os times conseguem identificar os pontos fortes e fracos do projeto, desta forma fica um pouco mais fácil de compreender em quais corridas o time poderá extrair mais do carro e buscar pontos e até pódios.
Depois de todo o período rodando o carro no túnel de vento e CFD, eles precisam verificar se o que deu certo no simulador, realmente funciona na pista, este é um momento delicado para todos os times, foi exatamente na pista que as equipes descobriram o porpoising e o bouncing.
O que o público deve ver durante a pré-temporada?
Primeiro de tudo o público pode se atentar em quantas voltas foram completadas por cada uma das equipes ao longo dos três dias de evento. Aqueles que conseguirem permanecer mais tempo com o carro em pista já tem uma certa vantagem, pois é um indicativo que cumpriram o cronograma e fizeram uma avaliação mais completa.
Os times que passarem por quebra ao longo da sessão, o mais interessante é verificar se eles vão conseguir retornar para a pista e qual foi o tempo perdido nos boxes. Isso pode afetar muito a coleta de dados e é um ponto que eles acabam comentando após o encerramento da pré-temporada.
Na pista: os carros serão enviados para o traçado com grades e tinta espalhada pela carenagem, tudo isso é usado para compreender a atuação do fluxo de ar nos carros e comparar os dados que foram obtidos por meio dos túneis de vento ou obtidos por meio da Dinâmica de Fluidos Computacional (CFD), com os dados coletados na pista.
O aero rakes é uma grelha que pode ser montada e presa em diversas partes do carro. Nela, existem muitos tubos presos em várias direções no carro que vão capitar o fluxo de ar naquela região/peça escolhida para a análise. Esse mapeamento aerodinâmico é importante, pois é com ele que as equipes podem compreender erros que aconteceram durante a modelagem e evitar desperdiçar tempo na produção de peças ou em um conceito ruim que era avaliado na fábrica.

Vários sensores são usados nos carros para fazer o monitoramento, muitos que se quer são vistos pela TV, mas também são importantes para fazer verificações de temperatura e comportamento das peças.
Os times também vão trabalhar com o flow-vis, aquela tinta espessa que é espalhada em várias partes do carro. Ela também serve para identificar a passagem do ar pelas peças que estão sendo avaliadas. As equipes tomam o maior cuidado quando os carros estão voltando para os boxes, tentando evitar que outras equipes façam registro e suas peças se tornem alvo de estudo.
Uma camada desta tinta pode ser espalhada em diversas áreas do carro e conforme o competidor completar algumas voltas, eles conseguem compreender melhor o comportamento do fluxo de ar naquela peça ou em uma área maior do carro.
Ainda que ninguém saiba a posição do adversário em pista, existem fotógrafos espalhados pela pista tirando foto dos carros dos concorrentes. Essas fotos servem de material de estudo para as equipes e até pode dar uma ideia do trabalhar em seu modelo. Nas últimas duas temporadas várias equipes tomaram o maior cuidado quando os seus carros precisavam ser içados pelas gruas, para que ninguém gerasse imagens dos assoalhos – peça extremamente importante nos carros com efeito-solo.
Tempo de volta e quilometragem
Os tempos de volta são o que ‘menos importam’ durante a pré-temporada quando estão tentando realizar comparativos entre as equipes. O motivo é aquele já mencionado anteriormente, cada equipe está realizado uma avaliação em pista e elas podem ser iguais ou extremamente diferentes – porém essa parte não é revelada. Mesmo deixando os boxes com o mesmo tipo de pneus, os carros podem estar com diferentes cargas de combustível, peso adicional por conta de sensores ou operando o motor de formas distintas.
É claro que conforme a pista vai ganhando mais emborrachamento e a temperatura sofre alterações ao longo do dia, os tempos podem decair na tabela de tempos. No último dia de atividades, mais para o final da sessão é quando os pilotos costumam arriscar mais voltas rápidas pelo traçado.
A simulação de corrida dá uma base um pouco maior para aqueles que acompanham os testes de pré-temporada por fora. Desta forma não se assuste, é normal terminar o dia com várias voltas completadas no traçado, pois elas vão mostrar a confiabilidade dos carros e mostram que pelo time ter passado mais tempo no traçado, conseguiu avaliar mais elementos de sua lista de verificações.
Palavras muito faladas na pré-temporada
Pista verde: quando falta aderência na pista e observamos os pilotos escapando do que é considerado o traçado ideal.
Aero rakes: são os dispositivos de medição de fluxo de ar, usados em vários tamanhos, para analisar determinadas partes do carro.
Ar sujo: aquele ar turbulento criado sempre que existe um outro carro à frente. Na pré-temporada os times precisam fazer as suas verificações individuais, mas é importante “perseguir” outros carros, para compreender o comportamento do seu equipamento quando ele está em ar-sujo. Isso muda completamente o consumo dos pneus e aquecimento do carro.
Flow-Vis: é aquela tinta fosforescente, geralmente trabalhada em verde-limão (mas existem outras cores), que também são usadas para ter uma visualização clara da passagem de ar pela carroceria do carro.
Volta de instalação: primeira saída dos pilotos dos boxes, apenas para ver se os sistemas estão operacionais. É feita logo na abertura da pista ou se o carro apresenta um problema – e depois de ficar um tempo parado nos boxes – será liberado para o traçado outra vez.
Correlação de dados: verificar se o que foi obtido nos simuladores, durante a criação dos carros, é compatível com os dados gerados em pista.
Simulação de classificação: geralmente é feita quando os carros estão com um baixo nível de combustível e com os pneus macios. Eles liberam tudo para obter o melhor tempo de volta. No entanto, nos últimos anos, as equipes até querem deixar uma boa impressão, mas não mostram tudo nos testes.
Simulação de corrida: são os diferentes programas executados pelas equipes, com vários níveis de combustível e pneus diferentes. Geralmente esse programa é o mais executado pelas equipes na pré-temporada e são divididos em stints, para analisar o carro em uma quantidade de voltas, com um tipo de pneu e nível de combustível, que dará mais dados sobre a performance dos carros.
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