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O uso de pinturas camufladas na Fórmula 1: estratégia, mistério e marketing

Para que servem e qual o motivo das equipes apostarem em pinturas especiais ou camufladas na pré-temporada?

Nesta semana, algumas pessoas se perguntaram o motivo da McLaren levar o MCL39 para o Circuito de Silverstone com uma pintura camuflada.

Em outras temporadas, algumas equipes apostaram em algo semelhante, para esconder alguns dados do carro, até o início do campeonato.

Durante a pré-temporada da Fórmula 1, as equipes buscam equilibrar a criação de expectativa com a necessidade de proteger segredos técnicos. É por isso que, em shakedowns e testes iniciais, algumas equipes optam por usar pinturas camufladas em seus carros. Esse recurso não é apenas um truque visual, mas uma estratégia que mescla desempenho, sigilo e marketing.

A McLaren apareceu em Silverstone com uma pintura camuflada, o que esconde essas escolhas? – Foto: divulgação McLaren

A técnica é muito usada na indústria automotiva, principalmente quando uma montadora está para lançar uma nova versão de um carro, ou apresentar um novo modelo no mercado. Eles não querem nem que seus potenciais compradores desistam de investir em um carro da linha passada, porque outro modelo vai sair; e pensando na concorrência, eles não querem que o design seja copiado por outra montadora, antes do seu lançamento oficial.

O que é a camuflagem na F1?

Na F1, esse princípio é aplicado para dificultar a análise de detalhes aerodinâmicos e mudanças no design do carro, evitando que rivais decifrem possíveis inovações antes do início da temporada.

Proteção contra análises rivais

As equipes de Fórmula 1 investem milhões no desenvolvimento aerodinâmico, e qualquer informação visual pode ser usada para engenharia reversa por adversários.

Um carro sem pintura ou com cores da temporada anterior facilitaria comparações diretas, permitindo que especialistas identificassem mudanças no conceito do carro. O uso de pinturas camufladas, muitas vezes em padrões geométricos complexos, confunde essa análise, dificultando enxergar detalhes técnicos.

“Nós apenas tentamos nos divertir com isso, queríamos ser disruptivos”, diz o diretor criativo Ed Sullivan. “Mas, essencialmente, é um invólucro baseado em desempenho para esconder as formas do carro.”

“É o que eles chamam de camuflagem disruptiva”, acrescenta o especialista sênior em design Simon Dibley. “A camuflagem Dazzle remonta à Primeira e Segunda Guerras Mundiais, quando era usada como esquema de pintura em navios pela marinha porque dificultava julgar sua velocidade, tamanho e em que direção estavam indo. Uma forma disso foi adotada pela F1 como uma maneira de mascarar elementos do design de um carro.

MCL39 com pintura camuflada – Foto: divulgação McLaren

Quando são registradas fotos de carros com pinturas camufladas, fica mais difícil de delimitar os contornos do equipamento e entender a linha de raciocínio que aquele time seguiu, a partir do regulamento definido para o campeonato. Também dificulta a comparação com os modelos usados nas temporadas passadas.

As equipes durante a pré-temporada, enquanto analisam os seus designs, também realizam comparações com os carros dos rivais. Os fotógrafos em pista podem fazer vários registros de partes importantes, que depois são analisadas por engenheiros, que por sua vez, vão compreender o motivo que os levou para aquela direção.

Essas diferentes interpretações do regulamento, também colaboram para que algumas equipes questionem se aquela solução encontrada é válida, abrindo protestos e tentando barrar o desenvolvendo dos rivais.

Ed e Simon da McLaren, trabalharam em conjunto com as equipes de design de veículos e aerodinâmica para o design da pintura camuflada, alinhando quais áreas eram mais sensíveis no projeto e a melhor maneira de escondê-las.

Desenvolver essa pintura não é o único ponto deste processo, também é necessário verificar se o vinil preparado na impressão não vai impactar no desempenho do carro.

O design da pintura camuflada é pensada individualmente para a asa traseira, dianteira, bico e outros componentes. Mesmo para o corpo do carro, essa pintura não pode ser simétrica, para esconder o trabalho aerodinâmico ainda mais.

Marketing e engajamento com os fãs

Além do fator técnico, a camuflagem também é uma poderosa ferramenta de marketing. Equipes como a McLaren, que recentemente usou um esquema camuflado no shakedown do MCL39, aproveitam esse mistério para gerar engajamento e expectativa antes da revelação oficial do carro.

Em alguns momentos, essas pinturas camufladas, foram produzidas em parceria com seus patrocinadores, até para dar destaque a uma marca, já que no shakedown é uma oportunidade de as equipes realizarem algumas imagens dos carros e pilotos, para divulgação.

Com essas breves imagens registradas e compartilhadas, não deixam os seus designs tão óbvios para quem interessa.

A abordagem cria uma conexão maior com os fãs, que passam a especular e debater sobre as possíveis novidades antes da apresentação oficial da pintura definitiva.

Podem ter alguns easter eggs nessas pinturas?

Como mencionado, quando algumas pinturas são feitas em parceria com patrocinadores, é comum usar o nome da marca para formar os padrões geométricos.

No MLC39, a McLaren escondeu nela o nome do carro (MCL39), assim como o número dos dois pilotos, além de alguns detalhes sobre a equipe ter vitórias que formam a Tríplice Coroa do Automobilismo.

Detalhes da pintura camuflada da McLaren usada no MCL39 – Foto: divulgação McLaren

Essa combinação reforça a importância da pré-temporada não apenas para o desempenho nas pistas, mas também para a construção da identidade e da narrativa de cada equipe ao longo do ano.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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