Em 1992, as Williams estavam com tudo. Ao chegar na décima das 16 etapas previstas para o campeonato, Nigel Mansell já contava sete vitórias e 76 pontos, enquanto seu companheiro de equipe Ricardo Patrese vinha em um distante segundo lugar com 40, em uma época que receber a bandeirada por primeiro valia nove pontos. O terceiro na tábua de classificação era Schumacher, com 29 graças à sua regularidade, depois vinham Berger que havia vencido no Canadá, com 20, e Senna que abiscoitara mais uma vitória em Mônaco (mas tinha abandonado 6 das 9 provas do ano), com 18.

Os pilotos da McLaren vinham sofrendo muito com o carro, pouco competitivo, muito graças ao motor Honda que não entregava toda a potência necessária (e a história costuma ser cíclica mesmo).
Para os alemães, o clima era de festa. Depois de uma década de 80 com muita tensão política e nenhum piloto da casa entre os primeiros, eles comemoravam uma reunificação recente e uma chance real de pódio com Michael Schumacher, a nova sensação germânica. Por isso, naquele domingo dia 26 de julho de 1992, o autódromo de Hockenheimring estava lotado de espectadores.
Na classificação, nenhuma surpresa: dobradinha da Williams com Mansell e Patrese na primeira fila, e da McLaren com Senna e Berger na segunda. Na quinta posição partia a Ferrari de Jean Alesi, com Schumacher e sua Benetton fechando a terceira linha.

Na largada, os carros do lado par tracionaram melhor: Patrese e Berger pularam à frente de seus companheiros de equipe, enquanto Schumacher garantia uma quinta colocação. Mas antes de se completar a volta inaugural, os primeiros pilotos retomaram seus postos, mantendo o 1-2-3-4 do grid.
Os carros ingleses de Grove começaram a abrir vantagem para os de Woking e tudo indicava uma corrida flat, até que Mansell e Berger pararam na volta 14 para reabastecer e trocar pneus. O inglês voltou em terceiro e Berger teve problemas no pit, abandonou a corrida logo depois e deixou o quarto posto como herança para Schumacher.
Senna estava logo à frente do Leão quando este retornou com tanque cheio e pneus novos e sabia que sua única chance de terminar entre os primeiros era não parando (naquela época a ida aos boxes não era obrigatória). Mas a Williams era muito melhor e o Bigode não queria perder tempo. Foi então que começou A Grande Defesa, parte I. Durante algumas voltas, Mansell só desgrudava o bico do carro da caixa de câmbio da McLaren para botar de lado, porém o brasileiro transformou seu veículo em uma espécie de Aston Martin de James Bond e deixou o carro dois metros mais largo para cada lado, não permitindo o menor espaço para que quem vinha atrás pudesse tentar alguma coisa. Ele estava em toda a extensão da pista e Mansell começava a se irritar. Tanto que, em determinado momento, perdeu a freada para a primeira perna da chicane OstKurve e passou reto. Mas o espaço era curto e ele retornou à pista ainda embutido no carro da frente, finalmente conseguindo um vácuo e a ultrapassagem alguns metros depois. Senna reclamou com jornalistas após a corrida, dizendo que ele esperava ao menos uma punição de 10 segundos, pois o inglês teria tirado vantagem do caminho reto que utilizou. A FIA não concordou com o piloto.
Na volta 19, quem para é Patrese, voltando em quarto (Schumacher também tinha decidido ir até o fim sem botar gasolina). O italiano só conseguiu ultrapassar a Benetton na volta 32. Faltavam 13 para o fim e Senna tinha uma vantagem de seis segundos, que foi destruída em apenas três voltas pela superioridade da Williams. E então começou A Grande Defesa, parte II.

Por 10 voltas, Patrese estava tão perto que conseguia sentir o cheiro do perfume Tsar de Van Cleef & Arpels que Senna usava (sim, é claro que eu procurei no Google que perfume ele gostava. E não estou ganhando nada com o jabá). Mas, da mesma forma que aquelas quatro pessoas voltam lentamente para o trabalho após o almoço, andando lado a lado e ocupando a calçada inteira quando você está com pressa, o brasileiro novamente bloqueou inteiramente a pista, não dando a menor chance para o italiano. Patrese tentou durante todas as dez voltas, até que, a quatro curvas do fim, em uma última e desesperada jogada, acabou pisando na terra e perdeu o controle do carro, rodando para fora da pista e ficando atolado no gramado.

Mansell venceu e ampliou ainda mais sua vantagem (seria campeão na corrida seguinte, na Hungria); Senna, mesmo não tendo feito nenhuma ultrapassagem, à exceção do lugar recuperado de Berger no começo, fez uma das melhores provas de sua carreira, mostrando que o pessoal do basquete e do futebol americano estão certos quando exaltam tanto suas capacidades defensivas. E Schumacher herdou um terceiro lugar que deixou a torcida presente em estado de festa, levando a bandeira alemã para o pódio, a primeira vez que fazia isto em casa e a primeira vez de um piloto alemão no seu país natal desde Hans-Joachim Stuck, com uma Brabham em terceiro lugar no Grande Prêmio da Alemanha de 1977.
lll FORA DAS PISTAS
São aniversariantes do dia o escritor, filósofo e mutcho loco Aldous Huxley, que escreveu Admirável Mundo Novo (leiam, vale muito a pena), Blake Edwards, diretor americano responsável por Bonequinha de Luxo e pela série da Pantera Cor de Rosa, com Peter Sellers (assistam, vale muito a pena), Stanley Kubrick (só vou citar aqui 2001, O Iluminado e Nascido Para Matar – e é ÓBVIO que você deve assistir DE NOVO estes três filmes), Roger Taylor, o baterista do Queen, Daniel Negreanu, canadense que é um dos melhores jogadores profissionais de poker do mundo e as belas morenas Sandra Bullock e Kate Beckinsale.
E, numa data tão recheada de famosos, quem ganha o destaque é o Senhor do Olho Gordo, Sir Pé Frio e Fernando Campos oficial da Inglaterra, mister Michael Philip “Mick” Jagger, que está há quase 60 anos mudando o rock and roll e botando a gente para dançar.