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Reunião se desdobra por horas, mas decisão permanece: vamos correr

Após as equipes de Fórmula 1 concordarem em unanimidade com a realização do Grande Prêmio da Arábia Saudita, os pilotos também discutiram sobre o andamento da prova. O CEO da Fórmula 1, Stephano Domenicali e Diretor Esportivo, Ross Brawn foram convocados para a reunião dos pilotos.

A conversa se iniciou instantes após a segunda reunião do dia ser finalizada. Nela a FIA com o presidente Muhammed Ben Sulayem e Domenicali conversaram com os times que decidiram em unanimidade dar prosseguimento ao evento. Sinalizaram então que aqueles que decidissem não correr poderiam não participar da prova.

A reunião dos pilotos se estendeu por mais de quatro horas, após a saída de Domenicali e Brown, os chefes de equipe dos times foram convocados e mais conversas ocorreram.

O comunicado da F1 e FIA só foi publicado horas depois, reforçando mais uma vez que a prova será realizada. “F1 e FIA confirmam que após discutir com todas as equipes e pilotos, o Grande Prêmio da Arábia Saudita continuará conforme programado. Após o incidente amplamente divulgado que ocorreu em Jeddah na sexta-feira, houve uma grande discussão entre todas as partes interessadas, as autoridades do governo saudita e as agências de segurança deram garantias completas e detalhadas de que o evento é seguro”, informaram através de comunicado.

“Foi acordado com todas as partes interessadas manter um diálogo claro e aberto durante todo o evento e para o futuro.”

A reunião dos pilotos foi longa e contou com a participação dos chefes de equipe e dirigentes da categoria – Foto: reprodução

Uma matéria publicada pela BBC horas depois informa que durante a reunião os pilotos teriam recebido algumas informações adicionais sobre a realização da prova. Existiam alguns pilotos inclinados a não participar do evento, mas a matéria aponta que provavelmente receberam algum tipo de pressão para permanecer no país.

“Parte dessas informações envolvia as possíveis consequências de não correr, como a facilidade com que equipes e pilotos poderiam deixar o país se a corrida não acontecesse”, informa a matéria.

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O que realmente espantou em toda essa situação, é que a Fórmula 1 estava ciente dos ataques que se iniciaram em Jeddah muito antes deles seguirem para a Arábia Saudita. No começo da semana o GP já estava sendo ameaçado, principalmente por conta dos primeiros ataques de mísseis e drones que ocorreram. Nesta sexta-feira (25) enquanto a Fórmula 1 realizava o TL1, ocorreu um ataque a petrolífera Aramco, uma das patrocinadoras da categoria – o ataque ocorreu a cerca de 10 KM do autódromo, onde uma cortina de fumaça era avistada.

O ataque foi realizado por rebeldes do Houthis do Iêmen e está sendo chamada de “terceira operação de rompimento”. Alguns relatos apontam que outros ataques se ocorreram ao longo do dia, principalmente com drones.

Ataques que ocorreram nesta sexta-feira na Aramco – Foto: reprodução

Durante a transmissão do TL2, o início da sessão foi atrasado em 15 minutos, os pilotos tinham participado de uma reunião, junto aos membros da equipe. Domenicali solicitou a reunião e na ocasião também estava acompanhado por Mohammed Bem Sulayem. Pouco depois Domenicali informou que o fim de semana continuaria sem alteração nos cronogramas. Os dez times e os 20 pilotos entraram normalmente na pista. A sessão classificatória da Fórmula 2 também não foi cancelada.

“Recebemos todas as garantias de que a segurança do país vem em primeiro lugar, não importa a situação. Temos que confiar nas autoridades locais a esse respeito, portanto, é claro, vamos em frente com o evento”, disse Domenicali.

A princípio um motivo para muitos não estarem preocupados tem relação com o direcionamento dos ataques. Eles estão ocorrendo em instalações da Aramco, pois visam abalar a infraestrutura. Entretanto, parece um risco desnecessário, além disso, como a Aramco é uma das patrocinadoras da F1 e Aston Martin, como podem garantir que nos próximos dias não vão atacar justamente um evento que está tendo suporte da patrocinadora.

O país tem sistemas antimíssil e com ele acreditam que conseguem garantir a segurança daqueles que vão participar do evento. Como também não ocorreram ataques a civis, acreditam piamente que a Fórmula 1 não será um alvo.

Existe um outro impasse para a realização do evento, o espaço aéreo foi fechado por conta do incêndio e da fumaça. Para a realização de qualquer evento da Fórmula 1, é necessário que o helicóptero médico possa decolar, outras sessões de treinos livres da F1 já tiveram que ser canceladas. Em um circuito como o de Jeddah onde os muros são próximos, pelas características de rua que o traçado tem, fora os diversos acionamentos de bandeira vermelha que tivemos, a segurança é algo que não pode estar em negociação.

O famoso tudo por dinheiro parece que realmente é algo que faz parte da categoria, principalmente quando ignoram as questões de segurança. Não tem muitos dias, mas vimos um movimento parecido, quando a categoria resistiu ao cancelamento do GP da Rússia e depois deram um simples comunicado genérico. Por fim levou-se um tempo até que optassem por romper o contrato com a promotora do evento.

É de conhecimento de todos que os GPs no Oriente Médio pagam muito bem, são contratos extremamente valiosos para a categoria, portanto eles passam por cima de vários conflitos simplesmente para correr nesses lugares, divulgar a categoria e obter um montante de dinheiro.

Alguns momentos a Fórmula 1 passa do aceitável, como a forma que conduziram o GP da Austrália de 2020, cancelando a prova pouco antes do TL1 começar. Em parte, parece que eles se esquecem de todos os profissionais que estão envolvidos e que fazem as engrenagens da categoria girar. Lamentável ver que o show precisa continuar, independente das suas consequências.

 

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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