Um piloto que já era campeão do mundo na Fórmula 1, andando com uma McLaren impulsionada por um motor Honda que estava tomando um pau de outra equipe e sequer teve chances de disputar o campeonato volta seus olhos para a América e resolve ver como funciona a Indy.
Se você leu o título deste texto sabe muito bem que não é de Alonso 2017 que estou falando, mas de Ayrton Senna, que fez um teste com o PC21 de Roger Penske em 1992.
Há 25 anos o futuro de Senna na Fórmula 1 estava incerto. Insatisfeito com a McLaren, que foi engolida pela Williams naquele ano, e sem boas perspectivas para o ano seguinte (o contrato com a Honda tinha acabado, os motores Ford que chegariam eram uma incógnita e Prost encerrou seu ano sabático, voltou para a Williams e barrou a possibilidade do brasileiro ter o melhor cockpit), Senna aceitou um convite de Emerson Fittipaldi para, sem alarde, conhecer o carro campeão da então atual temporada na Indy.
O teste aconteceu no pequeno autódromo de Firebird, no deserto do Arizona, não muito longe de Phoenix. Os carros eram bastantes diferentes na época: o PC21 tinha câmbio sequencial e não contava com a parafernália eletrônica da categoria mãe, como suspensão ativa e manopla tipo borboleta. Além disso, o motor Chevrolet turbo de 800 cavalos era uma força desconhecida para o tricampeão.
Foram 14 voltas em uma pista pequena (apenas 1.800 metros de extensão) e apertada. “Isto daqui parece um kartódromo”, disse Fittipaldi, “mas como Ayrton veio do kart ele vai se sentir em casa”. Senna fez sua melhor volta em 49,09s, um tempo abaixo do que Emerson conseguiu naquele dia, realizou algumas anotações e se deu por satisfeito.
O chefe dos engenheiros da Penske, Nigel Beresford, depois contou: “Ele voltou aos pits e disse: ‘Muito obrigado, eu aprendi o que queria saber.’ Depois ele saiu do carro e isso foi tudo”.
O chefão Roger Penske lembra com mais carinho deste dia:
Em alguns lugares vocês vão ler que este foi um “treino secreto”, porém não caiam nessa. Senna queria que a notícia se espalhasse, pois desejava botar pressão na McLaren e na Fórmula 1 – uma mudança para a Indy seria uma derrota para a categoria, e o brasileiro chegou mesmo a pensar em fazer uma temporada sabática como seu maior rival. A TV Bandeirantes, então detentora dos direitos de transmissão da categoria ianque para o Brasil, acompanhou o teste e Senna disse à repórter Silvia Vinhas que “a sensação é ótima, isso é um tesão” (provavelmente provocando arrepios nos lares da tradicional família brasileira ao pronunciar palavras de tão baixo calão à época). Ele ainda vaticinou: “um dia vou guiar esse carro, é só questão de tempo. É só esperar o momento certo para participar das corridas nos Estados Unidos”. Infelizmente essa foi mais uma previsão errada de Senna.
No fim, embora este tenha sido um belo assunto para a intertemporada, em 27 de janeiro de 1993 a Penske anunciou Fittipaldi e Paul Tracy como pilotos titulares e, mesmo tendo anunciado em fevereiro Michael Andretti e Mika Häkkinen como a sua dupla principal, a McLaren acabou deixando o finlandês na reserva e fechou mais um ano de contrato com Senna. Fechando o círculo e dando um encerramento “TOC-amigável” ao texto, o companheiro de Ayrton no ano seguinte ao seu teste na Indy foi o egresso daquela categoria Andretti, que no futuro teria sua própria equipe nos Estados Unidos, pela qual Fernando Alonso viria a testar e correr 25 anos depois.
lll FORA DAS PISTAS
Em 10 de dezembro de 1884 uma das histórias mais divertidas de todos os tempos foi publicada: As Aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain, uma excelente pedida para seu amigo secreto do fim do ano. Um bom tempo antes, em 1815, nascia Ada (não confundir com Linda) Lovelace, filha de Lord Byron e uma matemática brilhante, considerada uma das mães da computação. E o desfile feminino não para: 10 de dezembro parece ser um dia excelente para autoras, pois nasceram nesta data Emily Dickinson (1830) e Clarice Lispector (1920).
No campo do cinema, hoje seria aniversário do gigante Michael Clarke Duncan (1957), que nos deixou precocemente, assim como o hilário Richard Pryor, que partiu em 10 de dezembro de 2005.
Finalizando, completa hoje 43 anos metade dos The White Stripes, no caso a baterista Meg White. Seu grande sucesso é uma bela injeção de ânimo para o domingo.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.