Gustavo Frigotto (26), é piloto da Rkl Motorsports e disputa o título na Stock Light neste final de semana em Interlagos. O paranaense conversou com o BP e falou sobre as dificuldades enfrentadas em 2020, o otimismo dos planos para o futuro e a carreira. Confira na íntegra:
GUSTAVO FRIGOTTO: E aí pessoal do Boletim do Paddock. Tudo tranquilo com vocês? Estou me preparando para a próxima etapa agora em Interlagos, da Stock Light. Serão duas provas. São as baterias mais importantes do ano, em termos de pontuação, e eu espero evoluir ainda mais a competitividade que tivemos em Goiânia. O resultado não veio conforme o desempenho… por pouco não fizemos a pole lá. Mas a equipe evoluiu muito. Descobrimos os problemas que tivemos no carro o ano inteiro. Eu acho que vai ser uma etapa bem legal.
BOLETIM DO PADDOCK: Gustavo, quais eram os seus planos para a carreira no início do ano e como a pandemia te afetou nisso?
GF: Ano passado a gente conseguiu brigar pelo título. Realizamos corridas frente a frente com o Salas, que esse ano já ganhou uma corrida na Stock Car e está na disputa pelo título. Então nos mostramos grande. O O conjunto piloto vs. equipe deu muito certo ano passado, mesmo com o orçamento um pouco abaixo e isso me encheu de orgulho.
Então o plano esse ano era ser bastante competitivo. Não só na Light… Primeiro eu tentei a possibilidade de correr na Europa. Eu recebi algumas propostas legais para andar lá, nas categorias TCR, até mesmo na Super Trofeo, a competição da Lamborghini lá na Europa. Só que veio a pandemia, a loucura do aumento do Euro e do Dólar, e isso foi descartado para esse ano. Tentamos a Stock Car, com o objetivo de capitalizar um pouco esse ano forte que tivemos em 2019. Mas veio a pandemia.
Isso revirou completamente o começo do ano. Eu estava me preparando bastante pra temporada. Estava animado. Tanto no âmbito pessoal quanto profissional foi complicado para mim e para a equipe. Tentei me cuidar ao máximo. Viajei para o interior de Santa Catarina para tentar ajudar meus avós. Foi um período bem difícil de preparação para a Light.
B.P: Como os patrocinadores lidaram com isso? Houve desistência? Quais foram ou/e são as as maiores dificuldades?
G.F: Quanto a eles, tenho que agradecer muito a eles pelo apoio. Estamos juntos desde 2014, a Água da Serra e a XP Energy Drink. Claro que foi um momento difícil para eles e para outras empresas do Brasil. Eles tiveram dificuldades como a gente. E para a temporada, o custo, se comparar por corrida, aumentou também por conta da pandemia. Antes do aumento do Dólar e do Euro, era mais viável trazer peças de fora, pneus e outras coisas… Foi um momento bem complicado. A Água da Serra está retornando firme e forte, então está tudo se encaixando de novo. Mas o começo da pandemia foi bem difícil. Eu, particularmente, não sabia se teria temporada ou não… Se seria seguro ter uma temporada.
B.P: Quais foram as principais mudanças?
G.F: Eu tentei me informar o máximo possível. Eu não entendo nada de medicina, sou de humanas. Mas eu procurei me informar. Cacei artigos, opinião de médicos. Eu estava com receio, não só por mim, mas de todos que dependem do automobilismo para viver. As pessoas precisam pagar as contas. O “show tem que continuar” para as equipes se manterem e os funcionários serem pagos, para todo mundo seguir empregado. Mas tem a questão saúde, que tem que ser priorizada. Foi um momento bem complicado. A minha primeira decisão foi não fazer a temporada esse ano, para poupar um pouco de dinheiro. Mas eu acabei fazendo. Até mesmo para ajudar o pessoal que trabalha comigo e depende do automobilismo para viver, e eu achei que a melhor maneira seria ajudar eles. E também para me manter ativo com bastante cuidado.
Só para vocês terem uma ideia, no primeiro treino da Light, em Curitiba, com o câmbio novo e o motor novo que teria esse ano, proporcionando uma adição de 150 cavalos, eu acabei não indo. Não fui no primeiro teste. Pensei se compensaria, se teria temporada. Então acabei indo para a primeira etapa em Goiânia sem treino. Eu não tinha andado neste ano ainda. Foi bem complicado. Estávamos com déficit no equipamento também. A gente não conseguiu treinar. Não conseguimos achar o ponto do motor em várias corridas, então não fomos competitivos nas primeiras provas. O carro tinha defeitos que não eram explícitos na telemetria. Então essa temporada foi tentar pontuar ao máximo com o carro que tínhamos. Tive azar em Goiânia e fiquei sem freio. Levei um toque na segunda corrida. Tive problemas na suspensão… Tudo isso contribuiu para que não estivéssemos onde queríamos no campeonato.
B.P: Pra você, como foi o retorno da Stock Light? Qual foi a sensação de voltar para as pistas mesmo sem o público?
G.F: Foi sinistro. Quando o piloto abaixa a viseira e entra no carro, ele só quer saber de ser o mais competitivo e rápido possível. Então é claro que eu não pensava nisso durante a corrida. Eu não estava com o mesmo ânimo de viajar e fazer todo o trâmite por conta de tudo o que estava acontecendo. Foi uma temporada com bastante receio, bem tensa. Ninguém sabia o que iria acontecer direito. E foi assim que caminhamos para as primeiras etapas.
B.P: Antes do retorno da Light, o que você estava fazendo para se manter ativo no mundo do automobilismo?
G.F: Me preparei como eu pude nos simuladores. Eu fiz a WTCR virtual, onde você precisa se classificar entre os 25 melhores do mundo em voltas virtuais para se classificar. Tive a felicidade de competir em algumas corridas e treinei com o pessoal. Foi muito bom para ficar na ativa e disputei décimo a décimo com pilotos da Red Bull, da Williams, dessas academias fortes no eSports. Foi assim que tentei me manter e também tentei fazer exercícios em casa, e dar um jeito de me preparar de modo mais “domiciliar”, digamos assim.
B.P: Como você se sente tão perto do título?
G.F: Na última etapa, conseguimos trocar o antigo motor defeituoso. Fizemos várias etapas com ele. E conseguimos um bem significativo na competitividade. Em Goiânia, mesmo ainda amaciando o motor novo conseguimos ser TOP-5 em todos os treinos. Briguei pela pole. Fiquei em segundo no classificatório. Claro que eu tive azar em algumas coisas, como toques, por exemplo. Em Goiânia eu queimei largada para evitar um acidente. Foram coisas que nos tiraram de uma pontuação forte. Poderíamos ter feito dois pódios. Mas, para o fim de ano, tendo alguma esperança de título, por mais remota que seja, eu espero estar bem competitivo e evoluir ainda mais. Eu espero contar um pouco mais com a sorte, e estar no lugar certo, na hora certa, para desviar das batidas, e assim talvez conseguir dois pódios. Claro que nunca é bom ficar esperando coisas. Você tem que ir lá, dar o seu melhor, atingir o limite do carro e ir com tudo. Mas eu acredito que seja um cenário positivo para a gente fechar bem o ano.
B.P: A final da Stock e a temporada de 2021 será transmitida em TV aberta pela Bandeirantes. Como você enxerga essa expansão da transmissão?
G.F: TV aberta é muito bom. E é legal pois vai ter duas emissoras diferentes transmitindo, e isso vai ser bom para a categoria. A Band parece que vem com um investimento legal para cobrir a Stock e eles veem força na categoria como produto nacional. Eu acredito que isso aproxima o esporte das pessoas. Qualquer pessoa com TV aberta vai poder assistir num domingão. Eu acredito que vai ser bem legal. Vejo como um crescimento da Stock e espero que todos ganhem com isso também.
B.P: Gustavo, como é a preparação para a Stock Car? Quando começam as negociações para chegar até a categoria principal?
G.F: É um sonho que eu tenho desde a Light. Eu já flertei com esse sonho muito de perto. Em 2018 eu quase consegui fazer uma etapa de duplas. Eu posso dizer que tenho chances de figurar na Stock Car. Não posso dizer que equipe é ainda. É “Top Secret”. E também não consigo dizer se as possibilidades são tão reais assim. Espero que dê tudo certo para nós. Quero muito estar na Stock Car e acredito que tenho bastante experiência na Light. Já ganhei corridas e bastante coisa na carreira. Então espero conseguir essa oportunidade na Stock.
B.P: Gustavo, você tem uma aproximação forte com o automobilismo virtual. Até que ponto isso pode te ajudar na vida real e vice-versa?
G.F: Eu gosto muito da minha história com o automobilismo virtual, porquê o automobilismo era um ramo que eu queria para mim desde os meus cinco anos de idade. Desde os anos ’90, quando eu vi as minhas primeiras corridas na TV, fui estudando as corridas, os VHS. Tentava mesmo ver como tal piloto fazia qual curva. Estudava mesmo. Então o automobilismo virtual, como a minha família não tinha dinheiro até então para começar e era uma teimosia muito forte minha, eu utilizava o videogame primeiro. Depois peguei um volantinho e comecei a me introduzir nas corridas online. Eu utilizava isso para aprender na prática, digamos assim. Tentar aprender o que é um traçado, o que são pontos de freada, de aceleração.
O automobilismo virtual está evoluindo cada vez mais. E está ajudando cada vez mais com isso. Os simuladores estão mais reais. O cenário está mais competitivo. São mais pessoas jogando. E é sempre bom para se manter na ativa com reflexo, se manter competitivo as vezes com os melhores do mundo, como aconteceu comigo. É como se fosse um carro de corrida que você pode ter em casa. Claro que você não simular, por exemplo, a força do seu medo. Se você estiver prestes a bater, você vai lá e “reseta”. Mas outras coisas são similares, como a tangência de um carro numa curva. O tanto de volante que você precisa virar para entrar e sair numa curva. Técnicas de pilotagem em geral. Tudo isso você consegue mexer, até mesmo ajustar o acerto do carro. Há muitas opções legais no mercado. Para quem ainda não pode investir no kart, fica no automobilismo virtual, tenta ao máximo, e pode ser que uma oportunidade surja pra você também.
As etapas da Super Final da Stock Light serão transmitidas no Canal da Stock Car no Youtube nos dias 12/12 – 15H16 e 13/12 – 11H10.