Ter uma equipe de Fórmula 1 é uma tarefa que exige muito desprendimento e um investimento pesado. Mesmo para as grandes montadoras, é um desafio por muitas vezes ingrato, imagina para apenas apaixonados pelo automobilismo. Dentro deste cenário, muitos pilotos que estiveram ao volante se aventuraram em ter uma própria equipe. Mas mesmo os mais vitoriosos na condução dos carros não tiveram o mesmo êxito como dirigente, na maioria das vezes… Exceto por um homem.
Este foi o caso de Sir Jackie Brabham. O australiano ascendeu como o grande nome da F1 após a aposentadoria de Juan Manuel Fangio, faturando o bicampeonato de pilotos competindo pela Cooper nos anos de 1959 e 1960. Porém, a temporada de 1961 foi de grande decepção. Com o desejo de mudar sua carreira, Black Jack resolveu partir para uma grande mudança na sua carreira.
O piloto da Oceania realizou uma parceria com o engenheiro e velho amigo Ron Tauranac e fundou a Motor Racing Developments Ltd. A escuderia, num primeiro momento teria o objetivo de fabricar chassis para categorias de base, porém o australiano viu a oportunidade de colocar sua marca na categoria máxima do automobilismo. Assim, o nome pela qual a equipe passou a ser chamada era a mesma do sobrenome do patrão: simplesmente Brabham.
Nos primeiros quatro anos, a equipe teve seus desafios, mas foi evoluindo conforme os anos foram passando. A Brabham teve em Dan Gurney o nome mais bem-sucedido nos primeiros anos, mas com a saída do americano, o Black Jack assumiu o desafio para liderar a escuderia a partir da temporada de 1966.
Nesse ano, houve uma grande mudança no motor, com o aumento da capacidade de 1,5 para 3 litros. A tática, diziam os corneteiros da época, era para favorecer a Ferrari contra os garagistas britânicos da Lotus, BRM e Cooper. No entanto, havia uma cartada vinda da Terra dos Cangurus…
Para aquele ano, o Black Jack colocou em seus bólidos um motor Oldsmobile V8 preparado pela empresa australiana Repco, tradicional fornecedora de peças para competições na Oceania. Além disso, Tauranac projetou o BT19, carro bem leve e com espaço para acomodar o propulsor mais robusto.
Ao longo do ano, o BT19 mostrou-se um carro bastante confiável e Jack se aproveitou para mostrar que estava em forma. O australiano quebrou o jejum de seis anos sem vitórias, com o triunfo em Reims, no GP da França. Na sequência, Black Jack emendou mais três primeiros lugares na Inglaterra, na Holanda e na Alemanha. Além de ser o primeiro piloto a vencer pela própria equipe, o nome Brabham estava perto de ser o primeiro a sacramentar o título de pilotos com um carro próprio.
No dia 4 de setembro de 1966, no Autódromo de Monza, bastava o australiano marcar a Cooper de John Surtees, o único com condições de brigar pelo título, para Jack conquistar o tricampeonato de pilotos, já que Graham Hill (BRM) e Jochen Rindt (Cooper) teriam o risco de descartar pontos dos piores resultados e não alcançariam os 39 de Brabham.
Na classificação, a Ferrari finalmente mostrava algum desempenho digno com a pole do britânico Mike Parkes, seguido pelo italiano Ludovico Scarfiotti, também pela escuderia de Maranello. Brabham partia em sexto, duas posições atrás de Surtees.
Nas primeiras voltas, Jack se manteve próximo de Surtees, na espera de um momento oportuno. O australiano assumiu a ponta na quarta volta e demonstrava forças para mostrar que podia brigar pela quinta vitória da carreira. Contudo, na oitava volta, um vazamento de óleo forçou Brabham a abandonar.
Surtees ainda precisava vencer para seguir com chances matemáticas de título naquela altura. No entanto, o piloto da Cooper penava com a concorrência das Ferrari de Scarfiotti e Parkes, além da segunda Brabham, do neozelandês Denny Hulme. O britânico bem que tentou, mas tudo ruiu na volta 31 quando houve um vazamento de gasolina no motor Maserati.
Quando o carro de Surtees encostou na grama, os boxes da Brabham explodiram em festa, afinal ninguém mais poderia matematicamente alcançar o australiano no campeonato de pilotos, e Jack Brabham tornara-se o primeiro piloto a ser campeão do mundo em um carro do qual foi o seu construtor.
Enquanto a escuderia australiana festejava o título, a corrida ficou resumida a um domínio ferrarista, terminando com alegria dos tifosi, com a única vitória da carreira de Scarfiotti na Fórmula 1, com Parkes completando a dobradinha.
A Brabham ainda foi representada no pódio com o terceiro lugar de Hulme. Os pontos somados acabaram ajudando a escuderia a faturar no fim do ano o título de construtores posteriormente, concluindo uma temporada em que o nome Brabham provou ser vitorioso, tanto como piloto, tanto como equipe.
Fontes: Stats F1, Continental Circus (link 1, link 2 e link 3), FlatOut e Projeto Motor