Fica claro cada vez mais que para um piloto estar na Fórmula 1, ele precisa se adaptar rapidamente ao equipamento e entregar o que a equipe precisa. Nyck De Vries foi mais um dos pilotos que não mostrou o que era esperado e perdeu a chance de continuar na categoria.
Mesmo sendo um campeão de Fórmula 2 e Fórmula E, De Vries não se encaixou ao que a AlphaTauri esperava. Comparando dados internos entre os pilotos da Red Bull e Yuki Tsunoda, De Vries não ficou perto do que era esperado e não apresentou uma evolução. Mas vale lembrar que De Vries teve apenas dez corridas para mostrar alguma coisa em um carro extremamente ruim.
Infelizmente a categoria é cruel muitas vezes, não existe tempo. A Red Bull também tem esse histórico de fazer trocas com a temporada em andamento quando o piloto não atinge as expectativas que foram depositadas nele. No entanto, era esperado que a AlphaTauri tivesse um pouco mais de paciência, já que é uma equipe que em teoria deveria ser o time que prepara jovens talentos, para que um dia eles possam guiar pelo time principal.
Mas a AlphaTauri agora passa por uma mudança e isso pode ter influenciado nas tomadas de decisão.
Nessa nova era da categoria, o foco fica mais voltado para as corridas e poucos testes. Até mesmo a pré-temporada tem duração de apenas três dias e cada um dos pilotos fica 1 dia e meio com o carro para fazer as suas verificações. Os pneus são complexos, o carro com efeito solo também são um desafio para a adaptação. Fora que nem todo competidor é preparado para ser o líder de um projeto ou tem aptidão para colaborar no desenvolvimento do carro.
Mesmo com esse grau de complexidade é cobrado que o piloto entre no carro, compreenda tudo e tenha os melhores resultados possíveis. Franz Tost, chefe de equipe da AlphaTauri comentou no fim de semana do GP da Áustria que: “A Fórmula 1 é tão complexa para os novatos que eles deveriam ter três anos. Para um piloto que experimenta isso tão intensamente pela primeira vez, torna a tarefa incrivelmente difícil.”
A decisão de tirar De Vries da Fórmula 1, não foi dada por Franz Tost, mas foi uma escolha mais direta da Red Bull. As falas de Tost indicavam que ainda existia tempo para preparar De Vries, mas a equipe austríaca mostra que quer resultados.
De Vries entra na F1 com certa esperança em seu nome. Escolheram o holandês para que ele ocupasse a vaga que seria deixada por Pierre Gasly, quando claramente a Red Bull é uma das equipes que mais tem pilotos em sua academia. Liam Lawson talvez fosse o competidor ideal para estar ao lado de Yuki Tsunoda, pois é um piloto jovem, que demonstra uma boa adaptação aos carros que já guiou.
O holandês entra no time, pouco depois de Yuki Tsunoda mostrar mais desempenho, provar que se adaptou ao time e as alterações internas ligadas ao seu dia a dia de atividades, começaram a dar resultados para o piloto japonês.
O AT04 é um carro difícil, tem diversos problemas, mesmo assim Tsunoda tem impressionado enquanto luta com os times do final do pelotão. Tem certo louvor quando um piloto pega um carro ruim e ainda consegue extrair algo do equipamento. Tsunoda é um competidor rápido, que teve um pouco mais de tempo para errar e realiza uma temporada bem mais regular, também foi o responsável por faturar os dois pontos que a AlphaTauri conta nesse ano.
Porém, parece que ao mesmo tempo a Red Bull perdeu confiança na sua academia de pilotos. Não promoveram Lawson quando Gasly saiu e não realizaram uma promoção com a demissão De Vries, optaram pelo terceiro piloto da Red Bull para ocupar a vaga na equipe: Daniel Ricciardo. Fala-se que em 2024 alguns cortes serão realizados, atualmente 12 pilotos fazem parte da Academia da Red Bull, mas o time pode dar preferência por apoiar apenas talentos que eles julgam como promissores – como menta o site Auto Motor und Sport.
A Academia da Red Bull já foi mais eficiente ao introduzir pilotos no grid, no entanto, também perdeu alguns nomes, como Jean-Éric Vergne, Antonio Felix da Costa (que tiveram sucesso fora da equipe) e até mesmo Carlos Sainz que hoje corre pela Ferrari e já passou por outras equipes do pelotão. O time austríaco precisou buscar fora para ter um segundo piloto, como aconteceu na contratação de Sergio Pérez, enquanto dessa vez, tomou uma medida drástica com De Vries para retornar com Daniel Ricciardo ao grid.
Vamos ver como o australiano vai se adaptar ao carro de uma equipe que hoje ocupa a última posição do Campeonato de Construtores. Não podemos nos esquecer que Ricciardo deixou a McLaren justamente por não ter se adaptado rapidamente ao equipamento. O carro da McLaren era difícil de guiar e mesmo com todos os esforços ele não correspondeu ao que era esperado. O piloto tem o histórico de levar um pouco mais de tempo para se adaptar ao carro.
Mesmo que tenha impressionado a Red Bull nos testes de pneus da Pirelli realizados em Silverstone, guiar o RB19 não é a mesma coisa que guiar o carro da AlphaTauri – hoje, extremamente distante do equipamento da RBR.
Para o próximo ano é esperado que a AlphaTauri mude de nome e se aproxime da Red Bull outra vez, trocando mais informações e recebendo peças para aprimorar o seu desenvolvimento. Helmut Marko mencionou que a equipe vai passar por uma grande mudança, nessa tentativa de alavancar a equipe B e fazer com que ela conquiste mais espaço.
Talvez essa alteração na AlphaTauri seja voltada para que o time não seja mais o lar dos jovens pilotos. Principalmente nesse momento que a própria academia de pilotos passa por uma reformulação.
Nesse primeiro momento não parece que Ricciardo ocupe o lugar de De Vries em um sinal de pressionar Sergio Pérez. Na realidade, aparenta mais ser uma movimentação de preparação da equipe para o que ela pode se tornar no próximo ano. Talvez a AlphaTauri abandone esse conceito inicial de ser uma equipe de preparação de pilotos, para ser um time que visa mais competitividade, assim como os outros tantos times do grid.
“Daniel não perdeu nada em sua ausência. Ele conseguiu transferir os avanços que deu no simulador para a pista. Ele nos impressionou nesta viagem. Não há dúvidas sobre suas habilidades de direção e ele já conhece muitos de nós, então sua integração será fácil e descomplicada”, comentou o chefe de equipe da Red Bull, Christian Horner.
Algo como o conceito de ter Fernando Alonso na Aston Martin, um nome de peso em um time que precisa conquistar espaço. Ricciardo tem uma bagagem na Fórmula 1, ainda que tenha alguns pontos controversos no seu caminho, muitos se apegam as suas 8 vitórias na F1. Porém, antes de tudo, Ricciardo precisa mostrar que vai se adaptar e pode progredir nesse novo projeto, pois do contrário, o piloto pode prejudicar ainda mais a sua carreira.
Pérez tem contrato até o final de 2024 com a Red Bull. Claro que ter um contrato com o time austríaco não vale muito, mas nesse momento, Pérez pouco incomoda. Não está atrapalhando Max Verstappen (o ponto mais importante de tudo) e os pontos conquistados, ainda somar a conquista do Campeonato de Construtores da RBR. O time austríaco não tem adversários diretos nesse ano. Por mais que Sergio Pérez não conquiste o vice no final da temporada, ninguém atualmente é capaz de bater aquele que realmente importa na equipe.
Enquanto Ricciardo retorna ao grid em um time já conhecido por ele, experimenta uma nova fase da carreira. Resta observar o que o australiano pode entregar nas próximas corridas.
Por fim, parece que a Fórmula 1 tem adquirido cada vez mais medo de lidar com jovens pilotos: como aconteceu recentemente com a Haas, contando com Mick Schumacher e Nikita Mazepin. E até mesmo o embate interno de pilotos, como Lewis Hamilton e Nico Rosberg, mudando toda uma forma de como as equipes escolhem os seus pilotos e definem quem será a próxima geração.
https://www.youtube.com/live/Q6CUu5qMPIU?feature=share
Um Comentário