No fim de 2016 o circo da Fórmula 1 deu adeus ao seu mestre de cerimônias, que comandou o paddock por mais de 40 anos, fez a categoria crescer em importância e em valor, com uma visão astuta e predatória.
Bernard Charles Ecclestone, o Bernie, nasceu em Suffolk, no dia 28 de outubro de 1930. Abandonou os estudos aos 16 anos, para se dedicar aos negócios, iniciando uma revenda de motocicletas de sucesso. Esse contato com as máquinas evoluiu das motos para os carros, e dos carros para as corridas. Não demorou muito para se aventurar como piloto.
Atrás do volante, militou nas categorias de base e chegou a tentar a classificação para o GP de Mônaco de 1958, pela Connaught, mas sem sucesso. Esse infortúnio – e alguns acidentes graves – o fizeram perceber que a vida do lado de dentro dos boxes poderia ser mais interessante que dentro do bólido.
Bernie tornou-se empresário de pilotos, primeiro de seu amigo Stewart Lewis-Evans, que faleceu no GP do Marrocos de 1959. Anos após, mais rico e recuperado do trauma pela perda do colega, empresariou Jochen Rindt, que tragicamente teve o mesmo fim.
Cansado de perder amigos, resolveu investir em ser dono de equipe, comprando a Brabham do Velho Jack.
A empreitada deu certo. O time adquiriu peças importantes logo no seu início, como o jovem e revolucionário projetista Gordon Murray, o polpudo patrocínio da Martini e a chefia das operações entregue à Herbie Blash, o time brigou pelas primeiras posições desde 1974, chegando ao vice-campeonato de construtores em 1975.
Porém, a chegada dos potentes motores BMW e o talento do jovem brasileiro Nelson Piquet que alçaram o time à glória, com a conquista dos títulos de pilotos de 1981 e 1983.
Durante todo esse período de glória, Bernie se colocou como peça indispensável no tabuleiro de forças da F1, primeiro como porta voz dos times nas negociações das premiações, após como líder da guerra entre FISA e FOCA por conta do carro asa. Mas seu pulo do gato ainda estava por vir.
Depois de vencida a queda de braço entre FISA e FOCA, que duraria toda a década de 1980, Ecclestone derruba Jean-Marie Balestre da presidência da entidade máxima do automobilismo, alçando ao cargo seu aliado Max Mosley, que lhe cedeu os direitos de transmissão da categoria rainha por 15 anos, e depois por 110 anos(!).
Bernie era o rei do parquinho, e fez a F1 à sua imagem e semelhança. Desde o meio da década de 1990, o aparecimento das equipes de fábrica e os custos cada vez mais altos transformaram o esporte em um dos mais lucrativos do mundo, porém, o espetáculo sofreu, com cada vez menos times e pilotos, tornando a F1 estéril e fechada para novas empreitadas.
Tudo isso levantou dúvidas quanto à condução da empreitada pelo inglês, pois ficava evidente o conflito de interesses nas suas decisões de levar o a categoria para redutos não tão afeitos ao automobilismo, porém gerando lucros astronômicos para sua empresa.
O caldo entornou de vez na década de 2010: ficava evidente que os custos altos, somado à dificuldade de mudanças e às decisões esportivas um tanto equivocadas (como adoção de um sistema de medalhas, atalhos nas pistas ou chuva artificial), levaram Ecclestone à lona, culminando na compra da F1 pelo grupo americano Liberty Media em 2016. Já se faz sentida a mudança de comando, ainda que timidamente, com o maior acesso à informações e liberdade dos pilotos para comunicação com os fãs, e a expectativa é de que isso mude ainda mais, com o novo Pacto da Concórdia, previsto para 2020.
Hoje, totalmente afastado da categoria, Bernie Ecclestone ainda gera pautas na imprensa com suas declarações polêmicas e bem humoradas, e apenas isso. Porém, é inegável a importância do baixinho inglês para a categoria, pois foi ele quem criou o circo.
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No dia 28 de outubro de 1636, foi fundada a Universidade de Harvard, berço de algumas das maiores mentes da humanidade. Dentre seus ilustres frequentadores – ainda que um desistente – está Bill Gates, que nasceu em 28 de outubro de 1955, pai da popularização do computador pessoal e responsável em parte, por esse texto, já que ele foi escrito em laptop com Windows, usando o Microsoft Word.
Até a próxima, senhores!