Não poderia ser em outra semana que não a mais importante do calendário nacional. Nem em outro país, afinal é uma piada corrente que a Itália é o Brasil da Europa. Há 45 anos um brasileiro de sobrenome italiano vencia uma corrida (embora lhe bastasse um quarto lugar) e se tornava o primeiro piloto verde-amarelo a sagrar-se campeão do mundo.
O Grand Prix da Italia de 1972 aconteceu no dia 10 de setembro, e foi a décima prova do ano. Na prova anterior, na Áustria, a vitória de Emerson Fittipaldi com o segundo lugar de Denny Hulme deixava o brasileiro em uma posição mais do que confortável no campeonato. Com 25 pontos de vantagem sobre o neozelandês da McLaren, bastava marcar mais três para confirmar matematicamente o título, e Emmo tinha três corridas para fazer isto.
Na Lotus, os efeitos do acidente de Jochen Rindt e a investigação aberta pela justiça italiana ainda se faziam presentes. Colin Chapman recebeu garantias de que não haveriam represálias, mas preferiu não arriscar, e inscreveu apenas Fittipaldi na corrida, deixando Dave Walker em casa. Fiel ao ditado de não colocar todos os ovos no mesmo cesto, enviou um carro para Monza e deixou o reserva do lado francês do Mont Blanc. Essa decisão se provou profética, uma vez que o caminhão que levava o carro titular da Lotus teve um pneu furado e bateu forte na rodovia, danificando o chassis. Imaginem para Emerson o que não deve ter sido correr o final de semana com um modelo reserva do 72D, que tinha especificações muito parecidas com as do modelo 70 que vitimou seu companheiro de equipe naquela mesma pista.
Ao contrário do time inglês, as outras equipes inscreveram tantos pilotos quanto foi possível: a Ferrari, correndo em casa, tinha Jacky Ickx, Clay Regazzoni e Mario Andretti; a Surtees, além de Hailwood entrou com Tim Schenken, Andrea de Adamich e o próprio John Surtees, que faria sua última prova da carreira. A BRM também inscreveu quatro carros, enquanto a McLaren vinha com o ainda candidato ao título Denny Hulme e o americano Peter Revson.
O motor Ferrari V12 fez a alegria dos tiffosi na sábado, garantindo a posição de honra para Jacky Ickx; ao lado dele vinha Chris Amon, de Matra. Na segunda fila, a Tyrrel de Jackie Stewart e a rossa de Regazzoni. Os postulantes ao campeonato vinham a seguir, com Hulme em quinto e Fittipaldi em sexto.
Na largada, enquanto Ickx seguia tranquilo, Stewart sofria com problemas de transmissão embolando todo o resto. Regazzoni conseguiu um segundo lugar, e Emerson pulou para terceiro. Na volta 14 o belga espalhou na pista, deixando Clay na liderança; o que parecia ser ótimo para o suíço tornou-se a causa de seu abandono, quando ele chegou à Vialone e encontrou a March-Ford do brasileiro Carlos Pace que havia acabado de rodar. Regazzoni não conseguiu desviar a tempo, e danificou sua suspensão traseira, saindo da prova. Isto deixou a corrida entre Jackie Ickx e Emmo e, quando o motor de Ickx foi para o espaço o Rato só precisou controlar a emoção para cruzar a linha de chegada e se tornar o primeiro brazuca a ser campeão do mundo na Fórmula 1. Ele tinha apenas 25 anos e 273 dias, e permaneceu como o piloto mais novo a conquistar um campeonato por mais de 30 anos, até Alonso desbancá-lo em 2005.
Fiquem com um dos momentos mais emocionantes da Fórmula 1 nacional, o primeiro título de Fittipaldi narrado pelo próprio pai, o legendário Barão:
lll FORA DAS PISTAS
O 10 de setembro é um dia recheado na F1, e poderíamos fazer uns 10 textos do 365 sobre ele. Neste dia perdemos Wolfgang Von Trips e 13 cabeças de gasolina em um acidente terrível, ganharam o campeonato Phil Hill em 1961, Mario Andretti em 78 e a McLaren em 89, todos em GPs da Itália, que também aconteceu nesta data nos anos de 1967, 1978, 1995, 2000 e 2006.
Mas, como neste final de texto nos propomos a comentar algo fora das pistas, quero deixar a menção de que no dia 10 de setembro nasceram Stephen Jay Gould, um dos maiores divulgadores científicos de nossa era, outro brazuca campeão, o manezinho com sobrenome alemão Guga Kuerten, que é ídolo em Floripa, França e Bahia e um Pereira que nasceu na gringa com o nome de Anthony Joseph Pereira, mas que ficou conhecido como Joe Perry, o brilhante guitarrista do Aerosmith. Vai ser difícil escolher só uma música do cara prá terminar o domingo, mas vamos lá.
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