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Uma grande equipe média

8 de Novembro – Uma grande equipe média - Dia 171 dos 365 dias mais importantes da história do automobilismo – Segunda Temporada.

Robin Herd era o designer. Max Mosley, o cara do comercial. Alan Rees, o chefe de equipe. E Graham Coaker, o supervisor da fábrica. E, pela união de seus poderes eu sou o Capitão Planeta foi criada uma equipe que, na Fórmula 1, começou como grande mas foi se apequenando até desaparecer.

Antes de mais nada, uma explicação necessária: a March (formada pelo acróstico dos nomes de Mosley, Alan Rees, Coaker e Herd) foi uma fabricante de carros esportivos e equipe esportiva com enorme sucesso em várias categorias, como a Fórmula 2, a Fórmula 3, a IndyCar (entre 1983 e 1987 todos os campeões da Indianapolis 500 eram chassis March), Formula Ford e Can-Am. Mas vamos nos fixar na(s) passagem(ns) da equipe na Fórmula 1 hoje.

Os quatro cavaleiros.
Fonte: Marchives.com

Os quatro companheiros estavam na casa dos seus 30 anos quando resolveram fabricar seus carros de corrida em 1969 em Bicester, uma cidade a cerca de 100km de Londres, mas bem mais próxima de Silverstone. A ideia da construtora de carros era fazer chassis simples e confiáveis, para vende-los a potenciais compradores e obter lucro. Isso era legal, mas a ideia da equipe de Fórmula 1 era gastar o que fosse preciso para testes e desenvolvimento que a levassem às primeiras posições. Esse equilíbrio instável que ora pendeu para a fábrica e ora para as pistas tornou-se parte da empresa tanto quanto o logo desenvolvido pela esposa de Graham.

Logo modernoso.
Fonte: Marchives.com

Seu primeiro modelo, o 701 (1970 Fórmula 1, uma taxonomia que também se tornaria tradicional), foi dirigido pelos pilotos Chris Amon e Jo Siffert, mas também por Jackie Stewart (que, ao vencer o GP da Espanha de 70 inaugurou a trajetória de sucesso dos carros construídos por Herd e Cooper na F1) e Johnny Servoz-Gavin, visto que a March forneceu os chassis para a Tyrrell naquele ano, além de um quinto bólido patrocinado pela STP e pilotado por Mario Andretti em cinco das treze etapas.

701, o primeiro de seu nome.
Fonte: Wikipedia

O March da March (desculpem, não resisti), era equipado com um motor Ford Cosworth DFV, e o neozelandês Amon venceu uma prova extracampeonato, e subiu ao pódio três vezes quando valiam pontos (segundo na Bélgica e na França e terceiro no Canadá). Com isso, a equipe terminou o ano numa excelente terceira posição geral com 48 pontos, apenas 4 atrás da vice-campeã Ferrari.

O ano de 71 viu um modelo no mínimo curioso: o 711 da March tinha uma asa dianteira elíptica e achatada, que ficou conhecida como “mesinha de chá”. O projeto de Frank Costin podia ser esquisito, mas foi bem sucedido: Ronnie Peterson era o grande nome da equipe e, embora sem conseguir vencer nenhuma etapa, fez pódios suficientes (4 em segundo e 1 em terceiro, em 10 etapas), para terminar o campeonato na segunda posição. Também correram pela March o espanhol Alex Soler-Roig, o italiano Nanni Galli, o inglês Mike Beuttler e um austríaco estreante que comprou sua vaga para correr no GP de seu país, chamado Niki Lauda. O time terminou o campeonato na quarta colocação, com 33 pontos, à frente de nomes como Lotus e McLaren.

O esquisito primeiro carro de Lauda.
Fonte: Silodrome

Duas boas temporadas iniciais, mais a manutenção de Peterson e a efetivação de Lauda faziam 72 ser um ano que prometia. Infelizmente as expectativas não se cumpriram. Com três chassis diferentes durante o ano, nenhum deles aproveitável, um único terceiro lugar de Ronnie e a sexta posição no campeonato de equipes foi o máximo que a March conseguiu. Certamente foi determinante a ausência de dois de seus fundadores: Graham Coaker decidiu abandonar a carreira e Alan Rees tornou-se chefe de equipe da Shadow no final do ano anterior, deixando a March à deriva.

E se 72 foi ruim, o ano de 73 foi pior. Quase sem patrocinadores, os carros da equipe foram guiados por Jean-Pierre Jarier na maior parte do campeonato, e quando o francês preferia disputar a Fórmula 2, quem assumia era Henri Pescarolo ou Roger Williamson. Nenhum pódio na equipe principal, mas dois com um chassis vendido a Lord Hesketh, que o entregou para seu amigo James Hunt guiar. Interessante notar que tanto Hunt quanto Lauda fizeram suas estreias na categoria a bordo de carros March.

Jägermarch.
Fonte: 72stagpower

Com a equipe patinando na F1 enquanto ia bem na Fórmula 2, a BMW, parceira da March nesta última, pressionava a construtora para que abandonasse a categoria-mãe. Apesar disso, eles começaram 1974 com Howden Ganley e terminaram com o alemão Hans Joachim Stuck, patrocinado pela Jägermeister, e Vittorio Brambilla. Os dois gastaram bastante da franquia da seguradora da equipe, porém tinham lampejos de velocidade. Uma quarta posição na Espanha foi o melhor resultado, e a March terminou em um melancólico 9º lugar entre os construtores.

Lella Lombardi e seu histórico meio ponto na Espanha.
Fonte: Contos da F1

O ano de 75 viu novamente Stuck e Brambilla nos cockpits, com um terceiro carro pilotado pela italiana Lella Lombardi. Maria Grazia, seu verdadeiro nome, tornou-se a primeira mulher a pontuar na categoria, com uma sexta colocação na Espanha; como esta prova foi encerrada antes do previsto devido à morte de cinco espectadores atingidos pelo Lola de Rolf Stommelen, Lella conseguiu apenas meio ponto na carreira. Também contando apenas metade dos pontos foi a inesperada prova na Áustria, que durou apenas 29 voltas devido à forte chuva. E quem estava à frente nessa volta era justamente Vittorio Brambilla. O chamado “Gorila de Monza” recebeu a bandeirada enquanto rodava sozinho na pista após perder o controle do carro, acabando com a asa dianteira no processo. Vittorio fez sua única volta de “desaceleração” como vencedor com meia March, metade dos pontos e saudando uma multidão que não estava entendendo direito o que acontecia.

Para 76 o time, quase falido, veio com Brambilla e o retorno de Ronnie Peterson, que voltava para a escuderia onde se sentia em casa após brigar com a Lotus. Os carros eram difíceis de identificar, já que a cada corrida vinham com uma pintura diferente, dependendo do patrocinador que tinha se dignado a pagar uns trocados na vez. Apesar disso o SuperSueco deu um jeito de terminar em primeiro em Monza, entregando a segunda e última vitória do time, que ainda contou com uma equipe “B”, a Beta Team March, onde correram nosso velho conhecido Hans-Joachim Stuck e o italiano Arturo Merzario.

O hiato entre o fim da temporada de 76 e o início da de 77 foi bastante conturbado na equipe; a BMW pressionava ainda mais insistentemente Herd e Mosley para focar seus esforços na F2. Um patrocínio inesperado da Rothmans deu uma sobrevida ao time, que manteve Stuck e ainda trouxe o Scheckter menos famoso, Ian, e o brasileiro Alex Dias Ribeiro para pilotarem o carro cerúleo; um total de zero pontos foram obtidos naquele ano, o que foi a pá de cal necessária para um time que já acumulava drosófilas ao redor de sua carcaça putrefata. Max Mosley saiu de cena (voltaria em breve como dirigente), vendendo sua parte do espólio da equipe de F1 para Robin, que a repassou à ATS, time que no futuro seria a primeira casa de Gerhard Berger.

Década nova e o time resolveu tentar novamente: em 81 inscreveu um modelo 812 que era uma cópia piorada da Williams FW07 e contratou o chileno Eliseo Salazar e, após este abandonar o barco, o irlandês Derek Daly para pilotarem, mas terminou o ano zerada e atrás de potências como a Ensign e a Theodore. Ainda assim insistiram no ano seguinte, mas Raul Boesel, Emilio de Villota, Rupert Keegan e Jochen Mass tentaram sem sucesso ganhar um mísero ponto. Robin Herd, agora o único vínculo com a equipe original, mais uma vez se retira do circo e continua nas outras categorias.

Em 1987 a incorporadora imobiliária japonesa resolve ter uma equipe de Fórmula 1 (até porque, como nunca ninguém tinha pensado nisso antes, né? Era o caminho mais óbvio a ser seguido, de apartamentos em Osaka para as pistas de Spa). Com um motor Ford e um modelo 871, a March/Leyton House tem em Ivan Capelli seu nome para a boleia, e apesar de uma infinidade de abandonos e novamente nenhum ponto consegue uma joia: um projetista iniciante na Fórmula 1 chega no meio do ano para desenhar o modelo de 88. Seu nome? Adrian Newey.

E o seu Newey faz o quê? Um modelo March-Judd 881 que, com Capelli e o brasileiro Maurício Gugelmin marca 22 pontos, incluindo dois pódios com o italiano, terceiro na Bélgica e segundo em Portugal. A March pula da rabeira da tabela para uma honrosa sexta colocação à frente da Williams e da Tyrrell. O perfil de modelo anoréxica ultrafino e a aerodinâmica de Newey fizeram um sucesso imediato, e em 89 quase todo o grid havia se baseado na March para fazer seus chassis. Perdendo a vantagem da surpresa, Capelli e Gugelmin não tiveram tanto sucesso, embora o brasileiro tenha tirado do bolso uma terceira posição em Jacarepaguá, seu único pódio e os únicos quatro pontos da equipe. Enquanto brincavam de correr, a situação na companhia sofria mudanças, com Robin Herd sendo obrigado a disponibilizar seu cargo de CEO em benefício de John Cowen, que teria a missão de tornar a empresa novamente lucrativa. No final do ano, Cowen se desfez das operações na F3000 e na F1, passando ambas para Akira Akagi, o dono da Leyton House. A March se concentrou nas parcerias com a Porsche e a Alfa Romeo na Indy.

Após dois anos, em meio a um escândalo financeiro que abateu Akagi-san, um sócio da Leyton House comprou o time e devolveu o antigo nome, então em 1992 tínhamos novamente a March no grid. Infelizmente o carro era uma draga, o motor Ilmor V10 tinha a potência de estalinhos de festa junina e Karl Wendlinger e Paul Belmondo não eram exatamente grandes pilotos. O austríaco ainda levou a equipe a uma quarta colocação no Canadá, salvando a despedida com 3 pontos, mas em um dia 8 de novembro de 1992, no circuito de rua de Adelaide, pela última vez vimos uma March (ainda que sem nenhuma relação com a equipe original que não o nome) alinhar no grid de largada, com o italiano Emanuele Naspetti partindo da 23ª posição e abandonando após 55 voltas e o holandês Jan Lammers saindo em 25º e terminando três voltas atrás do vencedor, Gerhard Berger. Era o fim de uma era.

Em 2009, quando se esperava a adoção de um teto financeiro de custos mais severo, uma equipe March fez parte de uma lista de novos entrantes para a temporada seguinte, porém a intenção não se concretizou.

lll FORA DAS PISTAS

Se você nasceu em 8 de novembro, faz aniversário junto a Edmond Halley, que deu nome para cometa, Bram Stoker, que deu nome, cara e mitologia para o Conde Drácula, Christiaan Barnard, que deu esperança a muitos ao realizar o primeiro transplante cardíaco de sucesso e Bonnie Raitt, que nos deu maravilhas como essa daqui:

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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