Recordista em pontos na história da Fórmula 1, com 4.639,5 no total; único piloto a vencer em 31 circuitos diferentes; ninguém saiu na pole position mais vezes do que ele (104), nem fez 03 corridas perfeitas – os míticos grand slams – em uma só temporada. Em um dos berços do automobilismo, a Grã-Bretanha, é o filho de maior sucesso, com o maior número de vitórias (103) e oito sete títulos mundiais. E, para completar, com apenas 39 anos (completados hoje) já ostenta o título de Sir Lewis Carl Davidson Hamilton.
Nascido em 07 de janeiro de 1985 em Stevenage, uma cidade de 87 mil habitantes 50 km ao norte de Londres que remonta à época da ocupação romana da Grã-Bretanha, Lewis é descendente por parte de pai de granadinos, enquanto sua mãe é uma britânica típica, com quem o pequeno Lewis foi morar após a separação dos pais em 1987. Ele conviveu com as mulheres da família (também viviam juntas duas meia-irmãs, Nicola e Samantha) dos dois aos doze anos, quando mudou para a casa do pai, onde cresceu com a madrasta Linda e seu meio-irmão Nicolas “Nic” Hamilton, hoje também piloto competindo em carro modificado, uma vez que convive com uma paralisia cerebral.
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Embora Lewis Carl negue que seu nome foi uma homenagem invertida ao famoso velocista americano, ele confirma outra história de sua infância, a que diz que sua paixão por corridas de carro começou aos seis anos de idade, ao ganhar um carrinho de controle remoto do seu pai. O velho Anthony, que sempre foi severo com o filho, prometeu que apoiaria sua carreira como piloto desde que Hamilton fosse bem nos estudos, e no natal o pequeno ganhou um kart de presente (era um veículo bem usado, mas custou praticamente o orçamento mensal da família).
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Parênteses: Já que falamos de Carl Lewis, linquemos com outro americano espetacular no atletismo: Jesse Owens humilhou Hitler ao ganhar quatro medalhas de ouro nas Olimpiadas de Berlim em 1936, mas sempre disse que gostaria de ter sido jogador de futebol; Hamilton também pensou em ser boleiro e durante o período de estudos jogou no time da escola junto ao futuro meio-campo da seleção inglesa Ashley Young, mandando bem segundo os relatos. Acabou no asfalto, não na grama, mas soube escolher direito o time do coração, torcendo para o mesmo Arsenal do Nick Hornby. Fecha parênteses.
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Dono de um kart aos 8 anos e com o pai trabalhando em três empregos para pagar os custos do início da carreira, Lewis desde o início se mostrou rápido e competitivo, além de ser cara de pau; com dez anos encontrou com Ron Dennis em um evento, foi pedir um autógrafo e se apresentou: “Oi. Eu sou Lewis Hamilton. Eu ganhei o campeonato inglês de kart e um dia eu quero pilotar seus carros”. O chefão da McLaren escreveu no autógrafo: “Me ligue em nove anos, vamos ver se conseguimos alguma coisa para você”.
Quando completou 12 anos ele tinha um futuro tão grande pela frente que alguém cravou 40/1 em uma das mais famosas casas de apostas de Londres que ele venceria uma corrida de Fórmula 1 antes dos 23 anos. Outra aposta, esta pagando 150/1, predizia que ele seria campeão do mundo antes dos 25.
Ron Dennis não esperou os nove anos para entrar em contato: em 1998, apenas três anos após o encontro, o telefone da casa dos Hamilton tocou e era o dirigente entrando em contato com o piloto para torna-lo parte do programa de desenvolvimento da McLaren. Hamilton foi escalando com sucesso os pelotões intermediários: Fórmula Renault, F3 inglesa, F3 europa e, em 2006, foi campeão em seu único ano na GP2. Era hora de ganhar a categoria máxima.
Em 2007 a McLaren tinha resolvido trocar tudo: com Raikkonen indo para a Ferrari e Montoya já tendo abandonado o barco antes para fechar com a CART NASCAR (canelada apontada pelo Edu Casola), Dennis resolveu pedir uma clássica dupla de pilotos mezzo experiente mezzo iniciante, e trouxe o então bicampeão Fernando Alonso para “ensinar” o padawan Hamilton. O problema é que se o espanhol não é reconhecido por sua paciência e espírito abnegado, o inglês nunca foi lá um exemplo de humildade e respeito à autoridade. Ainda mais subindo ao pódio já na estreia, com um belíssimo terceiro lugar na Austrália. Melhorando ainda mais um pouco, o rookie da temporada botou dois segundos lugares debaixo do braço no Baherin e em Barcelona, e tomou o recorde de piloto mais jovem a liderar um campeonato, que era de Bruce McLaren.
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No GP de Mônaco o climão da garagem vazou: após uma dobradinha ALO/HAM, Lewis disse que não estava sendo liberado para brigar com o companheiro de equipe na pista – a FIA chegou a investigar o caso, porém nada foi comprovado. A primeira vitória veio no Canadá e a segunda foi já na semana seguinte, nos Estados Unidos. Após a etapa da França, oitava do campeonato, Hamilton tinha 14 pontos de vantagem para Alonso, o segundo colocado. Na etapa seguinte, um terceiro lugar em casa no GP de Silverstone o igualou a Jim Clark como os únicos britânicos a terminarem no pódio nove vezes em seguida – com a “pequena” diferença de que Lewis precisou de nove corridas na Fórmula 1 para fazer isso.
Faltando apenas as etapas de Shanghai e Interlagos, a liderança de Hamilton o permitiria vencer o campeonato antes da última corrida, mas uma derrapada na entrada dos boxes no Grande Prêmio oriental e um stall no câmbio na descida do Lago o impediram de manter a liderança que tinha até então, dando o título para Kimi Raikkonen. Ou seja, Lewis não foi campeão nem aqui, nem na China. Ao menos o vice veio com o recorde de piloto mais novo a terminar a briga pelo título em segundo lugar, tomado em 2009 por Sebastian Vettel.
Muito se especulou se a disputa interna com Alonso e a falta de pulso firme de Ron Dennis fizeram que nenhum dos seus dois pilotos pudesse ganhar o título de 2007, mesmo com o melhor carro, e Alonso acabou se cansando e pedindo para sair (Capitão Nascimento diria que assumiu a posição de zero-dois). Hamilton ganhou de natal Heikki Kovalainen como novo companheiro de equipe, além de um contrato para permanecer na McLaren até o final de 2012.
A temporada de 2008 começou com Hamilton na pole e no alto do pódio desde a primeira etapa. Um grande highlight do ano foi o Grande Prêmio de Silverstone, debaixo de um temporal que só a ilha da rainha pode receber. A apresentação de gala e consequente vitória caseira até hoje é considerada uma das melhores da carreira de Lewis Hamilton, que na conferência à imprensa admitiu ter sido a corrida mais difícil e o primeiro lugar mais significativo que já havia alcançado na sua história. A disputa com Felipe Massa foi bastante encardida na metade final do campeonato. Chegando ao Brasil com 07 pontos de vantagem, bastava a ele um quinto lugar na corrida para tornar-se o campeão do mundo mais jovem da Fórmula 1. A prova foi épica, com direito a chuva vindo da represa, vitória de Felipe Massa, ultrapassagem de Vettel deixando o inglês numa insuficiente sexta posição, comemoração do Titônio e infelizmente para nós brazucas, uma derrubada de 18 segundos de diferença para um pobre Glock que patinava no asfalto e uma ultrapassagem na última curva, fazendo de Hamilton o primeiro inglês campeão mundial desde o título de Damon Hill em 1996.
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Entre 2009 e 2012 Hamilton teve altos e baixos na carreira, mas não foi páreo primeiro para as mágicas Brawns e depois para a dupla Newey & Vettel. Em 28 de setembro de 2012 Lewis anunciou que a parceria de uma vida com a McLaren chegara ao fim e que ele iria mudar de ares, assumindo a vaga da Mercedes deixada pela segunda aposentadoria de Schumacher. Tendo Nico Rosberg ao lado, Hamilton novamente dividiria a mesa de almoço no motorhome com o alemão que fora seu companheiro e rival no kart. Mesmo passando por um ano de adaptação à nova casa, a primeira vitória veio na Hungria e, ao final do campeonato, um quarto lugar geral mostrava que bons tempos estavam chegando.
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A temporada de 2014 começou com a regra da numeração fixa, e Hamilton teve um surto de nostalgia ao escolher o 44 que usava nos tempos do kart. Uma Mercedes dominante já nos testes de pré-temporada adiantava que a guerra seria intestina e Nico e Lewis passaram o ano trocando jabs e fintas até Spa, mas depois o inglês engatou uma série de cinco vitórias consecutivas (Itália, Cingapura – é estranho, mas é com “C” mesmo – Japão, Rússia e USA) e levou o bicampeonato no infame GP dos pontos dobrados em Abu Dhabi.
O tricampeonato em 2015 veio ainda mais fácil, com três corridas de antecedência e vários recordes batidos. Ninguém chegava na Mercedes, e após três anos de supremacia sobre Rosberg parecia que Hamilton tinha uma autobahn aberta à sua frente.
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Só que o filho do Keijo, mesmo não tendo o charme do bigode do pai, não iria desistir antes de carimbar as faixas do inglês: provando que não era apenas um rostinho bonito no grid, Rosberg passou o ano inteiro focado em ganhar o campeonato, e foi recompensado numa última prova cheia de controvérsias, com o alemão acusando Hamilton de deliberadamente reduzir o ritmo na liderança para deixa-lo à mercê da matilha de lobos que vinha atrás, na esperança de que Vettel ou Verstappen fizessem a ultrapassagem para o segundo lugar, dando o quarto título ao inglês.
Tendo alcançado seu objetivo (vencer um campeonato, e sobre Hamilton), Rosberg ligou para o pai, disse “estamos quites” e deu tchau ao circo. Como já está se tornando tradição, sempre que um grande rival deixa o lado de lá dos boxes vazio Lewis ganha um colega finlandês. Em 2017, ainda com o melhor carro (“ma non troppo, catzo!”, diria Vettel) e ao lado do inexpressivo Valtteri Bottas, bastou a Hamilton controlar a Ferrari para se tornar tetracampeão do mundo. Colecionando recordes na mesma quantidade que acumula controvérsias (na mais recente, por motivos desconhecidos até o momento em que esta coluna está sendo escrita, o piloto apagou todas as postagens de suas contas no Instagram e Tweeter), inegavelmente Lewis Hamilton já tem um lugar garantido no panteão dos melhores pilotos da história. E ainda quer mais.
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lll FORA DAS PISTAS
Hamilton obliterou a concorrência pela sua importância no automobilismo, mas o texto principal poderia ter sido sobre outros eventos importantes para a F1, como a indicação de Christian Horner como chefe de equipe na Red Bull em 2005, ou a compra de 50% da Ferrari pelo grupo Fiat, em 1969, trazendo os Agnelli para o lado da família do Comendador Enzo.
Ainda no segmento automobilismo, em 07 de janeiro de 1956 nos foi apresentado o Plymouth Fury sport coupe, carro que ficaria icônico na cultura pop em seu modelo 58 como a Christine, de Stephen King. O filme é médio, o livro é um dos melhores do mestre.
E quem faz aniversário no mesmo dia de Hamilton é outro gênio controverso em sua área. Nascido em 1964, Nicolas Kim Coppola é sobrinho do famoso diretor de O Poderoso Chefão e, para não ser acusado de utilizar o sobrenome como trampolim para sua carreira adotou o sobrenome de seu herói preferido, Luke Cage. Muitos o consideram um canastrão, mas um cara que fez A Rocha, Despedida em Las Vegas, Con Air, A Outra Face e 60 Segundos, entre outros, não pode nunca ser esquecido. Godspeed, Nicolas Cage.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.