O circuito de Silverstone já tem seu nome cravado na história. Foi lá que a F1 deu seu pontapé inicial, em 1950 e mesmo depois de tantos anos, ainda faz parte do calendário.
A história do circuito começa na RAF Silverstone, base de treinamento militar da Força Aérea britânica, construída na áreas de fazendas onde ficava uma igreja do século 12, erguida em homenagem ao Santo Thomas Becket (que dá nome a uma das curvas, apenas com um “t” a mais na grafia). Depois da 2ª Guerra Mundial, o local parou de ser utilizado e o local foi transformado novamente em fazendas, já que a Guerra fez o país ter uma escassez de alimentos. Mas um grupo de entusiastas viu nas pistas de decolagens abandonadas o local ideal para correr e frequentemente invadiam o local para fazer suas corridas.
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Enquanto isso, o Royal Automobile Club (RAC) buscava um lugar para realizar corridas. A primeira opção era alugar Donington Park, que estava sendo usado como depósito de veículos pelos militares. A negociação foi um fracasso e Crystal Palace, a segunda opção, estava destruída e precisava de reparos, assim como Brooklands, que ainda por cima estava em posse dos militares.
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Em 1948, Earl Howe viu nas pistas de decolagens de Silverstone e em suas estradas adjacentes, o local ideal para a criação de um circuito. Só faltava convencer o Ministério da Agricultura, que tinha a posse do local. Para o Ministério, a produção de alimentos era mais importante do que as corridas, mas Howe conseguiu convencer seus futuros locatários, de que a fazenda não precisaria parar sua produção para que as corridas acontecessem. Contrato de aluguel assinado, a transformação de base aérea para circuito ficou nas mãos do ex-piloto da Royal Air Force (RAF) Jimmy Brown, que utilizou muitos fardos de feno e cordas para delimitar o traçado.
E no dia 2 de outubro de 1948, cerca de 100.000 pessoas foram ao novo circuito para ver as primeiras corridas. Primeiro veio a competição da categoria 500cc, vencida por Spike Rhiando. Logo depois veio a corrida principal, que teve a vitória de Luigi Villoresi, pilotando uma Maserati.
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O traçado foi criado usando as pistas do aeródromo e algumas estradas locais, marcando os limites com barris de óleo e blocos de feno, deixando o público separado da pista apenas por uma corda. Mesmo com todos os percalços, a corrida foi um sucesso e em 1949, a pista improvisada foi ganhando melhorias e mudanças em seu traçado.
No dia 13 de maio de 1950, Silverstone abrigou seu evento mais importante: a primeira corrida de F1 da história!
Mesmo com 11 competidores britânicos presentes no grid, foi o italiano Giuseppe Farina, com sua Alfa Romeo que saiu com a vitória. E para se ter uma noção da importância do evento, o Rei George IV e sua família compareceram ao circuito de 4,710 km, o único evento de automobilismo que contou com a presença Real.
Silverstone, no entanto, perdeu para o circuito de Aintree, que se revezava na realização da corrida, a chance de ver o primeiro piloto britânico a vencer em casa, quando Stirling Moss venceu o GP da Grã-Bretanha de 1955. Restou ao circuito esperar até 1958 para ver um piloto britânico vencer em sua pista, com Peter Collins, pilotando uma Ferrari, depois que Mike Hawthorne bateu na trave em 1954.
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Em 1951, a administração de Silverstone passou para o British Racing Drivers Club (BRDC) e o circuito passou por mais melhorias, tanto na pista quanto na infraestrutura, criando também um traçado alternativo com metade do comprimento do principal. A maior novidade foi a mudança da linha de largada/chegada, colocada entre as curvas Woodcote e Copse, além da construção de toda a estrutura de boxes no mesmo local.
As disputas na pista continuaram acirradas e criou uma situação inusitada. Em 1954, sete pilotos dividiram a volta mais rápida da prova. Alberto Ascari, Jean Behra, Stirling Moss, Juan Manuel Fangio, Onofre Marimon, Mike Hawthorn e Jose-Froilan Gonzalez marcaram o tempo de 1m50s000, com Gonzalez vencendo a corrida.
Em 1961, a BRDC comprou as terras ao redor do circuito e em 1964, fez uma nova área de boxes, já que a anterior, colada à pista, já tinha se mostrado perigosa para os mecânicos. No ano seguinte, os torcedores locais tiveram motivos de sobra para comemorar: os cinco primeiros colocados da corrida foram britânicos, com Jim Clark vencendo o GP da Grã-Bretanha pela 4ª vez consecutiva, sendo a segunda em Silverstone, seguido de Graham Hill, John Surtees, Mike Spence e Jackie Stewart.
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A pista precisou passar mais uma vez por alterações, depois de um grave acidente durante o GP da Inglaterra de 1973. Na corrida, Jody Scheckter perdeu o controle da sua McLaren e causou um engavetamento. Apenas um piloto saiu mais machucado, mas os organizadores viram que os detritos poderiam ter atingido o público. Para o GP da Grã-Bretanha de 1975 (a edição de 1974 foi realizada em Brands Hatch), uma chicane foi colocada na Woodcote, mas também mantendo o traçado original para algumas categorias, como a MotoGP.
Com suas longas retas e curvas de alta, aliada com a chegada da era turbo, as velocidades atingidas pelos pilotos preocupou os organizadores e para a corrida de 1987, a chicane da Woodcote foi substituída por uma curva mais acentuada, chamada de Luffield, além de novas chicanes na parte do Circuito Nacional, uma das quatro opções de traçados disponíveis na época.
Mas a maior mudança de traçado viria em 1991. Com exceção das curvas Woodcote e Abbey, todas as demais sofreram alteração. De todas as mudanças, as mais significativas foram na Maggotts-Becketts-Chapel, que se transformaram em uma série de curvas, a criação da curva Vale, entre a Stowe e a Club e o trecho antes de chegar na Woodcote, que ganhou uma série de quatro curvas entre ela e a Farm Straight.
Com as mudanças, o circuito passou a ter cinco layouts diferentes, podendo receber diversas categorias. Nesse mesmo ano também aconteceu uma das cenas mais icônicas da história da F1. Na última volta do GP da Inglaterra, Senna ficou sem combustível e parou na pista. O vencedor Mansell, fazendo sua volta de desaceleração, viu Senna parado na pista e parou para dar uma carona ao piloto da McLaren. A cena da carona acabou entrando na história.
Confira o Vídeo de Senna pegando uma carona com Mansell aqui!
E foi Senna também a causa de novas mudanças no circuito em 1994. Após as mortes do piloto brasileiro e de Roland Ratzenberger, em Ímola, a segurança dos circuitos foi revista, causando mudanças mais significativas em vários pontos da pista. Outras mudanças na pista foram acontecendo durante os anos, como em 1996, quando uma nova reforma alterou a curva Stowe, que tinha ganhado uma chicane em 94. No ano seguinte, Priory, Brookland e Copse foram alteradas.
Apesar de todas as mudanças, o futuro do circuito com a F1 passou a ser incerto, com Brands Hatch e Donington Park brigando pela vaga para sediar a etapa britânica. A solução foi tentar trazer a MotoGP de volta, fazendo mais reformas na pista para se adaptar à categoria. Mas os planos de reforma foram alterados quando Silverstone conseguiu o contrato para continuar a receber a F1 e agora todas as alterações visavam atender às demandas de Bernie Ecclestone.
Essas alterações estrearam na corrida de 2010 e no ano seguinte, foi feita a mudança mais significativa, com a linha de largada/chegada sendo transferida para o novo complexo de boxes que foi criado entre as curvas Club e Abbey. Toda a área de boxes anterior permaneceu intacta, assim como a linha de largada/chegada usada antigamente, criando dois traçados, o Nacional e o Internacional, que podem ser usados de forma completamente independentes. A área entre as curvas Bridge e Priory acabou sendo desativada e virou uma área de picnic, além de fazer parte do Museu de Silverstone. Após a reforma, o circuito passou a contar com 6 opções de traçados diferentes, além de pequenas alterações no traçado principal, para acomodar categorias como a MotoGP.
Por conta da pandemia de Covid-19, Silverstone acabou recebendo duas corridas em 2020. A segunda corrida foi escolhida para comemorar os 70 anos da categoria, justamente no circuito onde tudo começou, mas foi a primeira corrida que viu Hamilton quebrar mais um recorde. Ao conquistar a pole, o heptacampeão superou Ayrton Senna como o piloto com mais poles em casa.
Celebração dos 70 anos de Fórmula 1, confira o vídeo aqui!
Entre os pilotos da casa, 10 deles já venceram em Silverstone. Na lista estão Peter Collins, Jim Clark, Jackie Stewart, James Hunt, Nigel Mansell, Damon Hill, Johnny Herbert, David Coulthard e Lewis Hamilton, que também é o maior vencedor no circuito
com 8 vitórias. Alain Prost vem em seguida, com 5, enquanto que Jim Clark, Nigel Mansell e Michael Schumacher têm 3.
Em número de pódios, Hamilton também está isolado na liderança, com 13 aparições. Michael Schumacher e Kimi Raikkonen dividem o segundo lugar, com 7. E Hamilton ainda igualou o número de voltas mais rápidas no circuito, que pertencia a Nigel Mansell, com 6.
Com tantas vitórias, poles e pódios, em 2020, Sir Lewis Hamilton recebeu uma homenagem da BRDC, que renomeou a reta de largada/chegada para Hamilton Straight. Até agora nenhuma pessoa tinha sido homenageada, com a maioria dos nomes se referindo à localização das curvas antes do circuito ser construído, como a curva Abbey, recebe esse nome em homenagem à Luffield Abbey, igreja destruída do século 12 encontrada no local, ou Hangar, onde antes ficavam dois dos principais hangares da base aérea.
Entre os brasileiros, três pilotos já venceram em Silverstone. Emerson Fittipaldi (1975), Ayrton Senna (1989) e Rubens Barrichello (2003). Já em número de pódios, Barrichello tem 6, Senna tem 3, Emerson Fittipaldi e Nelson Piquet tem 2 e José Carlos Pace tem 1.
Outra curiosidade é sobre o troféu entregue ao vencedor do GP da Inglaterra desde 1974. Pouco se sabe sobre a real origem do troféu, que foi fabricado no final dos anos 1890, mas uma inscrição sugere que ele teria sido doado por Charles Rolls, um dos fundadores da Rolls Royce para o BRDC. Depois de ter a placa mudada, passou a ser oferecido ao vencedor, que tem seu nome gravado no troféu. Mas o troféu é o único que o vencedor não leva para casa, voltando para a sede da Royal Automobile Club depois da corrida. Em seu lugar, o vencedor fica com um segundo troféu, oferecido pelo patrocinador da corrida.