Ficha técnica
Nome do circuito: Donington Park
Comprimento da pista: 4,023 km
Número de voltas: 76
Distância total: 305,520 km
Recorde da pista: 1:18.029, Ayrton Senna (1993)
Primeira corrida na F1: 1993
Se tem uma palavra que pode definir o circuito de Donington Park é História. A pista, localizada a cerca de 190 km da capital inglesa, é a mais antiga ainda em uso na Inglaterra.
A história de Donington Park começou nos anos 1930. Na época, Brooklands, a cerca de 50 km de Londres, era o local para os amantes do automobilismo. Faltava uma opção semelhante para os moradores do norte do país, que não tinham ainda uma pista permanente. E é aí que Fred Craner, um ex-motociclista, entra na história.
Dono de uma garagem e também atuando como secretário do Derby and District Motor Club, Craner começou a procurar um lugar para realizar corridas na região e logo ficou de olho nas terras de Donington Park.
Para entrar no parque, que fazia parte de uma propriedade privada, era necessário pagar. Feito isso, Craner começou a explorar a região, até invadir uma área restrita. As terras que ele estava de olho faziam parte da Donington Hall, mansão construída pelo Marquês de Hastings Francis Rawdon-Hastings em 1790 e que, desde 1902, estava com a família Gillies Shields, que só perdeu a propriedade momentaneamente, quando ela serviu de campo de prisioneiros na Primeira Guerra Mundial.
Craner conseguiu falar com John Gillies Shields, que gostou da ideia e autorizou a construção de uma pista em sua propriedade.
Cinco semanas depois, uma pista de terra foi feita juntando os caminhos já existentes no parque e um grupo de motociclistas se juntou para disputar a primeira corrida, em 1931, com C.F. ‘Squib’ Burton se sagrando vencedor diante de 20 mil espectadores.
Vendo o sucesso com o público, foram feitas melhorias nas arquibancadas, enquanto as corridas continuavam a todo vapor. Nos anos 1930, novas reformas foram feitas para abrigar as corridas de carros, com a pista sendo asfaltada e ampliada. Em março de 1933, uma corrida de apenas quatro carros marcou a entrada do automobilismo no circuito.
Dois anos depois, o traçado recebeu sua primeira mudança, com um longo hairpin sendo criado em uma das extremidades da pista. A linha de largada/chegada também foi mudada para a nova parte do traçado.
A nova pista começou a atrair competidores e em 1935, o primeiro Grande Prêmio foi realizado em Donington Park, contando com a presença de nomes como Giuseppe Farina. O vencedor da corrida foi Richard Shuttleworth, pilotando uma Alfa Romeo.
Em 1937, esse hairpin acabou sendo ampliado e logo veio a consagração: na inscrição para a corrida daquele ano, constavam duas equipes que dominavam na época, Mercedes e Auto Union.
Os carros da Mercedes-Benz foram pilotados por Manfred von Brauchitsch, Hermann Lang, Richard Seaman e Rudolf Caracciola, enquanto que os da Auto Union foram conduzidos por Bernd Rosemeyer, Achille Varzi e Herman Müller.
Os 50 mil presentes no circuito viram um show das duas equipes, com Rosemeyer saindo com o troféu de vencedor, seguido de von Brauchitsch e de Caracciola.
No ano seguinte, as duas equipes voltaram a se enfrentar, apesar da corrida quase não acontecer por conta da guerra. Os carros da Mercedes chegaram a ser mandados de volta, mas a corrida acabou acontecendo no dia 22 de outubro, 21 dias após a data original. A Auto Union novamente saiu com a vitória, dessa vez com Tazio Nuvolari, seguido das Mercedes de Lang e Seaman.
A temporada de 1939 estava cheia de corridas agendadas, mas a Segunda Guerra Mundial acabou com os planos do circuito. A área foi requisitada pelos militares, que usaram o circuito como estacionamento de veículos. No terreno vizinho foi construída uma base aérea, que mais tarde se transformaria no aeroporto de Midlands.
Depois que a guerra acabou, foram feitas algumas tentativas de reavivar o circuito, mas sempre tinha algum empecilho que impedia o projeto de ir adiante. Foi aí que veio Frederic Bernard “Tom” Wheatcroft, que depois de assistir às corridas em Donington Park em 1937 e 1938, se tornou um amante do automobilismo, colecionando carros e patrocinando pilotos. Em 1971, Wheatcroft comprou uma área de 120 hectares, que além de Donington Hall, incluía também o circuito.
A primeira providência foi construir um local para abrigar sua coleção de carros, que foi transformado no museu Donington Grand Prix Collection. Depois, Wheatcroft foi atrás de investidores e das licenças necessárias para reformar o circuito e colocá-lo para funcionar.
Em 1977, finalmente as obras terminaram e a pista estava pronta para receber corridas novamente, com um traçado que lembrava o primeiro desenho usado na inauguração.
A reabertura foi feita com um evento especial, realizado em maio e que contou com vários carros pré e pós guerra da Mercedes. Hermann Lang apareceu como convidado e pode dar uma volta na pista a bordo de um Multi-Union II Brooklands.
As competições de carro tiveram que esperar um pouco para começar, já que no dia marcado, uma forte chuva alagou o circuito. Restou a Donington abrigar primeiro uma corrida de motos, assim como foi feito no início de sua história, com os carros finalmente entrando em pista no dia seguinte.
O circuito começou a receber corridas internacionais, como a Formula 2, mas Tom Wheatcroft tinha planos mais ambiciosos. Ele queria que o circuito voltasse a receber Grandes Prêmios e isso significava que ele teria que brigar com Silverstone e Brands Hatch, que na época se revezavam na realização do GP da Inglaterra. Para isso, o traçado passou por mais uma alteração no final de 1985, quando finalmente ele conseguiu o dinheiro e a permissão necessária para a obra, que deixou a pista com 4,020 km.
Os Grandes Prêmios voltaram, mas apenas na motovelocidade. Sem se deixar abater, Wheatcroft batalhou por anos e por fim, no dia 11 de abril de 1993, Donington Park finalmente sediou o GP da Europa de F1. E que corrida! Dois brasileiros deram um show no circuito inglês. Sob chuva, Ayrton Senna não deu chances para os adversários e ultrapassou Prost, Hill, Wendlinger e Schumacher para sair da 5ª posição para a liderança da corrida, tudo isso antes de completar a primeira volta.
Já Rubens Barrichello se classificou em 12º, mas foi beneficiado por JJ Lehto ter tido problemas e largado dos boxes. Assim que a corrida começou, Barrichello foi passando por seus adversários, até completar a primeira volta em 4º lugar. Enquanto Senna vencia com facilidade, Rubens perdeu o pódio a cinco voltas para o fim, quando seu carro ficou sem combustível.
Pela façanha na abertura da corrida, que é considerada por muitos como a melhor primeira volta da F1, Senna ganhou uma placa no circuito e a McLaren MP4/8 foi comprada por Wheatcroft e colocada em seu museu, junto com a bandeira que o piloto ostentou na volta de desaceleração.
Apesar do sucesso da corrida, as instalações deixavam a desejar e para continuar a receber a categoria, as demais instalações do circuito precisavam melhorar. Sem dinheiro para isso, a F1 não disputou mais corridas no circuito, que só conseguiu dinheiro para fazer uma pequena reforma em 2006. Vendo que não teria condições de elevar o circuito para os padrões da F1, Wheatcroft vendeu uma licença de 150 anos para a Donington Ventures Leisure Ltd, comandada por Simon Gillett.
Agora com dinheiro para as obras, Donington Park tinha planos de uma renovação completa. A pista sofreria alterações feitas por Hermann Tilke, que aumentaria o comprimento da pista, que passaria a ter 4.738km, além de ganhar uma nova área de boxes e mais duas configurações de pista que poderiam ser usadas simultaneamente. Toda essa promessa rendeu ao circuito um acordo de 17 anos com Bernie Ecclestone para receber a F1, que começaria em 2010.
Em 2009, as obras começaram, com a demolição da icónica Dunlop Bridge, que foi construída no circuito em 1977 e a construção de um túnel que ligaria as curvas McLeans e Coppice.
Mas em outubro, a Donington Ventures Leisure não conseguiu os 135 milhões de libras exigidos para a realização da corrida e no mês seguinte, a empresa entrou em recuperação judicial. Com isso, a FIA deu os direitos do GP da Inglaterra para Silverstone até 2027, com o circuito também ficando com as corridas da MotoGP, deixando Donington sem esperança alguma de receber um grande evento tão cedo.
O contrato de aluguel foi cancelado e o circuito voltou para as mãos da Wheatcroft & Son Ltd, empresa liderada por Kevin Wheatcroft, após a morte de seu pai em 2009. Novamente sem verba para a reforma, a família teve que novamente alugar os direitos do circuito, dessa vez para a Adroit Group, que levou parte das obras adiante, inclusive o túnel que tinha ficado a meio construir. O traçado de Tilke acabou não sendo usado, se mantendo muito próximo do que era nos anos 1980, com algumas pequenas alterações feitas no traçado nacional e na curva Foggy Esses sendo realinhada no traçado Grande Prêmio.
Quando o circuito finalmente ficou pronto e recebeu o aval para receber corridas, a empresa Wheatcroft e a Adroit não chegaram em um acordo para a parte final do contrato de aluguel e o acordo foi cancelado. A administração voltou para as mãos da família, dessa vez sob o nome de Donington Park Racing Ltd e as corridas voltaram a acontecer, com uma etapa da WTCC acontecendo em 2011 e a volta da World Superbikes.
Em janeiro de 2014, a Formula E anunciou que iria fazer sua base em Donington, construindo um prédio para abrigar os escritórios e garagens das equipes, que utilizariam a pista do circuito para os testes.
Finalmente, em 2017, o circuito foi alugado por 21 anos para o MSV Group, do ex-piloto Jonathan Palmer, que já administrava outras pistas na Inglaterra, como Brands Hatch, Oulton Park, Cadwell Park, Bedford Autodrome e Snetterton. O grupo MSV logo reformou todo o circuito, construindo mais amenidades para o público, como mais postos de toaletes, restaurantes e cafés. Toda essa reforma atraiu várias categorias, como a World Superbikes, British Superbikes, BTCC e a British GT/F3.
Apesar de ver o circuito idealizado pelo patriarca operando normalmente, a família Wheatcroft teve que encerrar as atividades do museu Donington Grand Prix Collection em 2018, já que a MSV não se interessou em adquirir o museu junto com o circuito por não o achar lucrativo. O museu contava com mais de 130 carros, incluindo todas as McLarens nas quais Senna venceu seus Mundiais e a Toleman pela qual ele fez sua estreia na F1 em 1984.
Na única corrida de F1 disputada no circuito, Alain Prost marcou a pole, com a vitória ficando nas mãos de Senna, com Damon Hill terminando em 2º e Prost completando o pódio.
O pódio de Hill foi o melhor resultado dos pilotos da casa, que ainda contou com Johnny Herbert, Derek Warwick e os irmãos Mark e Martin Brundle no grid. Entre os brasileiros, além de Senna e Barrichello, que mesmo abandonando, ainda terminou em 10º, a corrida contou com Christian Fittipaldi, que terminou a prova na sétima colocação.