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Raio-X da Metade da Temporada – A disputa para se estabelecer como 4ª força

A Alpine se aproveitou da falta de regularidade da McLaren para capitalizar pontos e seguir para as férias como 4ª força do grid

Estamos na semana do retorno da Fórmula 1, com uma corrida sendo disputada na Bélgica. Escolhi começar a semana falando sobre McLaren e Alpine, duas equipes que estão batalhando pelo posto de 4ª colocada no Campeonato de Construtores.

O início das férias para elas foi extremamente caótico. Com Sebastian Vettel anunciando a sua aposentadoria, Fernando Alonso viu a oportunidade perfeita para defender a Aston Martin no próximo ano e deixar a Alpine.

Tudo indica que o time francês esperava manter Alonso por mais um ano e negociar o contrato de Oscar Piastri, mas o time francês perdeu os prazos para a contratação do piloto australiano e tentou dar uma cartada, se garantindo em um segundo contrato estabelecido com o australiano. O empresário de Piastri, Mark Webber começou a negociar um contrato com a McLaren, para que o piloto possa substituir Daniel Ricciardo no próximo ano.

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A bagunça foi formada, o clima pesou e em uma competição que tem muito dinheiro envolvido, várias questões ficaram para ser resolvidas neste retorno das férias. Fora as milhares de dúvidas que toda essa história e confusão geraram.

MCLAREN

Para fins de comparação, esses são os números de Lando Norris e Daniel Ricciardo na temporada 2022 – Foto: reprodução F1

A McLaren seguiu para as férias de verão ocupando a 5ª posição do Mundial de Construtores, somando 95 pontos, contra os 99 conquistados pela Alpine. A equipe de Woking não desenvolveu um carro tão competitivo e oscilou bastante em suas performances.

Antes dos testes de pré-temporada no Bahrein, Daniel Ricciardo testou positivo para o Covid-19, perdendo os dias de atividade que foram realizados. A McLaren que não conta com pilotos reservas, usou apenas Lando Norris durante as sessões, algo que prejudicou o time em seu cronograma de atividades, pois contava com apenas um carro e um piloto fazendo a coleta de dados.

Logo nas primeiras avaliações realizadas do carro no Bahrein, a McLaren identificou um problema no freio dianteiro e precisou mudar o seu design para evitar o superaquecimento. A questão só apareceu por conta das temperaturas mais elevadas que os times se depararam na segunda fase de testes.

Existia muita expectativa quanto ao desempenho do MCL36, mas novamente o time criou um carro difícil de guiar. As mudanças no regulamento trouxeram novos carros para a categoria, mas a filosofia da McLaren relacionada a construção do carro ainda permaneceu com eles. Para alguns pilotos foi um pouco mais fácil ‘esquecer’ o passado e se adaptar, enquanto na McLaren tudo ficou bem dividido.

A McLaren introduziu um grande pacote aerodinâmico na Espanha, mas passou a trabalhar sem a possibilidade de realizar outras grandes mudanças no carro, dando prioridade para aperfeiçoar os ajustes. Na França o time fez mais uma modificação no carro, voltada para o refinamento do seu design.

O time Papaya poderia fazer mais se fosse um momento diferente na Fórmula 1, onde o limite do teto orçamentário não estive ativo. A McLaren foi uma das equipes que defendeu o aumento do teto orçamentário, não apenas por conta da inflação, mas também pela dificuldade de fornecer novas mudanças para o carro, sem furar o teto orçamentário.

Neste momento de definições para a próxima temporada, a McLaren precisa identificar qual é o melhor caminho, justamente para não perder mais posições no Campeonato de Construtores.

Outra dúvida que fica para esse restante de temporada, é sobre a possibilidade de a McLaren recuperar a quarta posição do Campeonato já que o time foi superado pela Alpine na França. Daniel Ricciardo precisa conseguir bons resultados e Lando Norris não pode decair na temporada como aconteceu no final de 2021.

PILOTOS

Daneil Ricciardo e Lando Norris correram por mais uma temporada juntos na McLaren, mas novamente a diferença entre eles ficou nítida e o australiano enfrentou novos problemas de adaptação ao carro – Foto: reprodução F1

O carro da equipe se provou bem complicado, mas Lando Norris mais uma vez se adaptou de forma mais rápida ao modelo. O piloto tentou esquecer o que sabia sobre os outros carros e se focar no novo projeto, pois o carro da McLaren não é um modelo que se adapta ao piloto, mas o competidor precisa estar pronto para as adversidades.

A diferença fica clara na pista quando vemos Lando Norris na sétima posição do Campeonato, após conquistar 76 pontos, contra a décima segunda posição ocupada por Ricciardo, onde o australiano conta com apenas 19 pontos.

Norris também fez o trabalho de dividir os seus dados obtidos com o carro, com o seu companheiro de equipe. Analisar corridas e as performances de cada um deles para tentar auxiliar Ricciardo. Infelizmente nada funcionou, o australiano segue enfrentando dificuldade em circuitos onde a McLaren poderia apresentar um desempenho melhor.

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A McLaren não conseguiu se manter na quarta posição do Campeonato, não apenas pelos pontos que Daniel Ricciardo não conquistou, mas também pela performance variada dos pilotos que dificulta o crescimento da equipe.

Ricciardo corre o risco de deixar a McLaren, pois a sua permanência no time tem ficado insustentável. Neste casamento o time falhou em não entregar um carro adequado, mas o australiano também tem a sua parcela de culpa pela dificuldade para se adaptar.

Vemos a McLaren e sua dupla de pilotos em praticamente uma continuação da atuação que tiveram no último ano, onde não conseguimos ver uma progressão do projeto, mas uma regressão é nítida.

ALPINE

Tabela para fins de comparação do desempenho de Fernando Alonso e Esteban Ocon na temporada 2022 – Foto: reprodução F1

A Alpine seguiu para as férias como 4ª força, mesmo enfrentando os mesmos problemas de regularidade da McLaren. Como mencionamos nos outros textos, o meio do pelotão é bem caótico, formado por times que lidam com problemas variados e que nem sempre conseguem pontuar de forma regular.

Por outro lado, a Alpine foi se aproveitando exatamente disso para conquistar os seus pontos. A equipe francesa é ‘amostrada’, em alguns treinos livres Fernando Alonso apareceu entre os primeiros colocados, disposto a brigar por posições melhores no grid. O espanhol ainda aproveitou a chuva no Canadá para surpreender a todos e conseguir um segundo lugar para a largada.

O time foi promovendo atualizações no carro para melhorar o seu desempenho, algo que na prática funcionou muito bem. A Alpine então em alguns episódios esteve brigando diretamente com a McLaren, não apenas em uma melhor posição para a largada, mas também durante as corridas.

A Alpine ainda está vivendo uma fase de transição, Otmar Szafenauer deixou a Aston Martin para comandar a Alpine em 2022. O time francês tinha optado por uma operação não muito clássica após a saída de Cyril Abiteboul, contando com dois chefes de equipe.

Szafenauer tem um extenso currículo, mas em sua administração uma bomba estourou em suas mãos. O chefe de equipe perdeu os prazos do contrato de Oscar Piastri, enquanto tentava renovar com Fernando Alonso por mais uma temporada. O chefe de equipe descobriu que Alonso não guiaria pela Alpine junto ao comunicado da Aston Martin.

O romeno se mostrou perdido quando a imprensa o questionou sobre o contrato de Piastri, após a mudança de Alonso de equipe. As coisas se desenrolaram muito rápido, a Alpine viu uma oportunidade de anunciar o australiano, tendo em vista que não teria mais como fechar com Alonso, mas viu Piastri na sequência negando o seu contrato e a possibilidade de guiar pela Alpine em 2023.

Piastri é uma cria da Alpine, o time apoia a sua carreira desde a base, estavam aguardando o momento certo para colocá-lo no grid, mas Otmar mostrou inexperiência quando tentou ficar com dois pilotos, sendo que não tinham dois assentos disponíveis. Agora espera acertar as coisas com Piastri no tribunal.

A Alpine segue em seu passo de melhorar o desempenho e capitalizar o máximo de pontos até o final do ano para se manter na 4ª posição do Campeonato. Por outro lado, a pergunta que fica é… E o clima na equipe? Existe clima para que eles possam fazer tudo certo até o final do ano? Afinal o reboliço que se deu nas férias, foi desencadeado principalmente pelo contrato de Fernando Alonso.

PILOTOS

Ocon e Alonso estiveram juntos para mais uma temporada da Fórmula 1, onde Ocon superou o espanhol, mas é uma dupla movida por um certo equilíbrio – Foto: reprodução Alpine

A dupla de pilotos da Alpine tem funcionado, os pilotos estão próximos na tabela e na pontuação. Sem surpresas, a equipe seguiu trabalhando com pilotos que já conhecia. Esteban Ocon tem contrato até 2024 com o time francês, mas guiará no próximo ano ao lado de um novo companheiro de equipe.

Fernando Alonso lidou com um pouco de azar neste ano, era para o espanhol ter um pouco mais de pontos, mas abandonou em Jeddah, contou com uma estratégia ruim na Austrália, fora a punição em Miami ou a cena bizarra que esteve metido durante a Sprint na Áustria.

A Alpine teve a sua parcela de culpa também em escolhas ruins que realizou durante algumas provas com Fernando Alonso. Por outro lado, Esteban Ocon realizou algumas provas que ninguém via a sua atuação, mas ao conferir a tabela de pontos, o francês estava entre os dez primeiros, mantendo uma certa regularidade de aparições no top-10. Mesmo não fazendo corridas tão expressivas, os pontos eram capitalizados.

Alonso segue sendo aquele piloto que ao ver uma mínima oportunidade para realizar uma ultrapassagem, briga e disputa posições. O carro da Alpine não é tão competitivo, tem sérias questões quando ao ritmo de corrida, mas Alonso criou uma muralha, tentando evitar ultrapassagens ao longo da prova.

Ocon acaba escolhendo as suas batalhas, mas infelizmente em alguns momentos causa na corrida, como na Hungria onde deveria ter brigado com a dupla da McLaren e não atrapalhado Fernando Alonso. A disputa entre companheiros de equipe fez o time perder tempo e por consequência pontos.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.
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