O GP da Bélgica marca a metade da temporada e o retorno das atividades da Fórmula 1 após as férias de verão. O campeonato já tem um direcionamento, mas como estamos enfrentando uma temporada longa, nada está definido, vários times ainda vão buscar entregar uma performance melhor antes do campeonato ser encerrado em Abu Dhabi.
Este é o trecho de maior tensão do calendário, não só pela competição, mas também por conta dos últimos cancelamentos e ajustes do calendário de 2021 em decorrência da pandemia de Covid-19.
Teoricamente temos mais 12 etapas para serem disputadas e a categoria confirma que elas serão realizadas, mas obviamente algumas reposições podem não ocorrer. Até porque é neste trecho que estão localizadas as provas nas américas em outros lugares que o Reino Unido ainda mantém na lista vermelha de contágio.
E o que esperar deste GP da Bélgica?
Bom, as equipes vão trabalhar com a gama intermediária de pneus nesta rodada, estamos falando praticamente de uma corrida de apenas uma parada, mas as estratégias podem ser ditadas pela entrada do Safety Car.
No ano passado, durante a 11ª volta Antonio Giovinazzi perdeu o controle do carro e atingiu George Russell, os dois pilotos abandonaram a prova. A entrada do carro de segurança provocou uma grande movimentação nos boxes para a troca de pneus, confirmado a estratégia de apenas uma parada para vários competidores.
Lewis Hamilton conta com quatro vitórias neste circuito, a última é inclusive do inglês que na ocasião trabalhou com a estratégia de largar com os pneus médios e partir para a utilização dos pneus duros.
O piloto da Mercedes se destaca no número de poles obtidas em Spa-Francorchamps, foram seis obtidas nos últimos anos. Hamilton é certamente o piloto favorito para conquistar a pole, mas também pode estar motivado para obter a vitória, pois atualmente é o líder do campeonato de pilotos e luta para manter a taça de construtores nas mãos do time alemão.
Ao passo que também não podemos descartar Max Verstappen, outro piloto que também deseja retomar a liderança do campeonato. Depois de um abandono e uma prova complicada na Hungria, o holandês certamente vai batalhar por um bom resultado antes da prova que será disputada na sua casa.
A Ferrari não está exatamente no auge para brigar por vitórias, mas já flertou com ela neste ano. No entanto, o time deve usar a sua motivação para brigar pela terceira posição do campeonato, tentando obter um resultado superior ao da McLaren para tentar tomar distância dos rivais. O time italiano conta com 14 vitórias por lá.
Sobre a Pista
Spa-Francorchamps é uma pista muito conhecida pelas equipes, marcando o calendário de Fórmula 1 de forma recorrente. Também o circuito preferido de vários pilotos justamente pela combinação que o circuito fornece.
O traçado conta com 7.004 KM, onde em 71% de sua extensão é feita em aceleração plena. Ele conta com 19 curvas, sendo seis de alta. É o circuito com a maior diferença de altitude entre a zona mais baixa e a mais alta, bem diferente do que atualmente fomos acostumados com os novos circuitos que integraram o calendário da categoria.
E se não fosse o bastante da Rivage até alguns metros após a Stavelot, o trecho conta com 2,5 KM em decida.
E acho que não precisa falar muito, mas se você é novo neste mundo da Fórmula 1, fique atento a Eau Rouge – um grande desafio que vem pouco depois da largada. Obviamente todas essas características também acabam tendo a ação das Forças G.
Sim, é literalmente como andar em uma verdadeira montanha-russa.
História do traçado
Assim como em alguns países da Europa, a Bélgica fez parte do campeonato de automobilismo europeu e algumas provas foram disputadas no seu território desde 1922. O traçado original contava com 15 KM e foi idealizado por Jules de Their e Henri Langlois Van Ophem.
Inicialmente o traçado não era permanente, na verdade ele era formado por vias públicas que passavam pelas colinas Ardennes, entre a vila Francorchamps (situada em Stavelot) e Malmedy. Mesmo com as mudanças que levaram ao que conhecemos de Spa-Francorchamps hoje, uma coisa foi preservada aos longos dos anos: velocidade.
Spa-Francorchamps teve dois traçados diferentes até chegar ao que conhecemos hoje, suas alterações giravam em torno de mais velocidade e depois em segurança, adaptações que foram necessárias para que o circuito pudesse receber a Fórmula 1, mas a competição ainda foi executada em dois outros lugares, em Nivelles em 1972 e 1974, e também em Zolder em 1973 e 1975 à 1982 e novamente em 1984.
A Fórmula 1 colocou a Bélgica no calendário em 1950, mais em 1957 a competição não conseguiu ser executada devido aos preços altos dos combustíveis nos Países Baixos, por conta da crise de Suez. Para o ano seguinte o circuito ganhou uma reforma onde a pista foi recapeada e os boxes ampliados.
O GP da Bélgica voltou a não ser realizado em 1969, logo depois de Jackie Stewart visitar o circuito pela GPDA (Grand Prix Drivers’ Association) e verificar que a pista e o circuito precisavam de algumas adaptações. A sensação de passar por um desafio e sobreviver a ele entre os pilotos começava a diminuir e eles queriam mais segurança para que as provas pudessem ser disputadas. Spa era a pista mais veloz da Europa e a mais perigosa. Quando os proprietários da pista se negaram a fazer as mudanças que eram necessárias nos muros de contenção, as equipes francesas, italianas e britânicas simplesmente se retiraram do evento e ele acabou sendo cancelado em abril.
Duas outras pistas e a chance de novas corridas no país
Depois do veredito final sobre as condições de Spa, o país que não queria deixar as competições automobilísticas tinha ainda outras duas opções: Nivelles e Zolder. Com a prova realizada em 1972 Emerson Fittipaldi foi o vencedor e no ano seguinte foi a vez Jackie Stewart.
A Fórmula 1 acabou voltando ainda em 1974 para Nivelles e novamente o brasileiro venceu, porém manter a pista no calendário foi outra história, ela não agradava aos pilotos e acabou sendo a mais impopular e por fim, foi riscada da competição de vez. Zolder ainda sediou o Grande Prêmio da Bélgica por mais 9 vezes, mas em 1981 ele também entrou para a lista negra de pistas para receber uma corrida, logo após o acidente que levou a morte o mecânico de Osella (Giovanni Amadeo), ao ser atropelado por Carlos Reutemann devido ao pit lane muito estreito. Mas coisas ainda aconteceriam na corrida de 81: logo na largada, após Riccardo Patrese ficar parado com o seu Arrows, David Luchett que era o seu mecânico foi à pista para tentar ligar o carro do piloto, o grande problema foi que Siegfried Stohr bateu na traseira do carro de Patrese e o mecânico ficou estirado no chão com as duas pernas quebradas. A corrida seguia, mas ao perceberem o que estava acontecendo os pilotos pararam para forçar a paralisação da prova até que Luchett fosse removido da pista.
Zolder também ficou conhecida pela morte de Gilles Villeneuve no ano seguinte, após uma colisão com Jochen Mass, seu carro girou várias vezes, ficando completamente destruído e arremessando-o a metros de distância. Gilles morreu à noite no hospital por não conseguir resistir aos graves ferimentos.
Spa, sempre Spa!
Spa acabou passando por diversas mudanças no traçado, a pista ficou um pouco mais curta e todas as alterações que foram feitas fizeram o público voltar a se apaixonar e os pilotos passaram a amar a pista também. Em 1985 ele ainda ganhou um asfalto novo por causa das chuvas que acabavam ocorrendo no local, para que uma melhor drenagem fosse feita. Em 1995 o circuito perdeu uma chicane depois do acidente em Imola de 1994.
O local ainda seria palco de um grande acidente em 1998, quando 13 dos 20 carros que disputavam a corrida acabaram batendo por causa da chuva torrencial, tudo começou pela baixa visibilidade e pela pancada de Michael Schumacher na parte traseira do carro de David Coulthard, mas ao final da prova, o alemão acabou admitindo a culpa.
A Bélgica ainda foi excluída do calendário em 2003 por problemas políticos e sociais, já que na época a União Europeia criou uma proibição onde vetava a associação dos esportes com a venda de tabaco. Novamente em 2006 não tivemos corrida, mas dessa vez a pista passava por mudanças para que pudesse comportar a Fórmula 1 de forma melhor e depois disso ela nunca mais ficou de fora da competição.