A Mercedes conseguiu o sétimo título de construtores, terminou a temporada com 573 pontos, foram 15 poles e 13 vitórias, em um calendário onde foram disputadas apenas 17 provas. Um campeonato muito consistente, mas por ser uma combinação de equipamento, equipe interna, gerenciamento e pilotos. O combo perfeito que possibilitou uma dominação tão grande.
Na classificação o carro era imbatível, e mesmo com a saída do modo festa, o ritmo da equipe na sessão não foi alterado. Na corrida era difícil alcançar Lewis Hamilton e Valtteri Bottas, os pilotos conseguiam se estabelecer na ponta com facilidade, o ritmo era como nenhum um outro.
Eles se esforçaram realizando mais uma temporada forte, a equipe disputou uma Fórmula 1 aparte por conta do seu desempenho muito superior ao dos outros times. Próximo do encerramento da temporada, a dupla da Mercedes cometeu alguns erros na largada, perdendo um pouco de espaço no início da prova, mas logo eles recuperavam o terreno.
Durante a pré-temporada, os alemães roubaram a cena, apresentaram o sistema DAS – Dual Axis Steering ou Direção de Eixo duplo – um sistema que mudava o posicionamento da suspenção mudando a área de conta do pneu com o asfalto. A ideia era trabalhar melhor a distribuição de temperatura na superfície do pneu. Os pilotos realizavam a mudança ao entrar na reta, para melhorar o desempenho do W11.
Para 2021 o sistema não poderá ser utilizado, outras equipes não tiveram tempo para desenvolver o dispositivo na temporada passada, e foi uma inovação da Mercedes considerada legal, mas que só o time pode usufruir.
Após falar sobre a dominância e como o ano da Mercedes foi marcado por vitórias, ainda é necessário mencionar o GP de Sakhir que Lewis Hamilton ficou fora por conta do Covid-19. A equipe é conhecida pelos múltiplos acertos em condições variáveis, estão acostumados a trabalhar da melhor forma, mas naquela prova George Russell assumiu o carro de Hamilton e vinha apresentando um ótimo desempenho. Na ocasião a Mercedes errou no pit-stop do piloto que veio da Williams, confundiram os pneus de Bottas e instalaram no carro de Russell.
O problema se deu pela comunicação do rádio com Russell, que acabou falhando. Não acostumados a cometer erros, quando isso acontece se torna uma coisa épica. Russell tinha chance de pódio, mas ainda teve que lidar com um pneu furado, ele até terminou na zona de pontuação e conquistou alguns pontos, mas o resultado poderia ser um pouco melhor. Já estávamos acostumados ver a Mercedes na ponta durante o ano, mas com George Russell e o domínio do piloto, esse erro foi uma grande novidade.
Lewis Hamilton e Valtteri Bottas
A temporada de Lewis Hamilton foi perfeita, o piloto fechou o ano com 95 vitórias e 98 poles. Quebrou o recorde de vitórias de Michael Schumacher, além de atingir o mesmo número de títulos do alemão. Para simbolizar a conquista das vitórias, durante o GP de Eifel, disputado em Nürburgring, o inglês recebeu o capacete de Schumacher, das mãos de Mick.
Hamilton estava em forma plena e foi até difícil para Valtteri Bottas abocanhar vitórias e poles nesta temporada. O inglês conduzia durante os treinos livres de forma tranquila, mas na classificação ele conseguia extrair o melhor do carro, fazendo a diferença para obter a pole. Só neste ano foram 10 e ele está próximo de chegar ao número 100.
O sétimo título foi uma recompensa do trabalho realizando nestes últimos anos, desde 2019 já acreditávamos que Hamilton conseguiria o título de 2020, nem mesmo a vitória de Bottas na primeira corrida do ano abalou a confiança do inglês, e na realidade, poucas coisas parecem abalar ele.
Mas vale dizer que em 2020 Hamilton foi muito cobrado fora das pistas, as pessoas queriam saber o seu posicionamento sobre os casos de racismo, além de questões ambientais, como o caso do autódromo de Deodoro no Rio de Janeiro. O inglês obviamente usou a sua voz nas redes sociais e até mesmo durante as corridas, como quando cobrou justiça para Breonna Taylor, se ajoelhou em todas as provas do calendário que esteve presente, além de utilizar camisetas com o #BlackLivesMatter.
Hamilton apareceu na lista de pessoas influentes de 2020, ganhou o título de Sir, se tornou um símbolo muito importante das lutas, da determinação, um exemplo para milhares de pessoas. Lutar por várias causas e se tornar essa pessoa que ele é hoje, vem muito de tudo o que o piloto já viveu, ele sabe que o caminho é difícil no esporte e na sociedade em que estamos inseridos. Hamilton criou uma comissão com o seu nome para ajudar jovens, abrindo mais oportunidade e diversidade no automobilismo. Uma campanha para mudar várias áreas, este cara é a fonte de inspiração para muitos dentro e fora da Fórmula 1.
Não é possível falar sobre Hamilton sem mencionar a Mercedes, a equipe também deu oportunidade para o piloto se tornar o que ele é hoje. Compraram suas lutas, estiveram com ele em várias decisões, olharam também para o time e notaram que ainda é necessário ter diversidade na própria equipe. Antes do início da temporada a Mercedes abandonou o carro prata, para usar o preto e ajudar na luta contra o racismo, esta foi uma transformação muito interessante na temporada. Os pilotos trajaram um macacão preto e fizeram parte do que eu considero um momento histórico.
Seven World Titles. Seven iconic @F1 cars.
🏆🏆🏆🏆🏆🏆🏆 pic.twitter.com/NlOPZQdUu5
— Mercedes-AMG PETRONAS F1 Team (@MercedesAMGF1) January 7, 2021
Ainda que a Fórmula 1 não fale abertamente sobre a diversidade, é importante ver que no grid existem equipes, pilotos e patrocinadores que se importam com os movimentos e buscam a transformação.
Agora voltando ao desempenho dos pilotos, Valtteri Bottas foi superado mais uma vez por Lewis Hamilton, até mesmo dentro do time a diferença entre os pilotos não era a ideal. Por vezes o finlandês pneu para obter o ritmo ideal e chegar no companheiro de equipe. A Mercedes não escutou muito Bottas, para eles o mais interessante era os pilotos terminarem a corrida, mas não traçaram estratégias mirabolantes para que o finlandês tivesse chances reais de superar Hamilton.
E muito disso é justamente pela equipe já conhecer o perfil dos seus pilotos, Bottas tenta ser um piloto agressivo, mas este não é o tipo dele, mesmo tendo uma ótima máquina, o piloto não consegue andar o mesmo ritmo que o de Hamilton. Em 2020 Bottas teve que ficar mais atento ao desempenho de Max Verstappen, do que o do companheiro de equipe, pois foi ameaçado pelo holandês que gostaria de ter faturado o segundo lugar no campeonato de pilotos.
É difícil dizer, mas em alguns momentos Bottas parece ser uma marionete. Ele não é um piloto ruim, mas está longe de ser um piloto excepcional, ele é bom porque entrega, desempenha o seu papel de segundo piloto, mas não parece ter aguerrido para ser um campeão. Na corrida em que Russell assumiu o carro de Hamilton, Bottas conseguiu a pole, mas logo foi ultrapassado pelo piloto substituto. Pneu atrás de Russell e por pouco a coisa não ficou feia para ele, aquela lambança da corrida fez com que o finlandês terminasse a corrida, mas apresentou uma queda enorme de desempenho, enquanto Russell seguia lutando.
O histórico de Hamilton acaba facilitando para o lado do piloto, não só os títulos, mas também o conhecimento que o piloto já adquiriu nestes últimos anos. Ainda nesta temporada o inglês terminou uma corrida com três pneus e ainda teve uma ótima leitura na Turquia para não se arriscar e cruzar a linha de chegada na primeira posição. Todas essas coisas acabam jogando a favor de Hamilton.
Em pontos, foram 124 que separaram Valtteri Bottas de Lewis Hamilton. Os dois conseguiram poles neste ano, assim como vitórias. Na disputa interna deu Lewis Hamilton, mas o resultado não é nada ruim, a equipe ainda é a melhor do grid, justamente por conquistar vários pódios ao longo do ano.
Assim como a Red Bull, a Mercedes teve uma queda de pontos de um ano para o outro, em 2019 o time somou 739, enquanto em 2020 fecharam o campeonato com 573, mesmo com a pontuação da temporada não sofrendo alteração.
Hamilton ainda não assinou o contrato com a Mercedes, mas se permanecer no time, devemos ver mais uma temporada com forte desempenho do time.
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