A Fórmula 1 já estava planejando o seu retorno, desde o evento cancelado da Austrália, abertura do campeonato afetada pelo coronavírus. Desde então foi iniciado um processo de negociações e conversas entre os promotores dos eventos e a categoria, além disso sempre foi preciso acatar as ordens do governo local, que em diversos momentos não queria o retorno de grandes eventos.
Bernie Ecclestone falava que todo o final de semana com corrida, era comparado a realização de uma Copa do Mundo, dado o volume de pessoas que são necessárias para o evento. Hoje são 21 países que recebem a categoria, o deslocamento de carga é grande, afinal lidamos com um mundial.
E é neste quesito que os números da categoria me assustam, principalmente para este retorno que de fato vai acontecer. A F1 divulgou em seu site perguntas e repostas sobre esta volta e o que mais chama a atenção são alguns dos números fornecidos por eles:
- Zero espectadores em comparação com a média de 150.000 espectadores em um evento de três dias;
- Zero convidados no Paddock F1 em comparação com os 3.000 habituais;
- 1.200 funcionários essenciais no total, em comparação com os 3.000 a 5.000, incluindo 80 pessoas por equipe de Fórmula 1, em comparação com 130 para eventos normais;
- 60 funcionários de transmissão, em comparação com os mais de 250 habituais, possibilitados devido aos planos da F1 de operar uma operação de transmissão remota.
Realmente, excluindo o número de espectadores e convidados o número fica bem menor e 2 mil pessoas por evento parece pouco, mas quando pensamos em deslocamento desse número, parece uma força tarefa em meio a uma pandemia.
Com campeonatos de futebol podendo retornar aos poucos, a F1 está tentando acompanhá-los. Além disso a Europa sofreu primeiro com a crise e está começando a sair dela, abrindo alguns espaços comuns, ainda que exija o distanciamento social. No entanto existem locais como hotéis e restaurante que não querem receber uma quantidade generosa de pessoas, pois ainda não pode lidar com todo o processo de desinfecção exigido.
Enfim, a categoria pretende realizar testes nas pessoas a cada dois dias, pede para todos que são necessários no evento façam o isolamento, diminuam o número de conexões para chegar aos autódromos e permaneçam “reclusos” com as suas equipes. O distanciamento também deve ser mantido para cerimonias, locais comuns e entrevistas.
Além disso materiais de EPI e higiene precisam ser entregues pelos promotores das corridas, para que seja possível reduzir a chance de uma contaminação. Pôr em prática todas as exigências ainda parecem um desafio neste primeiro momento.
Um último ponto que chama a atenção, é a Fórmula 1 ter consciência que com todos estes deslocamentos é possível algum piloto ou qualquer pessoa envolvida com a categoria ser contaminada. O motivo que foi capaz de cancelar o GP da Austrália no início do ano [funcionários de equipes contaminados], não será o suficiente para a não realização. Um novo motivo de suspensão agora tem relação apenas com alguma mudança exigida pelos governos onde a categoria vai passar.
E como foi citado no #BPCast98, questionar esses pontos não quer dizer que não queremos a realização das corridas, pois esse é o maior desejo desde o cancelamento da primeira prova, mas ainda assim, a função da imprensa é questionar e buscar respostas.
Ps:. Também existe uma dúvida quanto os fãs nativos, com a reabertura de locais públicos estas pessoas podem circular e ir em busca dos pilotos nas portas dos hotéis, pois desta vez fãs e pilotos não vão ter contato nos autódromos.
* O texto não reflete a opinião de todos os colunistas