A temporada de 1999 foi uma das mais insanas e emocionantes da história da Fórmula 1. Num campeonato cheio de reviravoltas e com grandes surpresas, a Ferrari imaginava que poderia pôr fim a um incômodo tabu que durava 20 anos: a conquista do título mundial de pilotos. Além disso, a escuderia de Maranello não vencia a disputa dos construtores há 16 anos.
O nome esperado para acabar com esse jejum era Michael Schumacher, na equipe desde 1996. No entanto, a fratura na perna direita em decorrência do acidente em Silverstone o tirou da disputa.
Para acabar com a miséria de títulos da esquadra vermelha, Eddie Irvine surgiu como o nome improvável para liderar. O norte-irlandês entrou na escuderia junto com Schumacher, mas nos três primeiros anos, passou longe das vitórias. Justamente apenas em 1999, conseguiu vencer pela primeira vez na abertura do certame, na Austrália. Com os triunfos na Áustria, Alemanha e Malásia, o britânico chegou à decisão em Suzuka como líder do mundial de pilotos, com quatro pontos a mais que o campeão do ano, anterior, Mika Hakkinen, embora o piloto da McLaren levava vantagem nos critérios de desempate em caso de igualdade na pontuação.
O finlandês teve uma série de percalços ao longo daquela temporada, como os erros no GP de San Marino e da Itália. Com isso, alguns coadjuvantes conseguiram posição de destaque, como Heinz-Harald Frentzen, da Jordan, David Coulthard, da McLaren, Ralf Schumacher, da Williams, e a dupla da Stewart, Rubens Barrichello e Johnny Herbert.
Contudo, Irvine e Hakkinen foram os únicos que chegaram em condições de brigar pelo caneco no GP do Japão em Suzuka, no dia 31 de outubro. Mundialmente, este é o Halloween (ou Dia das Bruxas), aqui no Brasil, muitos celebram o dia do Saci, para alguns mais religiosos, é o dia da Reforma Protestante, mas para os tifosi, a data poderia simbolizar o exorcismo do fantasma da seca de títulos, tanto entre os pilotos como entre os construtores.
Todavia, Irvine parecia não se importar muito com aquilo. O norte-irlandês já estava insatisfeito com a Ferrari desde quando foi anunciado que deixaria a equipe, sendo substituído por Barrichello para 2000, enquanto o norte-irlandês já providenciara a transferência para a Jaguar (que compara a Stewart e teria sua própria escuderia na temporada seguinte). A coisa piorou após um pit-stop desastroso no GP da Europa em Nurburgring, Irvine insinuou que a Ferrari preferiria ser campeã com Schumacher.
Em Suzuka, o norte-irlandês tentava demonstrar certa frieza no momento da decisão baseado na biografia de Nelson Mandela: “Olhando a vida de Mandela, percebe-se como um título de F-1 é algo insignificante. Há outras coisas muito importantes na vida, além de ficar guiando um carro em círculos”, afirmou.
Na classificação, Irvine bateu forte e não conseguiu ir além de um decepcionante quinto lugar. Hakkinen fez o segundo posto, apenas atrás de um já reestabelecido Michael Schumacher, que retornara n etapa da Malásia e andou de forma superior à concorrência nas duas últimas corridas. O alemão só não venceu o GP pois cedeu a vitória ao companheiro de equipe na luta pelo título.
Panca do Irvine e pole do Schumacher:
Hakkinen precisava vencer ou fazer quatro pontos a mais que o seu oponente. Até estava conseguindo isso pela posição do grid, mas o finlandês queria mais. Na largada, ele pulou melhor que Schumacher e disparou na ponta. Se dependesse do piloto da McLaren, nada podia ser feito pela Ferrari.
Irvine passou as primeiras voltas em quarto, limitado pela Prost de Olivier Panis, até a parada do francês, que abandonou com problemas elétricos. Depois, o norte-irlandês se atrasou muito após os pit-stops, sempre com tráfego no caminho. O piloto da Ferrari não parecia se esforçar o suficiente para ameaçar os dois líderes. Para conquistar o título, dependia mais que Schumacher passasse Hakkinen na pista.
Entretanto, o finlandês controlou bem o ritmo e manteve a vantagem para Schumi em condições seguras. Diante de um companheiro que não parecia muito a fim de brigar pelo campeonato, o alemão também não quis forçar muito e não ameaçou o domínio do piloto da McLaren, deixando a corrida bem morna. No fim, Hakkinen venceu e conquistou o bicampeonato e celebrou como todo finlandês: de forma bem discreta, com Schumacher e Irvine fechando o pódio.
Nem tudo foi perdido para a Ferrari. A pontuação da dupla de Maranello foi o suficiente para a equipe encerrar um jejum de 16 anos no campeonato de construtores. Mas sabemos que o título que sempre será mais lembrado é o de pilotos, assim, o tabu ferrarista era postergado mais um ano.
Ainda assim, havia uma luz no fim do túnel que se vislumbrava no ano seguinte. O calvário dos pilotos de Maranello acabaria na temporada de 2000. Porém, aquele título “insignificante” deixava o gosto amargou da derrota aos tifosi por mais um ano.
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