É lugar-comum falar que os finlandeses são indivíduos mais sisudos, que demonstram poucas emoções. Uma visão que foi construída particularmente pelos pilotos que passaram pela Fórmula 1 Um deles, Mika Pauli Hakkinen, sempre fez parte dessa lista. No entanto, em uma tarde de setembro no norte da Itália, as emoções vieram à tona.
A temporada de 1999 vinha sendo bem maluca, com uma série de eventos bizarros e permitindo oportunidades para outsiders. Com Michael Schumacher fora de combate, era Eddie Irvine o representante da Ferrari para disputar o título com Hakkinen, o então campeão mundial.
Apesar de tudo, o cenário parecia bem favorável para o finlandês da McLaren no GP da Itália, em 12 de setembro de 1999. Hakkinen cravara a pole com quase meio segundo de vantagem para o alemão Heinz-Harald Frentzen, da Jordan. Irvine? Apenas o oitavo, duas posições atrás de outro Mika, o Salo, seu companheiro de Ferrari e substituto de Schumacher. Uma classificação nada auspiciosa para os tifosi.
Hakkinen aproveitou bem a largada e disparou na ponta. Alex Zanardi chegou a andar em segundo com a sua Williams, mas logo fora suplantado por Frentzen. No fundão alguns acidentes nas duas primeiras voltas na sequência de duas chincanes após a reta dos boxes alijaram da disputa Marc Gené, Giancarlo Fisichella e Pedro Paulo Diniz. (Aquele foi o último ano em que essa configuração foi usada em Monza, mudando para o formato atual no ano seguinte).
Rubens Barrichello e David Coulthard em batalha pelo quarta posição no GP da Itália de 1999 Fonte: F1-Pics
Já Zanardi, em um ano de suplício na Williams, caía de rendimento devido a uma saída de pista que desequilibrou seu carro. Isso lhe custaria a grande chance de pontuar naquele ano. Outro que sofria era o japonês Toranouske Takagi. O piloto nipônico já havia eliminado Gené na largada, posteriormente se encarregou de obliterar a outra Minardi, de Luca Badoer na primeira chincane após a reta dos boxes. A primeira curva de Monza ainda propiciaria o momento-chave da corrida e a razão de existir deste texto.
Ao abrir a volta 30, Hakkinen chegava rápido na primeira chincane, quando perdeu o controle de sua McLaren MP4/14 Mercedes e escapa em direção à caixa de brita. O público presente nas arquibancadas explodia em festa, como se fosse um gol de placa numa final de campeonato, afinal era um rival da Ferrari fora da prova.
Tão logo o carro prateado parou, Hakkinen jogou longe o volante. Fora do carro, foi a vez de arremessar longe suas luvas. Pouco depois, a imagem aérea da transmissão oficial pegava em flagrante o finlandês sentado atrás de um guard-rail envolto por árvores. Hakkinen estava cabisbaixo, chorando e secando as suas lágrimas com a balaclava. A pressão com o risco de perder o campeonato por erros próprios (ele já havia abandonado em San Marino de forma similar) fazia aquele finlandês discreto ficar com as emoções à flor da pele.
Sem Hakkinen na parada, quem se aproveitou foi Frentzen. Sem sofrer nenhuma ameaça, o alemão aproveitou a oportunidade e vencia para se lançar como candidato ao título daquele ano, mesmo por uma equipe em ascensão, como a Jordan. No entanto, aquela seria a última vitória dele na categoria.
Para os alemães, o dia foi bem positivo, pois ainda teve a dobradinha germânica, com o segundo lugar de Ralf Schumacher. Salo, o Mika mais feliz do fim de semana, fechava o pódio para festa da torcida presente em Monza. Barrichello, David Coulthard e Irvine foram os outros pontuáveis.
Para Irvine o mirrado pontinho serviu para o norte-irlandês empatar em pontos com Hakkinen naquele momento do certame, com Frentzen dez pontos atrás e Coulthard a 12. Uma temporada imprevisível que deixava todo mundo com os nervos à flor da pele, mesmo os que, teoricamente eram os mais calmos.
Contudo, já dizia o provérbio: “bem-aventurados os que choram, pois estes serão consolados”, Hakkinen seria o campeão no fim do ano, tendo mais regularidade que seus oponentes nas corridas finais. Mas este é um assunto para outra ocasião.