Estamos de volta para, em plena Copa do Mundo, fazer o intercâmbio entre a bola e o motor. Na semana passada, falamos de grandes prêmios que ocorreram no mesmo dia de partidas válidas pelo mundial de seleções, começando em 1950, no primeiro ano do campeonato de F1 como conhecemos e indo até 1974, quando a Holanda foi injustiçada pelos deuses da bola e Lauda não conseguiu o título com a Ferrari. Em 1978 e em 1982 tivemos campeonatos, mas coincidentemente não houve corridas nas mesmas datas das partidas. Vamos então para o primeiro mundial de que me lembro sem precisar de pesquisas históricas, e coincidentemente a mesma época em que a criança fofa que fui começou a se interessar, de leve, por esse negócio de corrida de carro.
lll 1986
Prost, de McLaren, e Piquet e Mansell com as duas Williams levaram a disputa para a 16ª e última prova do campeonato, vencido pelo francês. A sexta etapa aconteceu em Montreal e foi dominada pelo “Leão” Nigel Mansell – ele fez a pole e terminou a corrida em primeiro, 20 segundos à frente de Prost e com Piquet em terceiro. O campeonato embolava, com Alain na frente com 29 pontos, seguido de Mansell e Senna, ambos com 27. Piquet tinha 19 e ainda estava chegando no páreo. O GP do Canadá aconteceu no dia 15 de junho, e pela Copa do Mundo, acontecendo pela segunda vez no México, tivemos duas partidas válidas pelas oitavas de final: os donos da casa ganharam da Bulgária por 2 x 0 na capital, enquanto a Bélgica passava da União Soviética em um empolgante 4 x 3 na cidade de León.
Provas na América do Norte aconteciam back-to-back naquele tempo, então o circo se manteve no mesmo continente em que os times estavam jogando, e no domingo seguinte foi a vez do GP de Detroit.
Dessa vez os favoritos não se deram bem, e a estrela em ascensão, Ayrton Senna, cravou a pole e venceu a prova, em uma corrida espetacular quando um pneu furado o jogou para a oitava posição e o obrigou a remar pelo grid para voltar à ponta. Foi a primeira de uma série de cinco vitórias em solo ianque em seis anos. Com isso, o piloto da Lotus assumiu a liderança do campeonato, seguido por Prost, Mansell e Piquet.
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Neste mesmo dia 22 de junho tivemos, pelas quartas de final, o empate entre Espanha e Bélgica em Puebla – o 1×1 persistiu até as cobranças de pênalti, e os belgas se deram melhor – e, na cidade do México, vitória da Argentina sobre a Inglaterra por 2 x 1.
lll 1990
Quatro anos depois, a McLaren ainda era o bicho papão a ser vencido. Em Montreal, no dia 10 de junho, Senna fez sua quarta pole consecutiva no campeonato e controlou bem uma corrida onde Berger, na outra McLaren, foi punido com um minuto no seu tempo final por ter levado o troféu “Jump Start”. A equipe de Woking até fez um jogo de equipe (“Como assim??? Não é só a Ferrari que faz isso??”) e ordenou que Senna deixasse o companheiro passar para correr de cara pro vento e ganhar mais tempo em relação aos outros competidores, mas mesmo cruzando a linha de chegada na frente, o austríaco caiu para a quarta colocação, provocando uma dobradinha brasileira no pódio com Senna e Piquet.
Dobradinha do Brasil na América do Norte e dois gols da seleção na Europa, onde a canarinho ganhou da Suécia por 2×1 em Turim. Também tivemos Estados Unidos 1 x 5 Checoslováquia em Florença e Alemanha Ocidental 4 x 1 Iugoslávia em Milão.
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No dia 24 de junho, a etapa do campeonato de Fórmula 1 aconteceu no autódromo Hermanos Rodriguez no México, e dessa vez deu ruim para os brasileiros: Berger saiu na frente, ao lado da Williams de Patrese, enquanto Senna abria a segunda fila. Na corrida, o poderio da McLaren falou mais alto e logo tínhamos Senna e Berger abrindo um oceano de vantagem à frente do resto do pelotão, porém os pneus não ajudaram. Berger teve que parar na volta 13 para trocar o set que estava se degradando rápido, mas Ayrton não quis perder posições, e a decisão provou-se errada quando Prost, muito mais rápido com uma borracha fresca, fez a ultrapassagem para a liderança e a vitória em uma manobra simples. Pior ainda, Senna sequer pontuou em sua centésima corrida, pois um de seus pneus simplesmente explodiu logo depois, deixando-o de fora.
Infelizmente, a simetria entre o que acontecia nas pistas e nos campos foi perfeita naquele ano; em Turim, no mesmo dia, um passe açucarado de Maradona deixava Caniggia na cara do gol para marcar e eliminar o Brasil pelo placar mínimo, naquela que, em minha memória afetiva, foi a derrota mais dolorida da seleção numa Copa. Era o pesadelo dos esportes nacionais: perdemos para nossos maiores rivais no automobilismo e no futebol. E ainda ouvimos “gol da Alemanha!”, pois a Alemanha Ocidental fez 2×1 na Holanda. Mas isso seria bom…
Mais uma data de Copa e F1 no mesmo ano: 8 de julho, e se no GP da França Mansell fazia a pole e Prost levava a Ferrari à sua 100ª vitória (Senna foi o terceiro e manteve a liderança do campeonato), a 860km de Paul Ricard, numa Roma cheia de tiffosi felizes, a Alemanha Ocidental vencia a Argentina na final do Mundial por 1×0, lavando um pouco a alma dos brasileiros.
lll 1994 ⭐️⭐️⭐️⭐️
Copa dos Estados Unidos, o primeiro título comemorado pela galera da geração deste que vos escreve. E também o ano do primeiro título daquele que viria a se tornar um gigante. Em 03 de julho, Magny-Cours recebia o GP francês, sétima prova do campeonato e, embora Damon Hill tenha conseguido a pole com a Williams, foi Schumacher quem colheu mais uma vitória, sua sexta no ano, saindo de lá com o dobro de pontos do que o rival tinha no campeonato. Nesta mesma data, tivemos duas partidas válidas pelas oitavas de final: a Suécia venceu a Arábia Saudita em Dallas por 3×1 e uma surpreendente Romênia desclassificou a Argentina, ganhando de 3×2 em Los Angeles.
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Suécia e Romênia viriam a se enfrentar na semana seguinte, em São Francisco, pelas quartas. A seleção de Hagi arrancou um empate no tempo regulamentar, porém os suecos venceram por 5 a 4 nos pênaltis e se credenciaram a ser nossos rivais na semifinal. Na outra partida do dia, a Bulgária eliminou a Alemanha em Nova York, por 2×1. E, na Inglaterra, o dono da casa impôs outra derrota para os alemães: Hill fez pole, volta mais rápida e vitória em uma corrida onde tanto Schumacher quanto a Benneton tiveram dificuldades em ver uma certa bandeira preta.
lll 1998
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Enfim chegamos no link que me permitiu fazer este texto em duas partes; há exatos 20 anos, no dia 28/06/98, a França sediava uma Copa do Mundo e uma etapa da Fórmula 1. Em uma linha reta que partia do norte, em Lens, passava pelo estádio de Saint-Denis nos arredores de Paris e terminava em Magny-Cours, tivemos respectivamente uma vitória da França sobre o Paraguai por 1×0, uma goleada da Dinamarca na Nigéria por 4×1 e uma vitória da Ferrari e de Schumacher que, saindo da segunda posição, superou o pole Mika Häkkinen ainda na largada para passear pelo circuito francês e diminuir a distância para o finlandês para apenas 6 pontos.
No dia 12 de julho, em Silverstone, a mesma história: Schumacher larga em segundo, ultrapassa Häkkinen e vence a prova. Infelizmente, a França também repetiu a vitória, só que desta vez em Saint-Denis, sobre o Brasil, por 3×0 e na final do Mundial.
lll 2002⭐️⭐️⭐️⭐️⭐️
Primeira Copa disputada em dois países ao mesmo tempo e enquanto tínhamos jogo lá do outro lado do mundo, no dia 09 de junho, Schumacher vencia mais uma (sua sexta vitória no ano e oitavo pódio em oito corridas) em Montreal, mesmo largando atrás de Montoya. Mais uma data comemorativa da Scuderia em dia de Copa, uma vez que esta foi a vitória de número 150 para a Ferrari. Enquanto isso, tivemos Costa Rica 1×1 Turquia em Incheon, México 2×1 Equador em Miyagi e Japão 1×0 Rússia em Yokohama. Nada com que se empolgar muito, é verdade.
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lll 2006
Os mundiais voltavam para a Europa no dia 11 de junho. No de futebol, na Alemanha, Sérvia e Montenegro perdeu de 1 a 0 para a Holanda em Frankfurt, o México venceu o Irã em Nuremberg por 3 a 1 e Portugal passou por Angola, 1 a 0 em Colônia. Já na F1, em Silverstone, Fernando Alonso flanava em direção ao bicampeonato, fazendo pole, volta mais rápida e vencendo com sua Renault numa corrida sem muitos incidentes dignos de nota.
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Já no dia 25 de junho, uma prova bastante mais movimentada aconteceu em Montreal, mas não exatamente lá na frente: na primeira volta as duas Midlands bateram, e na segunda volta foi a vez de Montoya e Rosberg misturarem tinta. Safety car na pista pela primeira vez. Já no final da volta, nova saída do “carro de segurança”, já que Villeneuve encontrou o muro. Nada disso incomodou Alonso, que começou e terminou a corrida em primeiro, sua sexta vitória em nove corridas (nas outras três terminou em segundo). Enquanto isso, a Inglaterra vencia o Equador em Stuttgart e Portugal batia a Holanda em Nuremberg, os dois jogos terminando 1×0.
lll 2010
Chegamos próximos a um ponto específico no tempo lembrado pela maioria dos leitores. A tarefa é mais difícil aqui, não podemos cometer erros. Assim como Hamilton, em 2010. Após perder o título em 2008 por uma briga boba com Alonso e em 2009, porque Ross Brawn fez uma mágica do caramba (os palavrões estão tão banidos aqui quanto em The Better Place), o menino-prodígio da McLaren precisava confirmar sua estrela. E no Canadá, em 13 de junho, correu tudo bem para ele. Largando da pole, não se preocupou com os incomumente poucos incidentes na pista de Montreal e venceu uma corrida que o levou à liderança do campeonato de pilotos, à frente de Button, Webber, Alonso e Vettel, na sequência.
Neste mesmo dia, na Copa da África do Sul, a Argélia perdia para a Eslovênia por 1×0 em Polokwane, Gana batia a Sérvia pelo mesmo placar em em Pretória e a Alemanha não tomava conhecimento da Austrália (4×0, fora o baile), em Durban.
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Duas semanas depois, a F1 ainda estava na sua nona prova e em 27 de junho o GP da Europa foi realizado em Valência. Desta vez foi Sebastian Vettel, o underdog em sua Red Bull, quem fez a melhor volta no sábado e largou no dia seguinte da pole position para vencer uma corrida que só não foi completamente tranquila por conta do contato entre seu carro e a McLaren de Hamilton logo no início da prova, o que danificou a asa dianteira do inglês. Esta vitória o elevou para terceiro lugar no campeonato, atrás dos dois pilotos de Woking. E esta acabou não sendo a única vitória da Alemanha sobre a Inglaterra no dia, pois pelas oitavas de final os dois países se encontravam em Bloemfontein e os germânicos venciam por 4×1, o suficiente para liberar o chopp pelo resto do domingo. Também tivemos na mesma data a vitória da Argentina sobre o México por 3×1 em Johannesburgo, levando os hermanos para as quartas.
E finalmente, em 11 de julho, exatamente na mesma data em que a Espanha batia a Holanda pelo placar mínimo em Johannesburgo para ser campeã do mundo pela primeira vez (algo inédito desde o título da França 12 anos antes), o espanhol Fernando Alonso fazia a volta mais rápida com sua Ferrari no GP da Inglaterra em Silverstone, mas isso não foi suficiente par bater as Red Bull – Vettel fez a pole porém sua ânsia em superar o companheiro de equipe fez com que o alemão batesse roda com roda com o australiano ainda na primeira volta, provocando um pneu furado para Vettel e uma liderança folgada até a vitória para Webber.
lll 2014
Começamos nossa jornada pelo Brasil e vamos terminar em território nacional. Em 22 de junho, na Áustria, o brasileiro Felipe Massa largou na pole no autódromo de Spielberg com sua Williams (sério, há apenas quatro anos a equipe era capaz disso), porém um undercut bem realizado da Mercedes foi suficiente para garantir uma dobradinha com Rosberg e Hamilton, o que deixava o piloto alemão 29 pontos à frente de seu companheiro de equipe no campeonato. Eu e você, cabeça de gasolina, estávamos acompanhando isso. Mas a grande maioria dos brasileiros viu, neste dia, a Coréia do Sul que ontem eliminou a Alemanha de Rosberg perder para a Argélia em Porto Alegre por 4×2, a ótima geração belga vencer a Rússia por 1×0 e os Estados Unidos, que estavam no Brasil na primeira partida que citamos aqui neste espaço, empatarem com Portugal em 2×2 novamente em solo brasileiro, desta vez em Manaus. O ciclo se fechou e o TOC do escriba ficou satisfeito.
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lll 2018
Estamos agora em 2018 e, pela primeira vez na história, teremos três corridas em finais de semana consecutivos. Calhou de todas serem realizadas durante a Copa do Mundo, porém somente as duas primeiras acontecerão em dias de corrida (o que é uma maravilha para quem gosta de futebol e ainda tem que gravar podcast). Em 24 de junho, durante o GP da França, vencido sem concorrência pelo inglês Lewis Hamilton, a seleção britânica ultrapassou sem dó o Panamá por 6×1, Senegal empatou com o Japão por 2×2 e a Colômbia venceu a Polônia por 3×0.
E no próximo domingo 01 de julho de 2018, enquanto estiver sendo disputado o GP da Áustria, veremos a Rússia enfrentar a Espanha (sim, a mesma que venceu a Inglaterra também no primeiro dia de nossa jornada) e, no período da tarde, estaremos ligados em Croácia e Dinamarca também pelas semifinais, sabendo que logo depois chegará a hora de conversar com os cabeças de gasolina nos podcasts e vídeos do YouTube à noite.
A intersecção (nova palavra difícil, para manter o nível do post e a aprovação do advogado que é dono deste site) entre Fórmula 1 e Copa do Mundo deve continuar, e daqui a quatro anos, quando estes posts virarem material de consulta, teremos no Qatar a primeira Copa no final do ano, e fatalmente falaremos do GP do Brasil – a esperança é de que os brasileiros vençam nestas duas arenas onde já provaram ser diferenciados.
lll FORA DAS PISTAS
Vinte e oito de junho e comemoramos os nascimentos do italiano Luigi Musso, italiano que venceu pela Ferrari no GP da Argentina de 1956, Jacqueline Kennedy Onassis, que dispensa apresentações, Richard “Rick” Wright, o tecladista que deu o tom à melhor banda de todos os tempos (recadinho interno para o outro integrante do BPBeats), Jim Davies, o pai do Garfield, Pat “Senhor Miyagi” Morita, Mel Brooks (assistam Space Balls, please!!!!) e John Cusack, que fez Alta Fidelidade e Com Air, o que já o habilita a figurar no Hall of Fame do Boletim do Paddock.
A ideia original era fechar a parte 1 com o hino da seleção de 70 e a parte 2 com a música tema de 2018, mas encontrei dois problemas intransponíveis: ainda não temos a música definitiva do Brasil nesta Copa, e hoje é aniversário de um daqueles artistas de quem não posso de maneira alguma deixar de homenagear. Raul Santos Seixas nasceu em 28 de junho de 1945 e por desígnio do destino foi vizinho da embaixada americana em Salvador, desenvolvendo uma amizade com o filho do embaixador que tinha a sua idade, o que o jogou de cabeça no rock and roll. Raulzito abriu o caminho para tudo o que veio de bom na música nacional depois dele e entre todas as suas pérolas acabei decidindo por uma que me ajudou a passar no vestibular e que tem um refrão que deveria ser tocado todos os dias para os jogadores do Tite até que trouxéssemos o hexa para casa.