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Alex, o nome da perseverança

Alex, o nome da perseverança – Dia 155 dos 365 dias mais importantes da história do automobilismo – Segunda Temporada.

A vida dá muitos desafios e tarefas que parecem impossíveis de serem realizadas. As pedras no caminho podem ser o fim do caminho ou o início de uma jornada gloriosa. Cada obstáculo vencido serve como lição para a sequência da trajetória de um enredo cheio de problemas. A vida não é fácil para ninguém, mas para alguns, todas as adversidades trazem consigo uma nova oportunidade de brilhar.

(USA Today)

Bom, o discurso motivacional inicial pouco pode acrescentar, mas há histórias de vida que mostram como dá para dar a volta por cima na prática. Este é o enredo da vida de Alessandro Leone Zanardi.

Nascido em Bolonha no dia 23 de outubro de 1966, Alessandro teve um baque durante a adolescência com a morte da irmã Cristina, uma promissora nadadora italiana, em acidente de carro. No entanto, foi justo nos veículos a motor que o rapaz se interessou em seguir carreira.

Passagem longeva no kart (F1 Rejects via Web Archive)

Zanardi construía seus próprios karts e participava de campeonatos locais. Na década de 1980, Alessandro tornou-se um grande nome do kartismo da Itália e teve papel de destaque em campeonatos locais e pela Europa.

Em 1987, Zanardi disputou a vitória do Campeonato Europeu de Kart 100cc em Gotemburgo (Suécia), contra o também italiano Massimiliano Orsini. Alessandro liderava na volta final, mas fora atingido pelo compatriota. O persistente Alex tentou empurrar seu bólido até o fim, mas o pai de Orsini perdeu a cabeça, foi até a pista e chutou as costas do bolonhês. Sem condições de chegar até o fim, o italiano viu a vitória cair no colo do terceiro colocado, um certo alemão chamado Michael Schumacher.

Após um longo período no kart, a ascensão nos monopostos foi meteórica: em duas temporadas teve um quinto e um segundo lugar na F3 Italiana em 1989 e 1990, respectivamente. Além disso, a passagem na categoria local também permitiu que conhecesse a esposa Daniela.

O título quase veio na F3000 (Bandeira Verde)

Em 1991, Zanardi desembarcava na Fórmula 3000 pela equipe italiana Il Barone Rampante. Alessandro ganhou na abertura do campeonato em Vallelunga e também em Mugello. O italiano ainda somou mais quatro segundos lugares. No entanto, os abandonos nas demais provas no campeonato o prejudicaram na disputa. Mesmo assim, Alex foi o vice-campeão daquela temporada, perdendo o título para Christian Fittipaldi.

No entanto, o bom desempenho na F3000 abriu as portas para a Fórmula 1. A Jordan precisava de um piloto após o rebuliço da prisão de Bertrand Gachot. Após as passagens de Michael Schumacher e Roberto Moreno. Zanardi estreou no carro verde no GP da Espanha de 1991 com um nono lugar. O italiano disputou as provas do Japão e da Austrália, mas não pontuou.

Zanardi chegou a testar pela Benetton, mas não teve chances em uma equipe de ponta na primeira passagem (Red Bull)

Para 1992, Alessandro ficou como piloto de testes da Benetton até meados da temporada. Eis que a Minardi precisou de um substituto para Christian Fittipaldi, depois que o brasileiro se machucou em testes. Entretanto, o italiano não conseguiu se classificar para as provas da Inglaterra e da Hungria e abandonou a prova da Alemanha.

Após dois anos de muitos testes e poucas corridas, Zanardi finalmente tinha a chance de fazer uma temporada desde o início, a bordo da Lotus, equipe tradicional, mas em fase desalentadora. O italiano conquistou o único ponto na F1 em Interlagos, com um sexto lugar no GP do Brasil de 1993.

Todavia, a temporada foi cheia de problemas e culminou em um grande acidente durante os treinos da etapa de Spa-Francorchamps, após Alessandro perder o controle e bater forte na Eau Rouge-Radillion.

https://www.youtube.com/watch?v=uES8Esqm3iE

Após covalescer deste acidente, Zanardi esperou sua oportunidade. Novamente a Lotus abriu as suas portas em 1994 após o português Pedro Lamy também se lesionar em acidente durante testes. O italiano participou de 10 provas, inclusive da última prova da tradicional escuderia, antes de deixar a F1 no fim daquele ano.

O cantar de cisne da Lotus (Bandeira Verde)

Sem espaço na F1, Zanardi passou 1995 tentando arranjar alguma coisa para correr. Viajou para os Estados Unidos tentar algo na Indy, mas não havia muitas vagas. Após insistência da esposa, Alessandro voltou aos States durante o fim de semana em Laguna Seca para tentar a sorte.

A perseverança teve frutos: Chip Ganassi demitiu o americano Bryan Herta no fim daquele fim de semana e precisava de alguém para ocupar o carro número 4 patrocinado pela rede varejista Target. O representante da fabricante de chassis Reynard nos Estados Unidos, Rick Gorne, conhecedor do trabalho do italiano desde os tempos da F3000, deu a dica e, após testes e muita negociação, deu a oportunidade que Alessandro tanto precisava.

Aliás, esta foi uma das muitas grandes viradas na carreira de Zanardi, pois três semanas antes, chegou a se apresentar ao próprio Chip, que simplesmente jogou o cartão de visitas do piloto fora, ignorando aquele que viria a ser seu empregado.

Na CART, Zanardi finalmente mostrou do que era capaz (Globoesporte.com)

Agora na terra do Tio Sam, Zanardi mostrou que o investimento valeu a pena. Foi o terceiro colocado em 1996, vencendo três corridas. O grande destaque foi para o triunfo em Laguna Seca, após uma das ultrapassagens mais marcantes da história do automobilismo, justamente em cima de Herta, na curva do Saca Rolha, na última volta da prova.

A partir daquele momento, Zanardi tornou-se a grande referência da CART nos anos seguintes. Foram 12 vitórias nos anos de 1997 e 1998, com direito a uma sequência de quatro triunfos seguidos na segunda temporada. O italiano, agora chamado de Alex pelos estadunidenses, reinou soberano nas duas temporadas, com os dois títulos, com a consolidação da Chip Ganassi como equipe grande e também foi considerado o “criador” da comemoração com os zerinhos na pista, os chamados “donuts”.

Com a América conquistada, Frank Williams quis recrutar o italiano para os seus serviços com a missão de substituir Jacques Villeneuve. Assim, Zanardi voltava à F1 com status elevado e esperanças de brigar lá na frente.

Já na Williams, deu tudo errado (Continental Circus)

No entanto, Zanardi não se entendeu com um bólido diferente, com pneus raiados e freios bem diferentes dos carros da CART. A temporada de 1999 foi frustrante, com o italiano não somando um mísero ponto em 16 corridas. Com a decepção tão grande, Frank rompeu o contrato e Alex estava novamente desempregado.

Após mais um ano sabático, Zanardi voltou aos Estados Unidos em 2001, para correr na equipe de Morris Nunn, ao lado do brasileiro Tony Kanaan. Entretanto, o retorno à CART foi frustrante, com atuações sofríveis e muitos problemas.

As coisas pareciam mudar naquela que foi a primeira incursão oficial da categoria americana na Europa. A etapa no circuito oval do complexo de Lausitzring, na Alemanha seria um passo importante para a categoria tornar-se mais internacional. O clima no paddock era bem pesado, com a prova ocorrendo quatro dias após os atentados de 11 de setembro. A corrida que tinha como objetivo trazer um pouco de alívio para um mundo abalado pela tragédia.

Curiosamente, Zanardi fez a melhor corrida dele naquele ano, andando nas primeiras posições e disputando a vitória. Faltando 12 voltas para o fim, o italiano foi para o splash-and-go, na tentativa de um bom resultado.

Alex tentava retornar rapidamente à pista, mas perdeu o controle do carro e rodou para dentro da pista. Os carros de Patrick Carpentier e Alex Tagliani vinham rápido na pista e toparam com o bólido do italiano pelo caminho. O primeiro canadense conseguiu desviar, mas o segundo não.

Após um dos acidentes mais horripilantes da história, o saldo para Tagliani foi de apenas ferimentos leves. Mas para Zanardi, o prejuízo foi tremendo. Ainda na pista, pilotos relataram que havia um líquido vermelho na região do acidente. Naquele momento, Alessandro, já não tinha as duas pernas e perdera quatro litros de sangue, derramado no asfalto alemão. (Lembrando que o ser humano normal tem cerca de cinco litros em média).

O trabalho médico foi exemplar e, após três dias em coma, Zanardi conseguiu sobreviver, mesmo que sem seus membros inferiores. O italiano teve as dificuldades habituais para quem passa por uma situação desta natureza. Porém, Alex resolveu ir atrás de atravessar os obstáculos para seguir às pistas.

Na exibição, o recomeço (Laureus)

Cerca de um ano em meio depois do acidente, Zanardi entrou em um carro da CART pela primeira vez, justamente em Lausitzring, para completar as voltas que lhe restavam daquela corrida. E, mesmo em um carro adaptado, o italiano não fez feio, andando em um ritmo que lhe daria a quinta colocação do grid de largada da corrida daquele ano.

Assim, lá foi o italiano retornar às pistas. Entre 2005 e 2009, disputou o WTCC pela BMW, inclusive vencendo quatro corridas e como melhor resultado em classificação final, o décimo lugar na sua última temporada.

Encerrando este ciclo nas pistas, um novo desafio surgiu: apaixonado pelas bicicletas desde os tempos da juventude, Zanardi passou a se dedicar a modalidade paraolímpica, passando a atuar em grandes competições da modalidade.

No ciclismo, Zanardi rumou ao Olimpo (Globoesporte.com)

E a partir de então, o italiano tornou-se uma grande referência do ciclismo paraolímpico, conquistando resultados fantásticos, inclusive com quatro medalhas de ouro e duas de prata nos Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012, e no Rio de Janeiro, em 2016. Além disso, quebrou o recorde mundial do Ironman, competição de longa duração do triatlo mundial, cumprindo a distância de 3,8 km de natação, 180 km de ciclismo e 42 km de corrida, em 8:26:06, trinta segundos a menos que a marca anterior.

Além disso, Zanardi tem feio participações esporádicas no automobilismo. Em 2018, participou da rodada dupla da DTM em Misano, na Itália, conquistando um quinto lugar na segunda corrida.

Alessandro Zanardi continua firme e forte construindo uma das histórias mais marcantes da história do esporte, encarando todos os desafios e provando que não há limites para se vencer!

Fonte: Bandeira Verde (1, 2, 3 e 4), Continental Circus, F1 Rejects, Globoesporte.com, Tiago Mendonça (Red Bull), Corriere dela Sera, Site oficial do Movimento Paralímpico

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