Montjuic é o nome de uma colina onde nasceu a cidade de Barcelona, e há certa controvérsia sobre a origem do seu nome. Enquanto alguns defendem que deriva do catalão medieval e significa Monte dos Judeus, outros dizem que a palavra é uma corruptela do latim para Monte de Júpiter. Independentemente de quem seja o dono do morro, um dia acharam que suas ruas estreitas seriam um bom traçado para carros a toda velocidade. E Montjuic virou circuito da Fórmula 1.
Em 1971, seis semanas após o início do campeonato na África do Sul, pilotos e equipes desembarcaram na cidade espanhola à beira do Mediterrâneo para a segunda prova da temporada. O traçado do circuito era bastante travado, e em nenhum dos seus 3,79 km havia espaço para erros. Era uma pista frequentemente comparada à Mônaco, desafiadora, apertada e perigosa, só que logo atrás das barreiras não haviam cassinos e hotéis, e sim árvores.
A Ferrari vinha de vitória em Kyalami e alinhava com três pilotos: Mario Andretti, Clay Regazzoni e Jacky Ickx. Também três eram os pilotos da BRM: Pedro Rodriguez, Jo Siffert e Howden Ganley. Na turma com dois carros tínhamos a Brabham (Graham Hill e Tim Schenken), a Surtees (com o dono e Rolf Stommelen, que quatro anos depois sofreria um acidente terrível neste circuito, interditando-o para sempre), a McLaren (Dennis Hulme e Peter Gethin), a Lotus (Emerson Fittipaldi e Reine Wissell), a Tyrrell (Jackie Stewart e Francois Cevért), a Matra (Chris Amon e Jean-Pierre Beltoise) e a March (Ronnie Peterson e Alexander Soler-Roig). Haviam outros dois chassis March na turma, mas estes eram do time de Frank Williams, com Henri Pescarolo a bordo, e da Alfa-Romeo, pilotado por Andrea de Adamich.
Dos vinte e dois pilotos, 8 (o pessoal da Ferrari, da BRM e da Matra) estavam com motores V12, e na classificação esta se mostrou a força a ser batida. Dos dez mais rápidos, apenas Stewart (4º colocado), Gethin (7º) e Hulme (9º) usavam o V8 da Cosworth. Tudo indicava que a prova seria uma repetição do GP sul-africano, inclusive o domínio ferrarista, já que Ickx e Regazzoni fecharam as duas primeiras posições. Amon completava a primeira fila, com Pedro Rodriguez ao lado do escocês da Tyrrell na segunda, e Beltoise e Andretti ladeando a McLaren na terceira.
Na largada, enquanto o belga da Ferrari mantinha a ponta, Stewart se jogava e ganhava a segunda posição, partindo em uma perseguição implacável. Os dois usavam cada espaço disponível, com Jackie forçando a ultrapassagem sem piedade, até conseguir se ver à frente na sexta volta. Ganhou a posição, mas nem um pouco de tranquilidade. Foi a vez de Ickx pressionar e passar o tempo inteiro colado à traseira da Tyrrell. Eles subiam a montanha, descolavam do chão ao final da ladeira, faziam as curvas no (e um pouco além do) limite e então mergulhavam de novo morro abaixo, uma volta atrás da outra, para delírio da multidão que via tudo à beira do asfalto. Stewart estava sendo obrigado a fazer uma pilotagem sem a mínima margem para falhas, e estava correspondendo. Por mais que tentasse se livrar da Ferrari enquanto passava os retardatários (alguns tomaram mais de uma volta), quando olhava no retrovisor o capacete negro de Jack estava logo atrás, mas perto da metade da corrida a resistência parecia ter dado resultado, e volta a volta a distância entre os dois foi começando a ser construída, até chegar a um intervalo de 9 segundo. Só que a partir daí Ickx ganhou um novo fôlego, e com uma Ferrari mais equilibrada e um motor mais potente empurrando o carro, agora mais leve pelo consumo de combustível, começou novamente a se aproximar até ver o carro azul crescer à sua frente e não desaparecer mais de vista quando fazia uma das várias curvas fechadas do traçado. Mas o campeão de 69 fazia melhor volta atrás de melhor volta, e não perdia tempo ao encontrar os carros mais lentos à frente. Foi uma apresentação perfeita de Jackie Stewart que o levou à vitória naquele 18 de abril.
Uma batalha memorável, que eclipsou totalmente o resto do grid. Para não dizer que não falamos neles, saibam que Regazzoni teve um problema de motor que o tirou da prova na volta 13, enquanto a Ferrari de Andretti, com um vazamento na bomba de combustível, encostou nos boxes com labaredas ativas, e tanto o carro quanto o piloto foram cobertos por espuma de extintor de incêndio no melhor estilo A Turma do Didi. Emerson também abandonou da volta 54 de 75 com uma suspensão quebrada e entre os que terminaram o top 6 foi completado com Chris Amon no degrau mais baixo do pódio, logo à frente de Pedro Rodriguez, Denny Hulme e Beltoise.
E, apesar da brilhante luta pela vitória, o motivo mais forte para esta prova figurar entre os dias mais importantes do automobilismo vem agora, e estava na borracha: 14 dos participantes, os que eram calçados com pneus Firestone, usavam pela primeira vez na história da Fórmula 1 um composto totalmente liso, que ficou conhecido como pneu slick (liso, em inglês). A tecnologia para produção de pneus sem ranhuras de competição já existia desde o início da década de 50, mas estava confinada a provas curtas, de dragsters, devido à alta taxa de decomposição dos pneus da época. Para durar uma prova com mais de 200 km a borracha teria que ser tão dura que a perda de eficiência impossibilitaria seu uso. Foi só no início da década de 70 que os compostos com borracha macia mais duráveis foram desenvolvidos, e seu emprego na categoria máxima do automobilismo era a vitrine ideal. Apesar da Tyrrell vencedora naquele dia utilizar a Goodyear, o desempenho dos slicks (que, com maior área de contato entre o asfalto e sua banda de rolagem propiciavam uma maior tração e um aumento de velocidade considerável) logo os credenciaria como a escolha ideal para competições. Eles foram banidos entre 1998 e 2008, quando a FIA obrigou os times a utilizar compostos com ranhuras circunferenciais a fim de reduzir a velocidade nas curvas, porém na temporada de 2009 as gomas completamente lisas voltaram à ativa, e hoje só saem de cena quando São Pedro assim decide.
lll FORA DAS PISTAS
Apesar de a BBC ter anunciado em seu jornal da noite de 18 de abril de 1930 que “não há notícias”, em outros anos muita coisa legal aconteceu: em 1506 começou a construção da Basílica de São Pedro, em Roma, em 1857 Allan Kardec publicou seu “Le Livre des Esprits” e deu início ao espiritismo e em 1923 o Yankee Stadium, a casa de Babe Ruth, foi inaugurado, só para ficar no tema religião.
Nasceram nesta data o único campeão póstumo da Fórmula 1, Jochen Rindt, o ator James Woods, o décimo Doutor David Tennant (inclusão obrigatória de acordo com os editores do portal) e o mestre Monteiro Lobato, que foi um dos grandes responsáveis pelo meu amor ao livros.
E, nesta data, em 2015, o Green Day foi introduzido no Hall da Fama do Rock and Roll. Coincidentemente nesta semana, no grupo dos apoiadores do BP, discutíamos qual a melhor música dos caras. Como sou mais esperto que eles, vou aproveitar o ataque de oportunidade e deixar vocês com a minha escolha.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.