Alguns pilotos marcam seu nome no paddock graças às suas habilidades e seu talento no volante, outros justamente pela falta deles e seus acidentes recorrentes. Entretanto, alguns se destacam também pela sua personalidade e carisma, os quais sempre chamam a atenção fora das pistas. Entre os membros desse seleto grupo, o extrovertido suíço Clay Regazzoni certamente é um dos nomes mais lembrados.
Clay nasceu em Mendrisio no dia 9 de Setembro de 1939, pouco antes do início da 2ª guerra mundial. Criado em uma região com forte influência italiana, o suíço começou sua carreira no automobilismo apenas aos 24 anos. Devido a proibição de corridas no território suíço, Regazzoni deu seus primeiros passos em competições no país vizinho, perto da fronteira entra a Suíça e a Itália. Seu sucesso foi imediato, conquistando dois pódios em três corridas disputadas em 1963. O piloto passou a competir com um Mini Cooper no ano seguinte, mas logo partiu para a Fórmula 3 em 1965, desbravando os monopostos com uma Brabham. Seus resultados promissores em sua primeira temporada na categoria evoluíram consideravelmente em seu segundo ano, atraindo a atenção da equipe italiana Tecno, que o ofereceu um chassis para 1967. O talento de Regazzoni e seu estilo arrojado ficavam cada vez mais em evidência, e seus ótimo resultados com a Tecno na Fórmula 3 renderam um assento na Fórmula 2 pela mesma equipe em 1968. Seus dois anos na categoria terminaram de refinar suas habilidades como piloto, se tornando um duro e veloz competidor. Com o título da Fórmula 2 conquistado em 1969, apenas mais um passo precisava ser dado.
No começo da temporada de 1970, a Ferrari optou por correr com apenas um carro, pilotado pelo belga Jacky Ickx. Entretanto, na 4ª etapa do ano, a equipe italiana decidiu inscrever um segundo bólido para testar jovens pilotos na Fórmula 1. No GP seguinte, em Zandvoort, Clay recebeu sua primeira chance no topo do automobilismo mundial, terminando a prova em um promissor 4º lugar. O suíço voltou a receber uma oportunidade duas corridas depois, em Brands Hatch, novamente conquistando uma sólida 4ª posição. A partir desse ponto, o piloto assegurou o segundo assento da Ferrari até o final da temporada. Regazzoni conquistou 4 pódios em suas últimas 6 corridas, incluindo uma vitória em Monza, levando os Tiffosi ao delírio, e uma pole position no México. Apesar de ter participado em apenas 8 etapas no ano, o Suíço terminou a temporada em 3º, 13 pontos atrás do campeão póstumo, Jochen Rindt.
Regazzoni manteve um dos assentos da Ferrari em 1971, mas a situação era completamente diferente. A confiabilidade do bólido deixava muito a desejar, o que comprometia diretamente a performance do piloto. Das 12 etapas do ano, Clay conseguiu ver a bandeirada em apenas 4, das quais subiu ao pódio em 3. A expectativa de melhoras em 1972 foi em vão, e o desempenho do monoposto italiano seguia decepcionando o suíço, que optou por deixar a equipe no final da temporada apesar de um 3º lugar na Espanha e um 2º na Alemanha.
Clay partiu para a BRM no ano seguinte, atraído especialmente pelo genenroso salário que receberia. Seu companheiro de equipe seria um corajoso novato austríaco, Niki Lauda. Os dois se tornaram grandes amigos e encararam um difícil ano com o bólido extremamente ruim que pilotavam. O suíço inclusive quase perdeu a vida em um terrível acidente durante o GP da África do Sul, mas foi retirado de seu carro em chamas por Mike Hailwood. No ano seguinte, a Ferrari decidiu renovar totalmente sua equipe, até mesmo no comando, que foi entregue a Luca di Montezemolo. Regazzoni foi recontratado pela escuderia e sugeriu que Niki Lauda também fosse trazido para compor a dupla de pilotos. O austríaco assinou com a Ferrari e os dois tiveram uma temporada muito positiva pela equipe italiana. O suíço conquistou sete pódios no ano, incluindo uma vitória na Alemanha. O desempenho foi tão bom que Clay tinha chances reais de título na ultima prova do ano, mas teve que se contentar com um vice-campeonato devido à problemas mecânicos, melhor para Emerson Fittipaldi.
A dupla foi mantida em 1975 e o ano foi novamente bem-sucedido, só que dessa vez Lauda brigou pela taça. O austríaco conquistou 5 vitórias na temporada contra apenas uma de Clay, que agora parecia se contentar com a posição de segundo piloto. Niki foi campeão e Regazzoni terminou em um modesto 5º lugar. A queda de performance do piloto ficou ainda mais clara no ano seguinte, que ficou marcado pelo grave acidente no qual Lauda quase faleceu. Reutemann foi assinado para substituir o então campeão mundial. A Ferrari não contava com o retorno do piloto e foi pega de surpresa pela recuperação surpreendente de Lauda. Com dois assentos e três pilotos assinados, Clay foi o escolhido para deixar o time, encerrando sua longa parceira com o equipe italiana.
Apesar de propostas da Brabham, desentendimentos durante as negociações com o dono da equipe, Bernie Ecclestone, fizeram com que o suíço partisse para a nanica Ensign. A mudança surpreendeu boa parte do paddock e os resultados foram frustrantes. Regazzoni pontuou em apenas 3 das 17 etapas, constantemente batalhando para sequer terminar as provas. A decepção levou o suíço a assinar com a Shadow para a temporada seguinte, mas o desempenho foi igualmente pífio e Clay somou incríveis 2 pontos durante o ano. Apesar da sucessão de nanicas, o piloto seria resgatado do fim do grid no ano seguinte.
Com um assento sobrando ao lado de Alan Jones, Frank Williams decidiu assinar o experiente suíço para ser o segundo piloto da equipe em 1979. O 1º semestre foi frustrante, mas a chegada do efeito solo no 2º alavancou a equipe para o topo do pelotão. Ironicamente, a honra da primeira vitória da Williams caiu no colo de Regazzoni após o abandono precoce de Jones em Silverstone. Clay conquistou 5 pódios durante a temporada e terminou o ano em 5º, entretanto, foi novamente substituído por Carlos Reutemann para 1980.
Sem cockpit, Clay voltou para a Ensign. Questionado sobre os motivos de permanecer na Fórmula 1 aos 40 anos mesmo em equipes pequenas, o suíço respondeu: “Eu amo Fórmula 1 e acima de tudo eu amo corridas, porque eu abriria dessa vida?”. O ano começou com resultados tímidos, entretanto sua carreira sofreria um fim precoce em um acidente na 4ª etapa do ano. No final da longa reta de Long Beach, Regazzoni sofreu uma falha de freio e colidiu diretamente com Brabham de Zunino, que estava estacionada na área de escape após o abandono do argentino. Devido a gravidade do acidente, o suíço perdeu o movimento das pernas e foi obrigado a abandonar o esporte que tanto amava. Todavia, Clay não deixou o infortúnio abalar sua vida e passou a se dedicar a ajudar pessoas em situações semelhantes a dele a encontrar novas oportunidades na vida. Além disso, Regazzoni estava determinado a aproveitar plenamente sua vida mesmo em uma cadeira de rodas. Anos depois, ainda recuperou sua licença e voltou a competir em ralis e corridas de endurance.
Infelizmente, no dia 15 de Dezembro de 2006, um acidente automobilístico perto de Parma provocou a morte do suíço. Muito mais que um simples piloto e muito além de seus números, Regazzoni se tornou reconhecido no paddock pelo ser humano que era. Mesmo sendo um duro competidor dentro do cockpit, estava sempre extrovertido fora dele e demonstrava um amor puro pelo esporte. Clay deixou saudades, mas seu legado dentro e fora das pistas será sempre lembrado.
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