A décima sexta etapa do campeonato de 2006 aconteceu em Shanghai no dia 01º de outubro. Só mais duas corridas (Japão e Brasil) aconteceriam depois desta, então ao chegar à China dois pontos atrás de Fernando Alonso, cabia a Michael Schumacher terminar à frente do espanhol para manter fortes suas chances de título. A vitória na prova anterior, em Monza somada ao abandono do espanhol dava novo gás ao alemão (desculpem, trocadilho não intencional), mesmo com a Renault abusando dos mind games ao declarar que estava confiante pois o piloto da Ferrari não se dava bem na pista chinesa em forma de coelho.
A McLaren, terceira no campeonato e sem muitas expectativas de título, confirmava Pedro de la Rosa ao lado de Kimi Raikkonen. Surgiram boatos de que o time inglês poderia dar uma chance ao jovem piloto de testes que havia vencido a última prova da GP2, mas não foi desta vez que Lewis Hamilton fez sua estreia na Fórmula 1. A BMW-Sauber também confirmava um garoto de 19 anos como piloto de testes, e Sebastian Vettel passeava pelo paddock feliz com a decisão do time.
O domingo chegou com chuva forte, favorecendo os pilotos que estavam calçados com pneus Michelin, como os da Renault, que tinham vantagem para os que, a exemplo da Ferrari, usavam os compostos da Bridgestone. Alonso largava da pole, fazendo dobradinha com Fisichella na primeira fila. Logo atrás vinham os dois pilotos da Honda, com Barrichello à frente de Button. Schumacher largava apenas da sexta posição, logo após Kimi Raikkonen. Massa foi obrigado a trocar o motor antes da corrida e perdeu 10 posições, largando lá do fundão, na 20ª posição.
Alonso tracionou muito bem na saída e manteve a liderança sobre Fisichella, enquanto Raikkonen passava os carros da Honda e pressionava o italiano. Schumacher manteve a posição, mas na volta 8 ultrapassou Rubinho e na 14 ganhou de Button, chegando num quarto lugar não muito confortável, pois estava a 25 segundos do líder asturiano. Enquanto isso Kimi também vinha bem, conseguiu se livrar de Fisichella e vinha tirando a diferença que o separava do primeiro lugar.
A pista começava a secar e a roda da fortuna girava favorecendo os pneus Bridgestone. Schumacher logo alcançou Fisichella e começou a marca-lo. Quando o finlandês abandonou com problemas em sua McLaren, o ferrarista ficou em terceiro e resolveu tentar um undercut, parando para o primeiro pit-stop na volta 21 para reabastecimento, mas manteve o mesmo jogo de pneus. No giro seguinte, Alonso foi ao boxes e uma decisão tomada às pressas e literalmente pela metade lhe custou caro.
Com a borracha francesa indo embora rápido, Fernando e a Renault não sabiam se conseguiriam se manter competitivos até a segunda rodada nos boxes. Mas também não estavam certos se terminariam a corrida caso trocassem os pneus naquele momento. Num caso clássico de xurastei or xuraigou, decidiram trocar só os dois da frente, mantendo os compostos usados nas rodas traseiras. Uma bela duma cagada, se não me cortarem o palavrão.
O espanhol até voltou na frente, mas em poucas voltas queimou os 20 segundos de vantagem que tinha para os outros dois competidores. Os três formaram um verdadeiro trenzinho da Estrela, e Alonso só manteve a liderança por um tempo por causa do braço, porque equipamento ele não tinha mais. Na volta 30 Fisichella passou, na 31 foi a vez de Michael e os dois começaram a se distanciar imediatamente. Arrastando-se na pista, que já tinha condições para pneus slick, Fernando voltou ao boxes na volta 35 para tentar minimizar o prejuízo. Mas os deuses da velocidade não gostaram da lambança da parada anterior, e seguraram o líder do campeonato por 19 segundos enquanto os mecânicos brigavam com problemas em uma das porcas da Renault. Ao voltar para a pista, Alonso estava em quarto lugar e 50 segundos atrás do líder.
O Físico e o alemão entraram nas voltas 41 e 40 para trocar por pneus de pista seca, com o italiano conseguindo voltar à frente da Ferrari. Mas, com o calçado novo ainda frio, espalhou na primeira curva e permitiu a ultrapassagem. Alonso já vinha em terceiro, babando e querendo tirar o tempo perdido, mas não havia mais tempo. O espanhol ainda conseguiu o lugar do companheiro de equipe, que não era bobo de se meter na briga do título, mas Schumacher deu a resposta à Renault dentro da pista, dominando completamente a corrida. Foi uma apresentação de gala, uma
despedida digna do maior recordista da história, que vencia a última corrida de sua carreira e com ela assumia a liderança do campeonato, empatado em pontos mas à frente por ter terminado mais vezes na primeira colocação.
FORA DAS PISTAS
O primeiro dia de outubro marca a estreia do Ford modelo T em 1908; a belezinha custava só 825 dólares na época. Cinquenta anos depois nascia a NASA, e em 1971 a Disney World em Orlando. Willy Mairesse, o diabo belga que correu na Fórmula 1 entre 1960 e 1965, nasceu neste dia em 1928 (contei a história dele aqui).
E, como foi em 1º de outubro de 1982 que a Sony lançou seu primeiro CD player, vou roubar de leve no jogo e deixar vocês com o primeiro CD que eu comprei, em 1993. Bom domingo.
Por alguma razão, essa ultrapassagem no Fisichella é uma das que mais me lembro do Schumacher!