Os grandes campeões do esporte a motor são eternizados nos alfarrábios da história.
As homenagens durante e depois da carreira são numerosas e os nomes se tornam marcas no esporte.
No entanto, há quem consegue ser eternizado por simplesmente ser chamado como o instrumento pelo qual o piloto entra para a história.
A alcunha de “The Bike” Michael Stanley Bailey Hailwood não poderia ser mais simbólica.
Afinal, a história do motociclismo tem a sua referência.
E há um capítulo deveras interessante nas quatro rodas também.
Quem o vê pelas imagens não o imagina como um grande campeão, no máximo como uma mistura de Gargamel com Biff Tannen.
Mas o talento daquele britânico nascido em 2 de abril de 1940 era algo além do comum.
Vindo de uma família abastada, esteve desde cedo envolvido com o mundo das motos.
Foi com os veículos de duas rodas que o pai se tornou rico.
Assim foi um pulo para Mike se envolver com motociclismo, primeiro como espectador, depois como piloto.
Aos 17 anos, Hailwood passou a correr com uma Triumph, construtora de motos para qual trabalhava há um ano.
No ano seguinte, já competia em várias categorias e demonstrava o potencial vencedor.
Ainda no final da década de 1950 e no começo dos anos 1960, Mike correu por várias marcas, com destaque para Ducati e Norton.
Mas, em 1961, o primeiro grande momento.
Já competindo em todas as divisões do Mundial de Motovelocidade (atual MotoGP), o britânico deu início a uma trajetória marcante de uma grande marca.
E isso veio com o primeiro título.
A conquista foi na classe das 250 cc, a bordo de uma moto de uma companhia japonesa desconhecida na época… uma tal de Honda.
Apesar de ser o primeiro piloto vencedor pela marca nipônica, foi por uma companhia italiana, não menos importante, que Mike construiu um império.
A MV Agusta era a marca a ser batida nas principais classes da Motovelocidade.
Principalmente nas 500 cilindradas, a classe mais importante do certame mundial.
Hailwood fez a concorrência de pano de chão entre 1962 e 1965.
Em 1964 e 1965, o britânico venceu TODAS as provas em que competiu na divisão máxima.
O inglês era o primeiro piloto da história a ganhar quatro títulos das 500 cc consecutivamente.
Porém, o britânico estava insatisfeito.
Acreditava que o conde Domenico Agusta dava a preferência a um novato promissor na equipe.
Um certo Giacomo Agostini.
Hailwood voltou à Honda. Apesar de derrotado na classe principal, acumulou vitórias e títulos das 250 cc e nas 350 cc.
No fim de 1967, Mike havia ganho nada menos que nove canecos de campeão mundial de Motovelocidade.
Porém, a montadora japonesa resolveu sair de cena por uns tempos.
Sochiro Honda deu 50 mil libras para Hailwood não disputar nenhuma prova do mundial de motos.
Um ciclo estava encerrado… mas o desejo da velocidade ainda seguia.
Afinal, Mike não podia competir em grandes provas com duas rodas, mas por que não correr com quatro?
O estilo rebelde e boêmio ansiava por mais desafios.
Abre parênteses. Hailwood era bem conhecido por ser um cara das baladas, talvez um antecessor de James Hunt nesse estigma.
Vivia cada dia como se fosse o último, por isso, não era um cara visto como alguém sério para se casar.
Diziam que uma cartomante lhe disse que não viveria mais do que 40 anos e o seu fim seria em um acidente com um caminhão.
Mas nem isso foi capaz de lhe fazer desacelerar. Fecha parênteses.
Na verdade, Mike já havia competido em carros de quatro rodas anteriormente.
Chegou a competir em algumas provas na Fórmula 1 pela Reg Parnell Racing entre 1963 e 1965.
Abocanhou um pontinho em Mônaco 1964.
No retorno às quatro rodas, participou de provas de endurance e monoposto.
Foi terceiro nas 24 horas de Le Mans de 1969 a bordo de um Ford GT40.
Em 1971, voltou a F1, na equipe de John Surtees.
O novo chefe de Mike era um exemplo a ser seguido, pois foi campeão nas motos e nos carros.
A corrida de retorno, no circuito de Monza, foi histórica.
Hailwood foi um dos protagonistas da prova e esteve entre os cinco postulantes à vitória.
Na prova que consagrou Peter Gethin, Mike foi o quarto colocado.
Em 1972, Mike, agora com o famoso apelido de “The Bike”, se concentrou entre a Fórmula 2 e a F1, ambas pela equipe Surtees.
Na divisão de acesso, o britânico foi mestre na regularidade e ganhou o título da categoria.
Na F1, teve o ponto alto novamente em Monza.
A bordo de um Surtees, Hailwood foi o segundo na Itália, apenas atrás do campeão Emerson Fittipaldi.
Com 13 pontos, o britânico foi o oitavo no campeonato de pilotos. Um resultado bem decente.
Se 1972 foi glorioso, o ano seguinte foi terrível.
Com uma verdadeira jabiraca e com pneus de baixa qualidade, Mike zerou naquela temporada.
A única glória, vejam vocês, veio por causa de um acidente…
Clay Regazzoni sofreu um grave acidente em Kyalami e o carro pegou fogo.
Mike parou o seu carro na pista e foi resgatar o suíço.
O britânico sofreu algumas queimaduras, mas conseguiu salvar o colega de profissão.
O ato de bravura foi reconhecido por todos.
E lhe rendeu a George Medal, a segunda maior honraria a civis no Reino Unido.
Então, veio o convite para guiar o terceiro carro da McLaren.
Com a equipe inglesa em franca ascensão e com dois campeões mundiais no elenco (Emerson Fittipaldi e Denny Hulme), o britânico teria uma grande oportunidade, mas um desafio complicado.
O começo foi até animador, com destaque para o terceiro lugar na África do Sul.
Mas uma sequência de quebras atrapalhou os planos de Hailwood.
No entanto, The Bike não largava sua essência.
Certa vez, na Holanda, quando Fittipaldi saía do seu hotel de manhã para a corrida daquele dia, topou com Mike voltando da noite dos Países Baixos.
Visivelmente alterado pela night de Amisterdã, o britânico se limitou a responder para o brasileiro apenas “Noite Fantástica”!
E não é que, na corrida em Zandvoort, The Bike resolveu incomodar o descansado Emerson a corrida inteira?
O brasileiro teve que se esforçar para superar o companheiro de equipe para chegar ao pódio.
O quarto lugar na Holanda foi o último resultado expressivo na F1.
Três corridas depois, em Nurburgring, um grave acidente encerrou sua trajetória nos monopostos.
Após se afastar das pistas, se casou com a mãe dos seus dois filhos e passou um tempo morando na Nova Zelândia.
Mas o destino ainda lhe reservava as últimas glórias.
Em 1978 voltou a correr na tradicional e perigosa corrida da Ilha de Man.
No seu auge, The Bike havia vencido 14 vezes quando a prova valia pelo campeonato do Mundial de Motovelocidade.
Mike entrou para a disputa a bordo de uma Ducati.
E venceu aquela prova.
No ano seguinte, mais um triunfo, a bordo de uma Suzuki.
Mesmo com motos bem mais evoluídas tecnologicamente, ele ainda mostrava que tinha lenha para queimar.
Mas não teve muito tempo para isso, pois a cartomante tinha razão.
Em 21 de março de 1981, Hailwood dirigia pela estrada com seus filhos, quando um caminhão fez uma conversão proibida e acertou em cheio seu carro.
A filha mais velha, Michelle, morreu na hora, o caçula David ainda sobreviveu.
Já Mike Hailwood ficou dois dias no hospital, mas não resistiu aos ferimentos.
A perda daquele chamado de “The Bike” abalou o esporte a motor.
A Ducati batizou dois modelos de motos com seu nome.
Teve seu nome eternizado no Hall da Fama do Motorsport em 2001.
E vários trechos das estradas da Ilha de Man foram batizadas em sua memória.
A história do motociclismo mundial e do esporte a motor devem muito a aquele que tinha a velocidade até mesmo na sua identidade.
Fonte: Moto.com.br, Continental Circus, Globoesporte.com
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