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SÉRIE CIRCUITOS DA F1: Roskilde Ring

Quando você vê uma antiga mina de cascalho, o que você pensa? O empresário Poul Tholstrup viu na mina desativada a possibilidade de criar um circuito em sua cidade natal, Roskilde, uma das mais antigas cidades da Dinamarca e que até metade do século XV serviu de capital para o país.

O automobilismo ainda tinha dificuldade de se firmar na Dinamarca, com corridas de balão tendo mais importância do que o automobilismo em 1930, quando o Automobil Sports Klubben (ASK) foi criado. As corridas em vias públicas chegaram a ser banidas em 1932 e para manter as corridas acontecendo, o ASK criou duas modalidades, corrida por tempo, feitas em áreas delimitadas, e de caça, quando um carro fazia o papel de presa e era perseguido pelos participantes, conseguindo assim a autorização necessária.

Depois da Segunda Guerra, o ASK voltou a promover corridas e em 1953, Tholstrup comprou o local e começou as obras do Roskilde Ring, o primeiro circuito permanente do país. O tesoureiro do clube, Svend Harbjerg Kristensen, era primeiro-tenente no departamento de engenharia militar e colocou seus subordinados para fazer a nivelação da mina como forma de aprendizagem.

O circuito foi inaugurado no dia 5 de junho de 1955, com a presença de 30 mil espectadores e era bem peculiar, como definiu Sir Stirling Moss. Se na época, pistas longas, muitas com mais de 20 quilômetros de extensão eram comuns, mas a pista de Roskilde tinha apenas 670 metros!

Desenho do primeiro traçado de Roskilde Ring, com o traçado aumentado podendo ser visto na parte mais clara. Foto: reprodução
Um dos bankings da pista, que no começo ainda era de terra. Foto: reprodução
O paddock do circuito logo em sua inauguração. Foto: reprodução

Logo se viu que a pista era muito pequena e em 1957, uma reforma aumentou o traçado e asfaltou a pista. No caso de Roskilde Ring, o que valeu foi a intenção, já que depois da mudança, o traçado passou a ter 1,38 km, ainda muito curto para os padrões. Para se ter uma ideia, o traçado de Mônaco, o menor da temporada atual, tem 3,340 km.

Traçado depois da reforma, que apesar de ter aumentado de comprimento, continuou muito curto para a época. Foto: reprodução

O traçado era formado por bankings e não tinha nenhuma reta longa. E como foi construído em um fosso, a arquibancada tinha o formato de um anfiteatro. A pista também contava com uma elevação de 14 metros entre as partes mais altas e mais baixas, e as corridas eram disputadas em sentido anti-horário.

O circuito de Roskilde visto de cima, com suas muitas curvas em pouco espaço. Foto: reprodução
As arquibancadas foram feitas se aproveitando do formato da mina e davam ao público uma visão privilegiada. Foto: reprodução

O Automobil Sport Klubben (ASK) ficou responsável por administrar o circuito e organizar as corridas na nova pista. Apesar de seu tamanho e particularidades, o Roskilde Ring foi palco do GP da Dinamarca de Formula 2 e 3, entre 1960 e 1968.

O circuito acabou atraindo várias categorias e o público comparecia em peso. Foto: reprodução
Grid de largada com o banking logo em seguida. A curta pista não tinha espaço para muitas retas. Foto: reprodução

Como era pequeno, as corridas aconteciam em formato de baterias, com a somatória dos resultados determinando os vencedores. As características da pista a tornava perigosa e no dia 10 de setembro de 1960, o promissor piloto neozelandês George Lawton perdeu a vida depois de perder o controle do carro na primeira bateria para o Grande Prêmio de F2, falecendo nos braços de seu amigo e compatriota Denny Hulme, que veio junto com Lawton para a Europa naquele ano como parte de um prêmio. Lawton já estava com contrato assinado para estrear na F1 em uma corrida não-oficial na semana seguinte e foi substituído por Hulme, que viria a se tornar campeão em 1967. A segunda morte no circuito aconteceu em 1965, quando o piloto de carro de turismo, Pelle Ancher, teve seu carro atingido e capotou. Com o cinto de segurança frouxo, o piloto ficou pendurado para fora do carro durante o capotamento, sofrendo diversas lesões internas e falecendo no hospital no dia seguinte.

Mesmo com suas peculiaridades, o circuito recebeu a F1. Nos dias 26 e 27 de agosto de 1961, uma corrida não-oficial foi disputada em três baterias, com a primeira, realizada no sábado, tendo vinte voltas e as demais, feitas no domingo, com 30. Stirling Moss foi o vencedor, depois de vencer as três baterias com a Lotus, com o tempo total de 59m28s5. Innes Ireland e Roy Salvadori completaram o pódio.

Nos dias 25 e 26 de agosto de 1962, a F1 voltou à Dinamarca ainda de forma não-oficial, com Jack Brabham saindo vitorioso depois de liderar todas as baterias e terminar com o tempo de 59m14s1, com Masten Gregory em segundo e Innes Ireland em terceiro.

Apesar do sucesso da pista, o circuito se viu cada vez mais cercado de casas, que chegaram com a expansão da cidade. O barulho dos carros logo começou a incomodar e por conta disso, a pista recebeu sua última corrida no dia 22 de setembro de 1968.

O ASK acabou vendendo o terreno e passou a procurar outro lugar para suas corridas. A cidade de Hillerød e suas extensas áreas verdes ao redor foi considerada, mas o local escolhido acabou sendo uma área que ficava perto de Regstrup, a cerca de 40 km de Copenhague. O problema é que o ASK não conseguiu autorização para construir um circuito perto da área metropolitana e as corridas acabaram sendo transferidas para o circuito de Jyllandsringen, a cerca de 300 km da capital.

A pista de Roskilde acabou sendo transformada em um parque e um campo de golfe, que leva o mesmo nome do antigo circuito.

Vista do parque onde ficava o Roskilde Ring. Um lago foi construído no lugar onde ficava o paddock. Foto: Reprodução

Em 2017, começaram as conversas para trazer a F1 de volta à Dinamarca. O piloto Jan Magnussen, que correu na F1 entre 1995 e 1998 e é natural de Roskilde, ajudou a desenhar um circuito de rua com a ajuda de Hermann Tilke, só que dessa vez na capital Copenhague. Apesar de na época o grid contar com quatro pilotos nórdicos (Kevin Magnussen, filho de Jan e também natural de Roskilde, Marcus Ericsson, da Suécia e os finlandeses Kimi Raikkonen e Valtteri Bottas), que ajudariam a atrair os torcedores dos países vizinhos, o projeto acabou não saindo do papel.

Projeto do circuito de rua em Copenhague, que acabou não saindo do papel. Foto: reprodução
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