Ficha técnica
Nome do circuito: Kyalami Grand Prix Circuit
Comprimento da pista: 4,261 km (1993)
Número de voltas: 72
Distância total: 306,792 km
Recorde da pista: 1:17.578, Nigel Mansell (1992)
Primeira corrida na F1: 1967
A ideia por trás da construção do circuito de Kyalami começou depois da Segunda Guerra Mundial. A região de Joanesburgo já contava com o circuito Grand Central, que era considerado antiquado. Por isso era preciso uma nova pista, com instalações modernas e que pudesse receber as cada vez mais habituais corridas. E a nova pista também tinha outro interesse: tirar de East London o posto de principal circuito africano.
Quem ficou no comando do projeto foi o piloto da casa Alex Blignaut, que fez todo um estudo sobre custos e retornos do investimento e até achou um local que estava disponível e poderia abrigar o novo circuito. Tudo parecia certo para ir adiante, mas um novo local foi proposto e o projeto ficou empacado.
Para que a pista finalmente saísse do papel, o prefeito de Joanesburgo, Dave Marais, entrou na história e se sentou com todos os envolvidos. Da reunião nasceu o South African Motor Racing Club, com Francis Tucker sendo eleito presidente e Blignaut assumindo como secretário.
E assim o grupo partiu em busca de um novo local para a pista. Tanto Tucker quanto Blignaut gostaram de Kyalami, que na língua zulu, significa “minha casa” e ficava a cerca de 24 km do centro da cidade. A dupla teve muito trabalho para convencer os investidores, que a princípio rejeitaram o local, mas depois concordaram em construir o novo circuito na área.
Toda a supervisão da obra ficou nas mãos de um dos membros do clube, Basil Read, que com um estudo da Shell em mãos, começou escolhendo um asfalto que proporcionasse a maior aderência, independente do clima. A região montanhosa também foi decisiva na hora de desenhar o traçado, visando proporcionar a melhor visão para o público.
As obras terminaram em outubro de 1961 e já no mês seguinte, no dia 4 de novembro, o Rand Spring Trophy, válido por um campeonato nacional e uma prova de endurance de nove horas, foram disputadas na nova pista, que tinha 4,104 km. Por ser perto das principais cidades da África do Sul, o público compareceu em massa para prestigiar os eventos e ficou surpreso com a visão que as arquibancadas proporcionaram.
Com o passar dos anos, o circuito ficou bem popular na cena automobilística africana e novas melhorias foram feitas, como arquibancadas cobertas e modernizações nos demais prédios. Toda a reforma deu resultado e com o circuito de East London sendo considerado pequeno demais para os carros de F1, Kyalami logo surgiu como substituto perfeito.
Na inspeção, o circuito foi considerado apropriado para receber a categoria, apenas com a solicitação de se aumentar a largura da pista e assim ficar dentro da regulamentação internacional. O South African Motor Racing Club ficou tão entusiasmado em receber a F1, que não só fez o alargamento da pista, mas também aproveitou para fazer outras melhorias. Por conta da alteração na pista, a arquibancada central teve que ser demolida e reconstruída um pouco mais atrás. O mesmo aconteceu com a área dos boxes, que recebeu um divisão para a pista, que não existia antes, além de uma ponte que ligava o paddock com a parte externa. O asfalto também foi mudado, já que o antigo era considerado muito duro para os novos pneus usados pela F1.
O resultado de todo o esforço pode ser visto no dia 2 de janeiro de 1967, quando Kyalami recebeu o GP da África do Sul pela primeira vez.
A corrida foi especial para o piloto mexicano Pedro Rodriguez, que saiu do circuito com sua primeira vitória na F1. Quem também festejou foi John Love, que conquistou seu primeiro e único pódio, ao chegar em segundo. John Surtees completou o pódio.
O circuito agradou a todos e o clima ameno do país nessa época do ano, também se mostrou ideal para os testes de pré-temporada. A corrida de 1968 contou com um show de Jim Clark, que fez a pole, a volta mais rápida e venceu a corrida. O piloto britânico só não completou o Grand Chelem, porque Jackie Stewart pulou na frente na largada e liderou a primeira volta, com Clark se mantendo na frente da segunda volta até a bandeirada. Foi a última corrida do piloto na F1, que faleceu em um acidente durante uma prova de F2 em abril daquele ano.
O circuito também teve sua cota de tragédias. Em 1974, Peter Revson faleceu num acidente durante uma sessão de testes com a equipe Shadow. O acidente mais marcante, no entanto, foi o de Tom Pryce, durante a corrida de 1977. O fiscal Jansen van Vuuren atravessou a pista correndo com um extintor na mão, para acudir um carro que acabara de abandonar e começava a pegar fogo. Nesse momento, Pryce vinha a toda velocidade e atingiu o fiscal, que foi jogado para o alto. O extintor acertou a cabeça do piloto, arrancando seu capacete e o matando. O carro de Pryce continuou em alta velocidade até bater no carro de Jacques Laffite. Van Vuuren também não sobreviveu e só foi identificado depois de feita uma chamada com todos os fiscais para descobrir quem estava faltando.
Apesar de constar no calendário todos os anos, a corrida não foi disputada em 1981, por conta de um impasse entre a Federação Internacional de Automobilismo Esportivo (FISA), que queria mudar a data da corrida, e a Associação de Construtores de Fórmula (FOCA), que era a responsável por organizar a prova. No final, a data original foi mantida, mas como uma corrida de Formula Libre, sem contar para o campeonato oficial. Boa parte das equipes, como Alfa Romeo, Ferrari, Ligier, Osella e Renault, ficaram do lado da FISA e não participaram da corrida, que teve a vitória de Carlos Reutemann, com Nelson Piquet chegando em segundo e Chico Serra em nono.
Nos anos 1980, a situação política na África do Sul, que enfrentava protestos contra o apartheid, levantou questões sobre a segurança das equipes. Para a corrida de 1985, o governo francês proibiu as equipes Renault e Ligier de participaram da etapa sul africana, como forma de apoio ao movimento anti-apartheid. Foi a última corrida no país antes de um hiato de sete anos.
Enquanto a F1 não voltava, o circuito passou a receber campeonatos nacionais. Sem investimento em melhorias, as instalações começaram a se deteriorar. E para piorar a situação, o local onde o circuito estava localizado, antes isolado da cidade, começou a ganhar vizinhos e com uma área valorizada, começou a se questionar a necessidade da pista, que poderia ter o terreno usado para outros fins.
A solução veio em 1988, com a venda de uma parte do circuito, que ficava numa área mais nobre, e a construção de uma nova pista na área mais barata, usando o dinheiro da venda para a nova construção. Com isso, a reta dos boxes e as curvas Crowthorne e Barbeque foram demolidas, com algumas partes do antigo circuito ainda sendo preservadas no novo traçado.
A nova pista começou recebendo corridas nacionais, até que em 1990, a DTM aceitou um convite para fazer uma etapa no circuito. Já a F1 continuava com um pé atrás, com o apartheid ainda existindo no país. Lentamente as equipes começaram a desembarcar no país para realizar testes. Vendo que a situação não estava tão grave como antes e com o fim do apartheid logo em seguida, a F1 decidiu dar mais uma chance ao país. Os pedidos de melhorias feitos pela categoria deram resultado e Kyalami abriu a temporada de 1992, com direito a um Grand Chelem de Nigel Mansell.
A corrida de 1993 foi a última corrida realizada no país e terminou debaixo de chuva forte, com Alain Prost vencendo depois de conquistar a pole. Sofrendo com problemas financeiros, a situação do circuito se agravou ainda mais com a prisão do promotor da corrida, acusado de fraude. O circuito foi vendido para a South African Automobile Association, que para conseguir um pouco mais de dinheiro, construiu até as salas de conferência no local, com as competições nacionais ainda sendo a salvação do circuito, que fez apenas uma alteração na curva Kink, colocando uma chicane para suprir a falta de área de escape.
A economia do país começou a se recuperar e no final dos anos 1990, os eventos internacionais começaram a aparecer. A Superbike foi a primeira a competir, em 1998, com a Grand Prix Masters chegando em 2005. Novamente a economia começou a se deteriorar e os eventos internacionais foram paralisados mais uma vez. Uma nova tentativa foi feita em 2009, com a A1GP Series e a World Superbikes desembarcando no país, mas a alegria só durou até o ano seguinte, quando o governo parou de investir em competições internacionais para reduzir custos.
Em julho de 2014, Kyalami foi leiloado e comprado pelo presidente da Porsche sul-africana Toby Venter. No ano seguinte, o circuito foi completamente reformado, visando se encaixar nas regras internacionais, modificando até o traçado da pista. Agora com 4,522 km, Kyalami recebeu a certificação de Grade 2 pela FIA e o único circuito na África a ter essa classificação. Para comemorar o sucesso da nova pista, em novembro de 2019, as competições internacionais voltaram, com a GT Challenge participando das 9 horas de Kyalami, prova que era disputada no começo da história do circuito.
Com a intenção de levar a F1 a mais destinos, o CEO da F1 Stefano Domenicali, revelou a intenção de levar a categoria de volta ao continente africano, com Kyalami sendo um dos favoritos à receber a corrida, já que o circuito mostrou interesse em se atualizar e receber a certificação necessária para abrigar a F1.
Entre os vencedores, Niki Lauda subiu três vezes no degrau mais alto do pódio. Jackie Stewart, Nigel Mansell e Alain Prost vem logo atrás, com duas vitórias cada. Stewart e Prost dividem a liderança quando se trata de número de pódios, com os pilotos conquistando quatro cada um. Entre os brasileiros, Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna conseguiram dois pódios cada e Nelson Piquet conseguiu conquistar um. A pista de Kyalami é especial para Senna, já que foi nela que o piloto brasileiro conquistou seu primeiro ponto na categoria, ao chegar em sexto na corrida de 1984.
Entre os pilotos da casa, dez sul-africanos já se alinharam no grid em Kyalami: Paddy Driver, Jackie Pretorius, Dave Charlton, Luki Botha, Basil van Rooyen, Eddie Keizan, Guy Tunmer, Desiré Wilson (que participou da corrida não-oficial de 1981) e os irmãos Ian e Jody Scheckter, esse último sendo o mais bem sucedido, com uma vitória e mais dois segundos lugares na pista sul-africana.