ColunistasFórmula 1Post
Tendência

SÉRIE CIRCUITOS DA F1: Estoril

A primeira corrida em Portugal aconteceu em 1902, sete depois que o primeiro automóvel foi importado para o país. Depois disso, o automobilismo português começou a crescer, criando provas famosas, como a Rampa da Falperra, corrida de subida de montanha que começou a ser disputada em 1927, na cidade de Braga e que até hoje atrai multidões.

Não demorou para a F1 também realizar provas no país, mas utilizando circuitos de rua de Monsanto, na região de Lisboa, ou o circuito da Boavista, na cidade de Porto.

Em 1970, a empresária Fernanda Pires da Silva, utilizando seus próprios recursos, resolveu construir um circuito permanente na cidade de Estoril, cerca de 30km da capital Lisboa.

A empresária Fernanda Pires da Silva, idealizadora do circuito que oficialmente leva seu nome. Empresária faleceu em janeiro de 2020, aos 93 anos. – Foto: reprodução
Ayrton “Lolô”Cornelsen, que desenhou o circuito em Estoril. O arquiteto faleceu em março de 2020, aos 97 anos. – Foto: reprodução

O arquiteto brasileiro Ayrton “Lolô” Cornelsen, que também projetou o Autódromo Internacional de Goiânia, criou o projeto do circuito português e as obras começaram em 1970. O circuito só foi inaugurado em 17 de junho de 1972, recebendo etapas de carros de turismo. Mário de Araújo, pilotando um BMW CS 2800 Schnitzer, foi o primeiro vencedor no circuito, que também passou a receber provas de rally.

Mário de Araújo, vencedor da primeira prova disputada em Estoril. – Foto: reprodução

Depois da corrida inaugural, crises políticas e econômicas em Portugal fizeram com o circuito só recebesse sua primeira corrida internacional em 1975, quando Jacques Laffite venceu a etapa do campeonato mundial de F2. Nos dois anos seguintes, a F2 continuou a correr em Estoril, que também abrigou uma etapa do World Sportscar Championship. Mas logo a pista caiu no esquecimento e parou de receber competições internacionais.

Não querendo que a pista ficasse vazia, o presidente do Automóvel Club de Portugal, César Torres, começou uma campanha para trazer corridas novamente para o circuito, alegando que uma corrida de uma categoria como a F1 poderia render frutos para o turismo local. Para a sorte de Estoril, a situação política na África do Sul impossibilitou que as equipes fizessem seus testes de inverno no circuito de Kyalami. Vendo a chance de ingressar no calendário da F1, o circuito passou por melhorias e a campanha deu certo, com Estoril fechando a temporada de 1984. E que desfecho! Companheiros de equipe, o francês Alain Prost e o austríaco Niki Lauda chegaram em Portugal brigando pelo título. Prost venceu a corrida, mas com o segundo lugar, o piloto austríaco levou a melhor e conquistou seu terceiro título com apenas 0,5 ponto de diferença, a decisão de título mais apertada da história.

Companheiros de equipe, Prost e Lauda exaltam um ao outro no pódio. Prost venceu a corrida, mas Lauda levou o campeonato com apenas 0,5 ponto de vantagem. – Foto: reprodução

No ano seguinte, Estoril abrigou a segunda etapa do campeonato e testemunhou um show de Ayrton Senna, na época pilotando pela Lotus. O piloto brasileiro marcou sua primeira pole position e durante a corrida, realizada debaixo de uma forte chuva, liderou todas as voltas da corrida, ultrapassando todos seus adversários menos o segundo colocado, Michele Alboreto, para vencer sua primeira corrida na F1.

Depois de dar um show sob a forte chuva que caia em Estoril, Senna comemora sua primeira vitória na F1, em 1985. – Foto: reprodução
Veja o vídeo do: GP de Portugal 1985 Primeira vitória de Ayrton Senna na F1

O circuito continuou recebendo a F1, mas a FIA vivia pedindo aos organizadores que modernizassem o circuito. Uma pequena mudança foi feita, com uma chicane, chamada de Gancho, sendo adicionada para substituir a curva Tanque, que por não possuir uma área de escape grande, já que havia casas construídas logo atrás do circuito, era considerada perigosa. A curva Orelha também sofreu modificações para receber o campeonato de World Superbikes.

Primeiro traçado de Estoril, que tinha 4,350 km de extensão. – Foto: reprodução
Alteração feita no traçado. A Curva Gancho foi criada, substituindo a perigosa Tanque, com o traçado passando a ter 4,360 km. – Foto: reprodução

Alguns acidentes marcaram o circuito. Os mais graves foram os acidentes de Riccardo Patrese, em 1992, que após se chocar com a traseira de Berger, decolou e caiu colado ao pitwall. Para o médico da FIA na época, Professor Sid Watkins, o acidente poderia ter sido catastrófico se o carro tivesse parado do outro lado do muro. Patrese sofreu apenas lesões nos joelhos, mas nada muito grave.

Carro de Patrese cai colado ao pitwall e por pouco não causa uma catástrofe. – Foto: reprodução

Vídeo: Grande batida de Patrese em Estoril!

No ano seguinte, foi a vez de Gerhard Berger, que teve um quebra de suspensão saindo dos boxes e cruzou a pista para bater no guard-rail do outro lado, quase batendo em outros competidores no caminho.

A FIA não pediu melhorias apenas na pista, mas também nas instalações. Sem ser atendida, a corrida de 1997 acabou cancelada. O governo reagiu, liberando o dinheiro para as obras e a corrida foi incluída no calendário de 1998, mas atrasos nas obras fizeram com que Estoril ficasse de fora permanentemente, com Jacques Villeneuve se tornando o último vencedor de uma prova de F1 no circuito, em 1996.

Acabada a reforma e com uma mudança de gestão, o circuito reabriu em 1999, mas as regras para receber a F1 já haviam mudado e o circuito conseguiu apenas permanecer com a licença para receber testes.

O jeito foi abrigar a MotoGP, que fez sua primeira corrida no circuito em 2000, com alterações sendo feitas para melhorar a segurança dos motociclistas, além da gestão do circuito passar para as mãos do governo. Uma nova crise no país fez com que as taxas pagas para a FIM fossem demais para o governo continuar financiando, fazendo com que a MotoGP também tirasse o circuito de seu calendário depois de 2012.

Apesar de não receber mais a F1, outras competições de automobilismo continuaram a acontecer, como a GT Series, DTM e a European Le Mans Series, com as 6 horas de Estoril. Em 2018, a pista passou por um recapeamento, que trouxe de volta a curva Tanque, que apesar de não ser muito usada, tornou-se uma alternativa. Atualmente, o circuito recebe as provas de Moto3 e Moto2, além de algumas categorias de automobilismo, além da Estoril Classic, uma corrida com carros antigos, incluindo alguns da F1.

O circuito passou por algumas mudanças desde 1999, principalmente no formato das curvas 1 e 2 e na diminuição da parabólica, que foi renomeada para Parabólica Ayrton Senna. Desde 2018, o circuito passou a ter 4,182 km de extensão. – Foto: reprodução

O que fica do circuito é a lembrança de uma das fotos mais icônicas da F1. No dia 21 de setembro de 1986, Ayrton Senna, Nelson Piquet, Nigel Mansell e Alain Prost foram fotografados juntos, sentados na mureta dos boxes. Os quatro pilotos estavam começando a deixar suas marcas na F1, com Piquet já tendo conquistado 2 títulos e Prost sendo o atual campeão. Naquele ano, os quatro estavam lutando pelo título, chegando em Portugal com uma diferença de apenas 13 pontos entre Mansell, o líder, para Senna, o 4º colocado. Vendo a oportunidade, Bernie Ecclestone, na época diretor da Brabham e já com bastante influência na F1, resolveu reunir os quatro pilotos para uma foto que ficou marcada na história.

Senna, Piquet, Mansell e Prost posam para foto icônica em Estoril. A briga pelo título foi até a última etapa do campeonato. – Foto: reprodução

Um pouco mais de um mês depois da foto ser tirada, Prost venceu seu segundo título, batendo Mansell por apenas 2 pontos. Os dois pilotos estão empatados com o maior número de vitórias no circuito, com 3. Enquanto isso, Ayrton Senna (1985) e David Coulthard (1995) foram os únicos pilotos que conseguiram a pole, vitória e volta mais rápida no circuito, um feito esperado para Senna, que com 3 poles, é o piloto que mais largou na frente em Estoril.

Entre os pilotos da casa, apenas Pedro Lamy correu em Estoril e só completou uma das três corridas que disputou em casa.

Pedro Lamy foi o único representante de Portugal a correr em Estoril. – Foto: reprodução

Entre os pilotos brasileiros, além de Senna e Piquet, Maurício Gugelmin, Roberto Moreno, Christian Fittipaldi, Rubens Barrichello, Pedro Paulo Diniz e Ricardo Rosset também correram na pista portuguesa. De todos, Senna foi o mais bem sucedido, com uma vitória e cinco pódios, enquanto que Nelson Piquet tem dois pódios em Estoril.

Mostrar mais

Deixe uma resposta

Botão Voltar ao topo