O sexto GP da Malásia aconteceu no dia 21 de março de 2004, e foi a segunda corrida da temporada. Na prova inaugural em Melbourne, duas semanas antes, uma dobradinha da Ferrari indicava mais um ano vermelho. Após dominar os campeonatos em 2000, 2001 e 2002, nem a mudança de pontuação em 2003 (pela primeira vez os oito primeiros pontuariam) foi suficiente para evitar a supremacia ítalo-germânica, embora a temporada anterior não tivesse sido tão folgada – Schumacher foi campeão com apenas dois pontos de vantagem para Kimi Raikkonen, na McLaren.
No sábado, uma surpresa: Mark Webber conseguiu separar os dois carros de Maranello, enfiando-se ao lado do pole Schumacher na primeira fila. Em quarto lugar largaria Juan Pablo Montoya, com a Williams, à frente de Kimi e da BAR-Honda de Jenson Button. Na sétima posição a outra Williams com o Schumacher mais novo, seguido pela Renault de Jarno Trulli, a outra McLaren com Coulthard e a Toyota do brasileiro Cristiano da Matta, que fechava o top 10. Felipe Massa, de Sauber, era o décimo-primeiro.
O domingo era dia de eleição na Malásia, mas a população local ou não se importou com isso ou seguiu o conselho impresso nos jornais de votar antes e ir à corrida depois. Não que a lotação de 90.000 espectadores divulgada tenha sido exatamente real, mas não havia muitos espaços vazios nas arquibancadas.
Na volta de apresentação, apesar do calor ambiente (34°C, com 42 na pista), os pneus frios de Raikkonen o fizeram ver o mundo girar, e não do jeito que ele está acostumado. Apesar da rodada ele conseguiu manter-se no asfalto e pôde retornar a seu lugar no grid, um mundo à frente da Renault de Fernando Alonso que, sem conseguir marcar tempo no dia anterior sairia do penúltimo lugar da fila, à frente apenas de Takuma Sato, que também não fez tempo com sua BAR no sábado.
Na largada, enquanto Schumacher estilingava à frente Webber tinha o mesmo tempo de reação às luzes vermelhas que um coala empanturrado de eucalipto. O australiano de queixo quadrado simplesmente esqueceu de pisar no da direita e arruinou sua boa colocação, passando a primeira curva em décimo quarto lugar. Ele ainda recuperou algumas posições e fechou a primeira volta em nono, atrás de um surpreendente Alonso que encontrou todos os espaços possíveis e deixou 11 carros para trás no primeiro giro.
Com a Jaguar fora da jogada, Barrichello assumiu a posição de escudeiro, segurando Montoya e Raikkonen enquanto Schumacher começava a construir uma vantagem necessária: a Ferrari obviamente estava largando mais leve que as Williams e McLarens, e teria que parar antes. Tudo parecia estar dando certo, mas na segunda volta uma chuva daquelas que só acontecem em países tropicais banhou o asfalto. Rubinho embarrigou uma curva e o colombiano e o finlandês passaram já com o cheiro de sangue ferrarista em suas narinas, e rapidamente a Williams se aproximou da primeira posição. Só que estes torós malaios são imprevisíveis, e com o calor de março e a chuva finda, na volta três a pista já começava a fazer um trilho e logo iria secar. Os pneus Michelin perderam sua vantagem e, de Bridgestone, Schumacher fez o que sabia fazer de melhor: abriu uma vantagem de 4 segundos em três voltas, e depois controlou a distância. Montoya não conseguia se aproximar e, quando o alemão parou na volta 14 para o primeiro pit stop, não foi o suficiente para que, após o abastecimento do colombiano, a Ferrari perdesse a dianteira. Kimi continuava em terceiro, e Button tinha tomado a quarta posição de Barrichello, que brigava para reconquistá-la. O inglês manteve-se à frente e, após a segunda rodada de pit stops, aproveitou um pequeno atraso da McLaren para tomar a terceira posição de Raikkonen. Não foi uma boa prova para o finlandês, que um pouco depois acabou abandonando com problemas de transmissão.
Nesse intervalo entre o segundo e o terceiro stints Montoya também se viu em problemas, voltando dos boxes logo atrás de Barrichello, que ainda tinha algumas voltas a fazer. Juan Pablo tentou um movimento mas o brasileiro fechou a porta, indicando que venderia caro a posição momentânea. “Faltavam apenas 12 voltas e ele não me deixaria passar sem uma briga que poderia me tirar a segunda colocação”, disse o piloto da Williams depois. “Eu simplesmente recolhi e acionei o modo de cruzeiro para terminar a prova”.
Eventualmente Barrichello fez seu segundo pit stop, voltando logo atrás da BAR, mas apesar dos esforços não conseguiu a ultrapassagem. Schumacher cruzou a linha de chegada após pouco mais de uma hora e meia de prova, com Montoya cinco segundos atrás dele. Logo em seguida, vinha o cara mais feliz do dia: Jenson Button que, segurando uma Ferrari atrás de si, iria pela primeira vez subir ao pódio.
lll FORA DAS PISTAS
O primeiro dia completo do equinócio marca também o nascimento da rede social mais frequentada por este dublê de cronista, o Twitter (encontro vocês lá no @cevalesi), e também os aniversários do excelente ator inglês Gary Oldman, o genial jogador de futebol alemão Lothar Matthäus, o eterno Ferrys Bueller Matthew Broderick, o repórter de F1 inglês Ted Kravitz e o rei do rolê aleatório Ronaldinho Gaúcho.
Sim, é claro que também é aniversário de Ayrton Senna. Mas, sobre ele, escreveram aqui nessa série caras muito mais gabaritados do que eu. Leiam os textos do Eduardo Casola Filho e do Cristiano Seixas sobre o Boss.
Da minha parte, deixo o registro de que, em 21 de março de 1952 um DJ de Cleveland chamado Alan Freed organizou o agora famoso Moondog Coronation Ball. Ele tinha cunhado um termo para o ritmo acelerado que era filho do Blues, e o baile que tinha seis bandas contratadas ficou conhecido como o primeiro festival de rock and roll da história. Pena que foi interrompido logo após a primeira música pelas autoridades locais, que ficaram um pouco incomodadas com o fato de terem sido vendidos 20 mil ingressos para um salão que não comportava nem a metade desse público.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.