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Robert Wickens: a retomada do sonho interrompido

Antes de cada começo de temporada, jorram anúncios de pilotos decidindo seus próximos passos no automobilismo. Mas o anúncio feito pela Bryan Herta Autosport no dia 14 de janeiro de 2022, sobre o piloto que vai competir na GT Class durante o IMSA Michelin Pilot Challenge foi especial. A escolha da equipe foi Robert Wickens, piloto canadense que viu sua meteórica carreira sofrer um baque em 2018, quando ficou paralisado após um acidente.

Robert Wickens retornou às pistas depois de acidente usando um carro adaptado. – Foto: reprodução

Nascido na cidade de Guelph, na região de Ontário, no dia 13 de março de 1989, Robert Wickens começou no kart em 2001 no Canadá, migrando para Formula BMW USA em 2005, quando tinha 16 anos, terminando em 3º no campeonato e assinando com a Red Bull para fazer parte de sua academia de pilotos. Em 2006, Robert foi campeão da Formula BMW USA e 3º na Champ Car Atlantic no ano seguinte. Em 2008, Robert trocou os Estados Unidos pela Europa, competindo pela Formula Renault 3.5. Depois de ser vice-campeão na F2 em 2009, o piloto subiu para a GP3 no ano seguinte, terminando novamente na segunda colocação no campeonato. Em 2011, foi campeão da Formula Renault 3.5, indo para a DTM, correndo na categoria entre 2012 e 2017, quando firmou um contrato com a Schmidt Peterson Motorsport para voltar aos Estados Unidos e competir pela Indycar em 2018.

E logo em sua estreia, Robert marcou a pole no circuito de St. Petersburg. Fazendo uma excelente campanha, o piloto conseguiu cinco pódios, o que lhe renderia o prêmio de Rookie of the Year (Estreante do Ano), prêmio que também recebeu após as 500 Milhas de Indianápolis, quando chegou em 9º na prestigiada corrida.

Robert tinha tudo para ter uma carreira bem sucedida na categoria, até que no dia 19 de agosto de 2018, tudo mudou. Uma forte batida durante a corrida em Pocono deixou o piloto gravemente ferido, com as informações iniciais dando como certas fraturas nas pernas, na coluna e uma lesão pulmonar.

O carro de Wickens se desintegrou durante a batida e o piloto sofreu diversas fraturas. – Foto: reprodução

Com o passar dos dias, a família divulgou a real extensão de suas lesões. Ao todo, Robert sofreu:

  • Fratura na coluna torácica;
  • Fratura no pescoço;
  • Fratura na Tíbia e fíbula das duas pernas;
  • Fratura nas duas mãos;
  • Fratura no antebraço direito;
  • Fratura no cotovelo;
  • Fratura em quatro costelas;
  • Contusão pulmonar;
  • Lesão medular.

A parte mais preocupante era a lesão medular, mas como não houve ruptura completa, ainda havia esperança de que o piloto recuperasse os movimentos.

Depois de muitas cirurgias, começou o lento processo de recuperação, que foi sendo divulgado pelo piloto em suas redes sociais. O sonho de Robert era conseguir dançar em seu casamento, que estava se aproximando. Mas à medida que os meses passavam, ficava claro que voltar a andar era ainda um objetivo distante. No dia 18 de outubro, Robert postou um vídeo em que fazia sua primeira transferência da maca para a cadeira de rodas sozinho na condição de paraplégico.

Apesar dos fãs acompanharem o desenvolvimento de seu tratamento, a palavra paraplégico pegou muita gente de surpresa, com o piloto tendo que esclarecer que naquele momento, ele estava sim paralisado e essa era sua nova realidade.

“Não houve anúncio para confirmar que eu estou paralisado. Eu estou paralisado desde o momento que eu atingi aquele poste em Pocono. Nós deixamos bem claro que eu tive uma lesão na medula espinhal no declaração de imprensa lançada pela SPM, mas acho que as pessoas não estavam cientes do que isso significava e só estão especulando”, declarou o piloto, que ainda esclareceu que sua lesão na T4 o deixou paralisado no peito para baixo e que ainda era cedo para dizer se ele voltaria a andar, já que sua lesão não foi completa.

Com a sensibilidade das pernas retornando, havia chances de que o piloto conseguisse se recuperar. Aos poucos, Robert foi liberando vídeos de sua evolução, dando os primeiros passos com a ajuda de aparelhos.

Seis meses depois do acidente, em fevereiro de 2019, Robert surpreendeu sua noiva, Karli Woods, ao ficar de pé, ainda que tivesse que se apoiar nela.

Todo o trabalho de recuperação começou a ser visto em suas postagens. Em um vídeo de março de 2019, Robert é visto subindo as escadas de um jato particular precisando da assistência dos amigos para ajudar nos movimentos das pernas. Dois meses depois, Robert já conseguiu subir a escada sem assistência.

E em julho de 2019, veio o primeiro retorno às pistas, pilotando o parade car na etapa de Toronto, usando um carro da Honda com os comandos adaptados.

“QUE DIA! Eu tenho sonhado com esse dia por muito tempo e não tenho palavras para descrever como é voltar a pilotar”, escreveu em suas redes sociais depois de uma sessão de treino antes de entrar na pista no domingo de corrida, salientando a importância do progresso nas adaptações feitas no carros, que podem ser usadas também fora das pistas e beneficiar muita gente.

O piloto ainda teve alguns retrocessos, já que ainda precisou passar por algumas cirurgias, principalmente para a retirada das placas de metais colocadas nas pernas. Nada que tirasse a determinação do piloto, que continuou com seu treinamento. O objetivo: voltar a correr. E em maio de 2021, veio um teste com a Bryan Herta Motorsports, em um presságio do que viria a ser anunciado neste ano.

“Eu tenho muita gratidão pela Bryan Herta Autosport e pela Hyundai, por ter me dado essa oportunidade. Houve vários momentos durante minha recuperação nos quais eu pensei que não seria possível. Foi preciso muito trabalho duro, muita dedicação, mas também eu não estaria aqui sem o apoio de muitas pessoas boas que me apoiaram”.

Robert Wickens, no carro com um volante adaptado para que ele acelere e freie usando controles manuais. – Foto: reprodução

Mesmo com o progresso feito, Robert parece conformado em continuar usando sua cadeira de rodas, até que a medicina encontre uma maneira de reverter sua situação, que o piloto define como estagnada.

“Eu estou num ponto da minha vida onde minha recuperação está mais ou menos estagnada em termos de recuperação neural. Eu não estou mais recuperando as funções musculares. Por isso parece que, infelizmente, eu ficarei numa cadeira de rodas para o resto da minha vida, enquanto a medicina moderna e a ciência continuarem onde estão. Mas é uma ótima vida, eu consegui recuperar muita função. Eu consigo ficar de pé com apoio e consigo dar alguns passos com apoio”, revelou o piloto, que não gosta de ter sua recuperação chamada de extraordinária.

“Toda recuperação é extraordinária. Eu não me coloco em nenhuma categoria entre aqueles que estão se recuperando de uma lesão ou de algum retrocesso. Eu estava muito motivado para voltar para a melhor versão de mim mesmo que eu pudesse. Eu sei que sou um competidor e se eu não me desse esse grau de competição, eu acho que eu não teria conseguido lutar o bastante para chegar no nível onde estou hoje”.

Para seu retorno às pistas, o Elantra que vai ser pilotado por Wickens tem o freio modificado e colocado em um anel atrás do volante, onde também ficam as aletas de mudança de marcha e de aceleração.

O volante com que Robert irá correr foi adaptado para ele. – Foto: reprodução

Como Robert irá dividir a direção com o também canadense Mark Wilkins, o carro também vai contar com uma chave que desativa os comandos do volante e deixa Mark usar os pedais. E quanto à mudança de piloto durante a prova, a equipe já começou a treinar e Robert já consegue deixar o carro em seis segundos.

E lembra da promessa de dançar em seu casamento? Ela foi cumprida no final de setembro de 2019.

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