A temporada da Fórmula 1 de 1981 é considerada uma das mais polêmicas tanto dentro, como fora das pistas. Em uma época cheia de animosidades entre FISA (atual FIA) e FOCA (atual FOM), pela gestão esportiva e comercial da categoria, o campeonato daquele ano foi marcado por muitas reviravoltas e a consagração de mais um brasileiro no panteão dos vencedores.
O favoritismo daquele campeonato cabia à Williams, vencedora da temporada anterior com Alan Jones. O australiano teria como companheiro o argentino Carlos Reutemann, tornando a equipe de Grove como a mais forte em tese. O principal oponente seria Nelson Piquet. O brasileiro vinha do vice em 1980 e era oficializado como primeiro piloto da Brabham a partir de então.
As duas primeiras corridas foram um passeio da Williams, com duas dobradinhas, cada uma com um vencedor diferente nos Estados Unidos e no Brasil. No entanto, a vitória de Reutemann em Jacarepaguá acendeu uma guerra interna terrível dentro da equipe. O argentino recebera o recado para ceder a vitória a Jones, inclusive com a placa “JONES-REUT” na reta dos boxes, mas o Hermano ignorou e ganhou a etapa brasileira. Para o australiano, aquilo foi uma afronta imperdoável.
Nesse interim, Piquet surgia como a ameaça ao domínio da Williams. Com o revolucionário Brabham BT49C. O bólido projetado por Gordon Murray usava um sistema de suspensão hidropneumática, que otimizava a eficiência do efeito solo, numa época em que o carro-asa estava no auge. Assim, o brasileiro ganhou as etapas seguintes, na Argentina e em San Marino.
No entanto, as corridas posteriores não foram muito felizes para Piquet. Três abandonos seguidos o deixaram com uma grande desvantagem de pontos para Reutemann, mais regular naquele momento do certame.
A partir da sétima etapa, na França, as duas equipes trocaram o fornecedor de pneus (Michelin pela Goodyear). A mudança acabou sendo mais benéfica para o brasileiro, que conseguiu reduzir a diferença na segunda metade do campeonato para apenas um ponto antes da prova decisiva, com direito a mais uma vitória, na Alemanha. Além dos dois, apenas Jacques Laffite (Ligier) tinha chances matemáticas de título, após uma boa sequência na reta final, no entanto, apesar do favoritismo do argentino, Piquet era uma boa aposta diante de alguém com o histórico de ser psicologicamente frágil, como se comentava no paddock.
E na terra das apostas, a temporada de 1981 teria o seu desfecho. Las Vegas receberia pela primeira vez a categoria máxima do automobilismo. O local escolhido foi um circuito montado nos entornos e no estacionamento do cassino Ceasar’s Palace. Com a aparência de um kartódromo, o trajeto de 3.650 metros e 14 curvas foi talvez o mais insólito a receber uma etapa da Fórmula 1. Até Abu Dhabi parece uma pista fantástica em comparação a esta aberração.
Na classificação, Reutemann ainda levou a melhor, fazendo a pole, tendo Jones (que anunciara a sua aposentadoria ao fim da temporada) ao seu lado. Piquet partia do quarto posto precisando superar o argentino por pelo menos dois pontos para ser campeão naquele 17 de outubro, um sábado.
Na largada, os dois sul-americanos partem mal e despencam no grid. (Reutemann quinto e Piquet oitavo). Jones assumiu a ponta e dominou aquela que seria sua prova de despedida. Já a Williams do argentino não rendia pela falta de estabilidade e por um problema de câmbio. Na terceira passagem, Piquet já estava na cola e foi questão de tempo para a ultrapassagem acontecer. O piloto da Brabham fez a manobra e se colocou à frente de seu adversário na 18ª volta.
Após uma sequência de paradas nos boxes e uma série de infortúnios com outros pilotos, Piquet se viu em terceiro, atrás apenas de Jones e da Renault de Alain Prost. Coube ao brasileiro administrar a situação, mesmo sendo superado pela Alfa Romeo de Bruno Giacomelli e pela Lotus de Nigel Mansell. Com Reutemann se arrastando fora da zona de pontos, bastava um quinto lugar para o título do piloto da Brabham.
Ao final das 75 voltas, Jones vencia pela última vez na Fórmula 1 em sua despedida (Obs: O australiano voltaria posteriormente a correr por Arrows e Lola, sem sucesso). Piquet segurava Laffite no final e chegava ao quinto posto. Já Reutemann cruzava meta final apenas em oitavo, uma volta atrás. Com os resultados, Piquet somava 50 pontos, contra 49 do argentino, sagrando-se assim o segundo brasileiro campeão mundial de Fórmula 1.
Apesar do feito, o brasileiro celebrou de forma mais discreta, do jeito “Nelson Piquet” de ser. Quem estava mais radiante, era justamente Jones, ao ver que Reutemann fora derrotado. O argentino ainda tentou uma reconciliação pedindo para Alan enterrar aquele passado. “Enterrar o passado? Só se for no seu rabo, camarada”, foi a resposta do recém-aposentado.
Numa temporada de altos e baixos para todos, a esperteza e a personalidade de Nelson Piquet, além da maior regularidade em relação aos carros da Williams, em meio a uma grande cizânia entre seus pilotos, foram fatores fundamentais para leva-lo ao topo do automobilismo e colocar o nome do brasileiro entre os grandes da Fórmula 1.
Fontes: Stats F1, GPTotal e Projeto Motor
Outras efemérides
Dois anos antes dessa decisão, nascia na Finlândia um nome bastante popular na Fórmula 1 nos últimos anos. Kimi Matias Raikkonen completa neste ano seu 38º aniversário. O finlandês tem 16 temporadas pela Fórmula 1, com 20 vitórias, 17 pole positions, 88 pódios e 45 voltas mais rápidas. Raikkonen foi campeão mundial em 2007, sendo o último a ganhar o campeonato mundial de pilotos pela Ferrari até este momento.