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O stint mágico de Schumacher

16 de Agosto – Dia 87 dos 365 dias mais importantes da história do automobilismo – Segunda Temporada

– Tá bom, Velho, explica aí como a estratégia da equipe pode ser tão importante assim – perguntou o Químico.

– Deixa só eu pedir mais uma. Ô comandante, desce mais duas geladas aqui!

Estavam já há algumas horas jogando conversa fora no Buraco do Padre, o boteco da esquina. Muita coisa acontecendo em volta, mas os cinco cabeças de gasolina estavam monotemáticos naquele dia.

– Aposto que ele vai falar da Ferrari. O Velho e o Visconde só querem saber da Scuderia.

– Pô, Coelho, vamo ouvir a história.

– E vou mesmo – disse enchendo o copo. – Melhor exemplo de como a estratégia pode ganhar uma corrida é o GP da Hungria de 98.

Ahhhhhh! – em uníssono.

Fonte: Max F1

– Sabia que ele iria falar do queridinho dele.

– Caraca, mas o que o Schumacher e o Ross Brawn fizeram naquele dia foi mágico.

– Magia mágica na corrida magiar.

– Falou e disse, Chefe! Espera aí, Velho, não fazendo 20 anos hoje essa corrida? Foi num 16 de agosto!

– Putz, acho que é isso mesmo, Visconde! Sei que a nossa Rossa tava numa situação difícil. A F300 tava tomando um banho da McLaren MP4-13, e o Schumi sofria 16 pontos atrás do Mika Häkkinen depois da dobradinha dos caras na Alemanha.

– E ele e o Coulthard fecharam outra dobradinha na primeira fila em Hungaroring, falou o Químico.

– Pois é. Schumacher largava em terceiro, e o imprestável do Eddie Irvine nem sequer conseguiu ficar ao lado, perdeu pro Damon Hill na classificação!

– Só que na largada ele conseguiu passar, né não?

– Conseguiu, Coelho, mas com as duas McLaren estilingando na frente, parecia que não ia ter jeito. Circuito travado, carro pior… O Coulthard ficou prá trás segurando o alemão enquanto o Mika abria facinho quatro segundos.

O Visconde só ria. – Aquele lá tinha a bandeira da Finlândia na camisa. Já tinha até assumido que iria ajudar o companheiro no campeonato.

– E tava certo – falou o Chefe. Mika era um homão da pega. Só não tinha acabado o campeonato ainda porque as McLaren não tavam muito confiáveis, quebravam mais que suspiro tailandês feito com leite de cabras de Capri num mosteiro de Madagascar.

– É, mas não dava prá confiar na quebra. Nem no Irvine, aquele inútil. Todo mundo iria prá duas paradas, e chegaram a pensar em deixar o irlandês na pista com uma só, prá dar uma segurada nos adversários, mas foi só abrir os pits e ele foi o primeiro a correr lá prá dentro.

– É o que eu sempre digo, irlandês bom só o U2. E o Irvine quebrou na volta 13, afinal a Ferrari é da FIAT, né?

– Sou mais o Thin Lizzy, Coelho, e as McLaren também não tavam lá grandes coisas. Depois da primeira janela de pits, na volta 28, diminuía a distância entre Coulthard/Schumacher e o Häkkinen.

– Mas é porque o finlandês tinha um problema mecânico, Velho. E o Schumacher nem conseguia passar o Coulthard. Eram quantas voltas nessa corrida mesmo?

Fonte: F1 Archives

– 77, Químico. E daí veio a ideia genial do Ross Brawn. Mudar a estratégia do Schumacher prá três paradas, em vez de duas. Ele chamou o piloto no rádio, explicou o plano e o alemão só respondeu “OK”.

– Pô, mas daí ia ficar complicado prá chegar na frente!

– Ele conhecia o material humano que tinha, Coelho. Na volta 42, bem antes do previsto, o queixudo entrou nos boxes, trocou pneus, botoudois real de gasolina e saiu feito um doido.

– Falando em reabastecimento, tá na hora de trocar as garrafas. Ei, consagrado, traz mais duas!!!

– Boa, Chefe.

– Pede uma batata frita.

– OK, você venceu, batata frita.

– Como também – disse o Químico. Velho, mas as McLaren pararam logo depois, não foi?

– Foi sim. Mika na 44 e Coulthard na 46. Acontece que o Schumacher já tinha começado a voar na pista, e como os dois carros prateados encheram o tanque para ir até o final, o alemão ficou com o nariz pro vento. Ross Brawn voltou ao rádio e disse alguma coisa como “estamos em primeiro, mas eles não param mais. Você tem que abrir 25 segundos nas próximas 19 voltas se quiser ganhar essa corrida”. E o filho da mãe só respondeu “muito obrigado”.

O Visconde estava com um sorriso de orelha a orelha lembrando. – E o desgraçado abaixou a cabeça e pisou como se estivesse fazendo volta de classificação. Ele tirava 1,2 e até 1,3 por volta!

– Só que o Mika continuava com o carro ruim e o Coulthard demorou prá passar ele e tentar alguma coisa.

– Verdade, Químico. Só que o Schumacher também errou. Na volta 52 ele forçou demais numa curva e foi passear na grama. Sorte que conseguiu voltar, mas perdeu três segundos nessa brincadeira.

– Acabaram não fazendo falta – falou o Coelho, felizão com as batatas chegando na mesa.

Fonte: Motorsport

– Não fizeram mesmo. A 15 voltas do fim, com 27 segundos de vantagem pro Coulthard, a Ferrari fez outro belo pit stop e devolveu o alemão na liderança. O cara ainda continuou naquele ritmo e ganhou a corrida com mais de 9 segundos de vantagem pro escocês.

– É, foi uma bela pilotagem. E com o Häkkinen se arrastando e terminando só em sexto, ele diminuiu a diferença no campeonato prá só sete pontos.

– Isso aí. Uma das melhores corridas da história do Schumacher, graças a ele e à estratégia da equipe. Viu só, Químico? Agora enche meu copo.

– Acabou. Peraí que vou pedir outra. Ô meu camarada, traz mais duas…

lll FORA DAS PISTAS

Foi num 16 de agosto que Pete Best deixou de entrar para a história, ao ser dispensado dos Beatles, que logo chamaram Ringo Star para ocupar o banquinho do baterista. Essa data também marca o aniversário de Henry Charles Bukowski, carteiro, bêbado, poeta e um dos maiores escritores que já viveram. Falando em grandes escritores, Millôr Fernandes também faria aniversário hoje. Na seara do cinema, parabéns para James Cameron, o cara por trás de Titanic, O Exterminador do Futuro 2 e Avatar, Steve Carell, o Virgem de 40 anos e o nosso hilário Oscarito. E na música, completam translações Madonna, Matt Lukin, o baixista do Mudhoney, e o dono da Camisa de Vênus Marcelo Nova, que não matou nenhuma santa francesa.

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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