Seguir os passos dos pais é algo muito comum. Você já cresce naquele meio, acostumado com os jargões, os horários, até com os problemas. Por isso muitas vezes associamos um sobrenome a uma profissão.
Assim, quando se fala em Jatene, pensamos nos bons cirurgiões; os Ford foram fabricantes de carros; os Manning, jogadores de futebol americano; os Baldwin, péssimos atores; e os Sarney… bom… deixa prá lá, podem ter crianças por aqui neste horário.
Não seria diferente no nosso esporte predileto. Quando você cresce dentro de um box, com cheiro de gasolina por toda parte e graxa debaixo das unhas, você vai querer estar atrás do volante antes mesmo de ter vontade de estar debaixo das saias das grid girls. Tanto é que os nomes Senna, Piquet e Fittipaldi não alinharam no grid apenas na companhia de nossos campeões. Nesta página da Wikipedia você encontra uma lista considerável de parentes cabeças de gasolina. Até mesmo um tal de Rami Raikkonen, irmão mais velho do Iceman.
Mas ter um sobrenome famoso não garante talento a ninguém. E foram poucas as combinações de hino e sobrenome com pilotos diferentes no alto do pódio após uma etapa do campeonato de Fórmula 1 (e Max Verstappen, se quiser, que arranje um filho, pois seu pai não conseguiu ajudar).
lll Os Villeneuves
Joseph Gilles Henri Villeneuve e seu filho Jacques Joseph Charles Villeneuve (o Rubens me paga por letra digitada, então não reclamem) formam uma dupla de pai e filho com vitórias nas carreiras. Foram também os únicos a conseguir fazer tocar o hino do Canadá na cerimônia do pódio, e ao que parece Lance Stroll não está muito próximo de entrar nesta lista.
E se aqui o filho tem ampla vantagem sobre o pai (11 vitórias contra 6, e um título mundial de lambuja), Gilles é sempre lembrado como uma lenda do automobilismo por seu arrojo, suas performances e, é claro, por ter corrido pela Ferrari. Se você não caiu aqui por acidente, é fisicamente impossível ler Villeneuve-Arnoux e não ter vontade de assistir esse vídeo pela enésima vez. Gilles faleceu precocemente aos 32 anos em uma colisão em Zolder, na Bélgica, no mesmo 1982 que viu a primeira vitória e o título de um personagem que vai aparecer aqui em breve.
Já o filho, campeão em 1997 (pela Williams – acreditem! – e ainda por cima sobre a Ferrari de Schumacher) terminou sendo lembrado ultimamente pelas marcas indeléveis deixadas nos carros dos adversários e pelas proverbiais besteiras que dá em suas declarações públicas (isso pra não falar do cabelo dele).
Juntos, os Villeneuves conquistaram 17 vitórias. Menos do que um único integrante da nossa próxima dupla,
lll Os Rosbergs
O campeão mundial Britney Nico, é filho do também dono de um título Keijo, um dos bigodes mais ousados das pistas. Nesse caso, nem o hino tocado nas vitórias dos dois é o mesmo. Keke é finlandês, mas Nico nasceu na Alemanha e corre sob esta bandeira, apesar de ter dupla nacionalidade. E a confusão geográfica nesta história não para por aí. Keke venceu sua primeira prova em Dijon-Prenois, na França. Esse foi o Grande Prêmio da Suíça do ano de 1982 (!?).
Keke encerrou a carreira com cinco vitórias – essa primeira, em 82, foi a única do ano em que conquistou o título, enquanto Nico acumulou 23, nove delas no ano de 2016, quando igualou o pai e disse que já estava bom demais, pendurando as sapatilhas.
Os Rosbergs juntaram 28 pontos, um score considerável mas não suficiente para passar os próximos colocados, que são
lll Os Hills
Graham “Nice Moustache” e Damon “White Head” Hill, pai e filho respectivamente, conquistaram juntos 36 vitórias e três títulos mundiais. Foram a primeira família a ter duas gerações de campeões mundiais de F1.
Graham (não o chamem de “Sir”; injustamente o único ser humano a vencer em Mônaco, Indianápolis 500 e Le Mans tem apenas o título de Officer of the British Empire, não sendo um Cavaleiro) foi o melhor do mundo em 62 (pela BRM) e 68 (pela Lotus), ganhando 14 provas.
Damon (mesmo título de OBE de seu pai) tem 22 vitórias e o título mundial de 1996, ano em que largou na primeira fila em todas as 16 corridas do campeonato. Seu filho Joshua teve uma breve carreira no automobilismo, na Fórmula Renault britânica, porém a esperança de ver a terceira geração de Hills na Fórmula 1 acabou em 2013 quando ele anunciou sua retirada das pistas.
Mas, se você é um cabeça de gasolina perspicaz, a esta altura já se perguntou: “ainda não entendi o motivo deste texto estar no 365 dias, apesar de ser maravilhosamente escrito” (se sua pergunta não foi exatamente esta, você até pode ser perspicaz, mas não é um bom crítico literário). A resposta vem agora, pois chegamos à família mais vitoriosa da F1,
lll Os Schumachers
Há 17 anos, em 15 de abril de 2001 (viram? ESSA é a efeméride), Ralf Schumacher vencia o GP de San Marino. A sua primeira vitória marcou também a primeira vez que dois irmãos venciam uma corrida de Fórmula 1 na história. Em Ímola, enquanto a Ferrari de seu irmão mais velho abandonava a prova, Ralf levou a Williams à sua primeira vitória desde o GP de Luxemburgo de 1997, vencido por Jacques Villeneuve.
Ralf ainda venceria outras 5 vezes. Seu irmão contribuiu um pouco mais, com 91 das 97 vitórias dos filhos de seu Rolf. Além de sete títulos mundiais. Digamos que ele podia botar banca nos almoços da família.
Dificilmente alguém conseguirá ultrapassar esses dois irmãos em números. Mas esperamos que algum parente de piloto vencedor chegue logo ao pódio, para adicionarmos mais uma família nesta seleta lista.
lll FORA DAS PISTAS
Em 15 de abril de 1452 nascia Leonardo da Vinci, pintor, escultor, cientista, gênio, codificador e tartaruga ninja. Também fazem aniversário nesta data o poeta português Fernando Pessoa, o craque e comentarista Casagrande e o campeão olímpico no vôlei de praia e torcedor do Furacão Emanuel.
E foi também em um 15 de abril, em 2001, que perdemos Jeffrey Ross Hyman, que todo mundo conhece por Joey Ramone. Vamos celebrá-lo em “one, two, three, four…”