Jacarepaguá foi um grande reduto da Fórmula 1 durante a década de 1980. O saudoso circuito do Rio de Janeiro foi palco de testes de pré-temporada, bem como do Grande Prêmio do Brasil, que foi a etapa de abertura do Mundial entre 1983 e 1989. Uma legião de cabeças de gasolina brasileiros se consolidaram com as competições em solo carioca.
Em especial, a prova realizada em 13 de março de 1983 ficou grava na memória de muitos fãs tupiniquins, especialmente pela festa e pela consagração de um dos grandes pilotos nascidos no país verde e amarelo. A corrida daquele dia foi um dos pontos altos da carreira de Nelson Piquet Souto Maior.
Piquet iniciava a busca pelo bicampeonato da F1 em um ano de grandes mudanças na categoria. Após as tragédias e os acidentes de 1982, os carros mudaram radicalmente, diante do fim dos chamados “carros-asa”. Os bólidos mudaram bastante, com a diminuição ou quase extinção das saias laterais e com menor carga aerodinâmica. Como consequência, os carros eram mais instáveis nas curvas, diminuindo a velocidade e aumentando os tempos de volta em relação a última temporada.
Neste cenário, as equipes com motores turbo passaram a ser mais cotadas para brigar pelo título, devido ao desenvolvimento avançado dos propulsores (especialmente os de grandes montadoras), ante os aspirados da Ford Cosworth DFY, que já demonstravam sinal de defasagem.
Assim, a Brabham, dispondo do ousado BT52, projetado por Gordon Murray, e do motor BMW, com um desenvolvimento mais notório no segundo ano da montadora alemã na categoria, despontava como forte candidato ao campeonato, assim como Renault e Ferrari, ambas portando seu próprio propulsor turbo. Williams, McLaren e Tyrrell corriam por fora, por usarem o velho Cosworth no início do ano. A Lotus preparou a mudança para o Renault Turbo, mas se inscreveu na primeira corrida com bólidos do ano anterior, ainda com motores aspirados.
Na classificação, mesmo com o poderio dos turbo, Keke Rosberg mostrou que não era o então campeão da categoria à toa. Com o tempo de 1:34.526, o finlandês cravava a pole position na etapa brasileira, à frente dos franceses Alain Prost (Renault) e Patrick Tambay (Ferrari). Piquet largava em quarto na sua corrida local a bordo do BT52. Em quinto, uma grande surpresa: o inglês Derek Warwick colocou a Toleman-Hart no top-5 do grid, à frente da segunda Ferrari, de René Arnoux.
Outros dois brasileiros estavam presentes no grid: Raul Boesel largava de 17º com a Ligier e Chico Serra partia de 23º com a Arrows em um grid de 26 carros. Piercarlo Ghinzani (Osella) foi o último na cronometragem e não se classificou. Outro que ficou de fora foi Andrea de Cesaris, que simplesmente não levou o carro para a pesagem oficial após a classificação (outra novidade do regulamento naquela época) e, por isso, foi excluído da corrida.
Sob o sol escaldante do verão do Rio de Janeiro, os 26 carros partiram para a abertura do campeonato de 1983, com Rosberg mantendo a ponta, seguido por Prost e pela dupla da Brabham, Piquet e Riccardo Patrese. Logo nas primeiras voltas, a flecha alviazul da escuderia comandada por Bernie Ecclestone já se mostrava muito forte em relação à concorrência.
Na segunda volta, Piquet deixava Prost para trás e partia no encalço do líder. Mais seis voltas e o brasileiro chegava no carro de Rosberg para realizar a ultrapassagem antes do final da Reta Oposta, para explosão dos 50 mil presentes nas escaldantes arquibancadas de Jacarepaguá.
Patrese até tentou se se aproximar do piloto da Williams, mas seu carro foi perdendo rendimento por um problema de escapamento, o que levou o italiano a abandonar na 16ª volta. Neste momento da corrida, quem vinha em ascensão era John Watson, a bordo da McLaren, que se consolidava no terceiro posto, atrás apenas de Piquet e Rosberg.
Numa época em que não se havia restrições às quantidades de paradas, nem nada no regulamento sobre reabastecer, a Williams resolveu arriscar em uma parada para encher o tanque do carro do finlandês (algumas equipes já usavam desse artifício eventualmente, especialmente a Brabham). Quando Rosberg parou, um vazamento no bocal causou um incêndio no FW08V.
O piloto chegou a saltar do carro, enquanto os mecânicos tentavam apagar as chamas. Com a situação sob controle, o campeão de 1982 voltou ao cockpit e retornou a corrida após um empurrão dos apoiadores da equipe.
Após cair para nono, Keke passou a galgar posições com um forte ritmo deixando para trás todo adversário que via pela frente. Com exceção de Watson (que abandonou por quebra de motor), o finlandês ganhou mais seis posições na pista, retornando ao segundo posto, que tinha antes da parada nos boxes.
Porém, não era o suficiente para alcançar Piquet. Bastou ao piloto da Brabham administrar a vantagem até a volta 63. Após dois anos de decepções, o brasileiro finalmente podia celebrar a vitória em sua casa, com a torcida tupiniquim em êxtase no Autódromo de Jacarepaguá.
E sim, aqui tem uma efeméride: esta mesma corrida, há 35 anos, a Globo estreou uma vinheta que viria a ser um ícone para os fãs brasileiros. A TV Globo encomendou uma música especial para os vencedores do GP Brasil a ser composta pelo maestro Eduardo Souto Neto e gravada pela banda Roupa Nova.
A melodia tornou-se o tão famigerado Tema da Vitória. Inicialmente, a canção só seria executada ao término do GP Brasil de F1 (tanto que em 1984, a vitória de Alain Prost foi celebrada com a vinheta), mas a partir de 1985, passou a embalar todo e qualquer triunfo de um piloto do Brasil na categoria máxima do automobilismo. Assim, foi com o próprio Nelson Piquet, Ayrton Senna, Rubens Barrichello e Felipe Massa aos anos que se sucederam.
De volta a 1983, a corrida não acabou após a bandeirada. Rosberg acabou desclassificado pela ajuda externa após o incêndio na parada dos boxes. No entanto, a FISA entendeu que o posicionamento do finlandês não afetou os demais e, por isso, o segundo posto ficou vago! Niki Lauda (McLaren), o terceiro na pista não subiu na classificação e permaneceu com a mesma posição e pontuação, assim como Jacques Laffite, da Williams (quarto), Patrick Tambay, da Ferrari (quinto), e Marc Surer, da Arrows (sexto).
Prost, que perdeu rendimento na reta final ficou em sétimo e continuou sem pontos. Entre os brasileiros, Serra terminou em nono e Boesel abandonou. Outro piloto que foi desclassificado foi Elio de Angelis. O italiano fez a classificação com o Lotus 92 com motor Ford Cosworth, enquanto na corrida, foi com o modelo 93T, de motor Renault. A FISA, mais rigorosa com as regras, não quis permitir a artimanha e puniu o piloto do carro 11.
Apesar das confusões, a lembrança que fica foi da alegria do brasileiro e da emoção por um momento marcante, com a vitória de Piquet, que realizava o sonho da vitória em casa e iniciava bem a luta pelo bicampeonato. Um momento de alegria numa era daquilo que os fãs chamam hoje em dia de “F1 raiz”, as imagens que não deixam mentir! Assista os dois vídeos, pois não irão se arrepender!
Fonte: Stats F1, Continental Circus e Rodrigo Mattar
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