A Tríplice Coroa do automobilismo é alcança por aqueles que conquistam uma vitória nas três mais importantes provas do automobilismo internacional: GP de Mônaco na Fórmula 1, 500 Milhas de Indianapolis na Indy e triunfar em uma das categorias da 24hs de Le Mans, contudo apenas um homem já alcançou o ápice, Graham Hill, neste texto, pretendo dizer como foram os triunfos dele no GP de Mônaco de 1965 e nas 500 Milhas de 1966, ambas disputada no dia 30 de maio.
| GP de Mônaco de 1965
Todos os pilotos que ingressam na Fórmula 1 buscam alcançar o status de Rei das ruas do Principado, porém poucos foram dignos, primeiro reinou Stirling Moss com três triunfos, por último e não menos importante temos Ayrton Senna que possui seis vitórias, já Graham Hill reinou absoluto por longos 24 anos, com cinco vitórias, a sua terceira vitória em Mônaco ocorreu em 30 de maio de 1965, momento que empata com Stirling Moss e dá início a sua ascensão ao reinado.
A Fórmula 1 chega a Mônaco com três ausências, as Lotus não participam da prova, Colin Chapman apostou no talento do seu astro Jim Clark para vencer as 500 milhas de Indianápolis e tinha a ideia fixa de alinhar seus carros tanto na prova americana como em Mônaco, contudo os dirigentes da Fórmula 1 vetaram os carros da equipe em Mônaco, alegando que era incompatível com a categoria os carros da Lotus participarem de duas provas no mesmo dia, entre pesos e medidas, Colin Chapman optou por enviar a sua equipe para os Estados Unidos, outro piloto que fez a mesma escolha foi Dan Gurney que também se ausentou para participar das 500 Milhas.
Entretanto haviam equipes inscritas com carros que usavam chassis da equipe Lotus, como os carros da Reg Parnell Racing (Lotus-25), com Mike Hailwood e Richard Attwood e na DW Racing Enterprises (Lotus-33) com Paul Hawkins.
Ainda completaram a lista de inscritos para a prova: equipe Rob Walker Racing, com duas Brabham BT7 com o suíço Jo Siffert e o sueco Jo Bonnier, equipe BRM com o britânico Graham Hill e o jovem escocês Jackie Stewart, a Ferrari tinha o campeão John Surtees e o italiano Lorenzo Bandini, a equipe Brabham tinha o “Black Jack” e um estreante neozelandês chamado Denny Hulme, que ocupava o cockpit de Dan Gurney, na equipe Cooper, o mito Bruce McLaren e o austríaco Jochen Rindt e pôr fim a equipe japonesa Honda com os yankees, Ronnie Bucknum e Richie Ginther.
O GP de Mônaco também contou com a participação de pilotos independentes como foi o caso do britânico Bob Anderson e do australiano Frank Gardner, pela John Williment Automotive, ambos com chassis Brabham BT11.
Dos pilotos acima, apenas Jochen Rindt não se classificou para a corrida, sendo que no treino classificatório Graham Hill obteve a sua 5ª pole e 6ª da BRM com a melhor marca de 1.32”5, seguido por Jack Brabham com 1.32”8, ambos com uma velocidade média acima dos 122kms e em terceiro o jovem escocês Jackie Stewart da BRM.
Na largada já temos uma Honda parada no grid, Richie Ginther com problemas no diferencial permaneceu parado na 16ª e última posição, enquanto isso Graham Hill seguiu na liderança com Bandini no seu encalço.
Na 25ª volta Bob Anderson enfrentava problemas m o câmbio travado na 01ª marcha e reduz a velocidade, prejudicando a passagem de Hill que cai para a quinta posição, neste momento temos uma das cenas mais icônicas da Fórmula 1, do qual transcrevo abaixo o relato pôs corrida de Hill, explicando o ocorrido:
Havia apenas uma coisa a fazer: eu pisei nos freios o mais forte que pude, travando-os. Eu fiz como se fosse passar pela chicane e deixei até o ponto de não dava para voltar e então eu vi que não havia nenhuma maneira que eu poderia passar sem bater nele (Bob Anderson). Eu soltei os freios por um segundo para que eu pudesse dirigir e mudar de direção tentando fugir. Então eu permaneci segurando os freios outra vez e deixei algumas marcas de borracha no asfalto. Eu acabei parando fora do traçado. Eu tive que sair do carro, empurrá-lo para trás e assim voltar a pista, subir nele novamente e depois ligar o motor. Bem, é claro, tudo isso levou tempo e até então os líderes haviam passado. Eu tinha perdido, eu não sei quantos segundos: cerca de 35s. E eu tinha uma vantagem bastante confortável. Enfim, eu perdi mais de meio minuto nesta operação, retornei na 05ª colocação. Eu estava muito irritado com isso, isso tinha mais ou menos me nocauteado na luta para a liderança. Então eu pulei no carro e saí em perseguição aos líderes da prova
Stewart passa a liderar a prova até rodar na Ste. Devôte na 29ª volta caindo para a 04ª posição e deixando o caminho livre para a Ferrari de Bandini liderar.
Observando de perto a troca de liderança, Jack Brabham aperta o ritmo, ultrapassa Surtess na 27ª volta e passa a ocupar a 03ª posição até na 34ª volta superar Bandini, aqui Hill já havia superado o seu companheiro e ocupava a 04ª posição, porém a Brabham de Jack sente o ritmo e sede a liderança na 42 volta, infelizmente Jack Brabham abandona na volta seguinte com problemas no motor, Bandini lidera com Surtess na 02ª posição, Hill e Stewart respectivamente, na 53ª volta Hill supera Surtess e passa a caçar Bandini.
Impondo um ritmo alucinante para as estreitas ruas do Principado, Hill já havia superado com facilidade Stewart e Surtess, mirando Bandini, elevando a prova a uma tensão incrível, até a 64ª volta quando supera Bandini e se mantém na liderança até cruzar a linha de chegada, 36 voltas depois, completando as 100 voltas exigidas, para o seu terceiro triunfo seguido em Mônaco, demonstrando que Hill tinha o que era exigido para o assumir o reinado das ruas de Monte Carlo, porém ainda precisa de uma vitória para ultrapassar Stirling Moss.
O pódio já estava fechado na 99ª volta com Hill, Surtess e Bardini, porém para a sorte do jovem Stewart a Ferrari de Surtess fica sem gasolina e o pódio fica restrito aos únicos que completaram a 100ª volta, Stewart obtém o seu primeiro pódio na Fórmula 1, Bruce McLaren e Jo Siffert completam a lista de pilotos que pontuaram na corrida, chegando em 05ª e 06ª respectivamente, pois apesar da pane seca, Surtess estava uma volta à frente deles e se mantém na 04ª posição.
Algo que 99,99% dos nossos leitores já tentaram ao jogar videogame ou simulador foi provocar um acidente do qual o seu carro é arremessado ao mar, como o australiano Robert Paul Hawkins, ao bater na chicane do porto e cair na água na 80ª volta, por sorte ele não sofreu nenhuma lesão no grave acidente cinematográfico.
| 500 Milhas de Indianapolis – 1966
No dia 30 de maio de 1966, foi realizada a 50ª edição das 500 Milhas de Indianapolis, em plena segunda-feira dia em que também se comemorou o 150º aniversário do estado de Indiana, a prova foi marcada pela chamada “Invasão Britânica” pilotos e equipes das terras da Rainha desembarcaram em massa para disputar a prova.
O ano de 1966 não estava sendo dos melhores para Hill, ele enfrentava uma maré de azar, a BRM sofria com o novo regulamento onde eram exigidos motores de 3litros e buscando uma melhor performance, a equipe construiu um motor de 16 cilindros em “H”, a BRM acabou perdida com a inovação, o que virou um pesadelo e Hill se viu na condição de buscar uma nova equipe para 1967 e novos desafios já para 1966.
O treino classificatório para as 500 Milhas foi liderado por Mario Andretti da Brabham, que venceu a pole com média de 165.889mph um recorde para época, sendo que a sua melhor volta foi de 166.328mph. Já Graham Hill foi o 15º com uma média de 159.243mph, o seu desempenho pífio foi creditado ao tempo ruim e falhas mecânicas nos treinos.
A primeira fila era formada por três carros britânicos, uma Brabham com Mario Andretti e duas Lotus com Jim Clark e George Snider, Hill estava na quinta fila, no outside da pista, já na largada houve uma mega colisão que envolveu 14 carros, tudo começou com o canadense Billy Foster que colidiu com o americano Don Branson e bateu na roda traseira de Gordon Johncock, ambos à frente de Hill no lado externo da pista, Johncock bateu no muro e voltou para o meio da pista, onde acabou colidindo com outros carros, AJ Foyt foi o único piloto a se lesionar no incidente, ele feriu sua mão subindo sobre a cerca fugindo dos destroços, além dele um espectador foi atingido por uma roda.
Dos 14 carros, 11 foram eliminados, a direção de prova deu bandeira vermelha que durou 1h e 24m, para limpeza da pista, reparo de alguns carros e posterior alinhamento para o reinício da corrida com apenas 22 carros.
A corrida recomeça com Andretti liderando, com Clark em segundo e Hill seguia solitário em meio ao pelotão, a direção de prova neste momento já enfrentava dificuldade para estabelecer quem estava em qual posição e em qual volta, Hill sem evoluir na corrida e com os líderes quebrando foi subindo de posição a cada volta.
Nas últimas voltas, Stewart liderava, porém ele percebe uma falha mecânica do qual era só uma questão de tempo até que o motor quebrar, o que ocorreu na 191ª volta, Hill herdou a liderança e se manteve na ponta por 10 voltas, consagrando campeão da 500 Milhas de 1966, sendo o primeiro vencedor “Rookie” desde 1927, a prova ainda terminou com o escocês Jim Clark empurrando o carro para os boxes e obteve o 02º lugar no geral e devido a um erro de controle no pit da Lotus, Clark foi apontado como P.1 pela própria equipe chefiada por Colin Chapman, porém quando ele se deu conta que não havia vencido encontrou Hill sendo “aplaudido, abraçado, beijado e entrevistado” como o vencedor da prova.
Apesar da vitória de Hill, Stewart foi eleito o “Rookie” do ano, Jim Clark e a equipe Lotus de Colin Chapman contestaram a vitória de Hill, muitos apontaram que houve um erro na cronometragem pela direção de prova, bem como, outros apontam que foi a própria equipe Lotus que não viu Hill passar por Clark, porém a vitória foi mantida e até hoje se discute no paddock da Indy se realmente Hill venceu as 500 Milhas em 1966.
Com as duas vitórias acima, Hill ficou a um passo da tríplice coroa, faltando apenas a vitória nas 24hs de Le Mans, que foi realizada em outro dia e ficará para um post no futuro.
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