A McLaren possui uma história riquíssima dentro do esporte a motor mundial. Com 12 títulos de pilotos e oito de construtores na Fórmula 1, além das vitórias em grandes competições, como as 500 milhas de Indianápolis e as 24 horas de Le Mans, a marca que leva o sobrenome do neozelandês Bruce McLaren é referência em competições automobilísticas, bem como na fabricação de carros esportivos.
Apesar de não vivenciar o crescimento da marca, Bruce teve o seu legado bem preservado e expandido ao longo dos últimos 50 anos. Muito desse período foi na época em que Ron Dennis foi o comandante máximo da escuderia. No entanto, outro nome foi fundamental para a consolidação da McLaren: Teddy Mayer.
Nascido como Edward Everett Mayer em 8 de setembro de 1935 na cidade de Scranton, Pensilvânia, Teddy era filho de um combatente aéreo da I Guerra Mundial e de uma sobrevivente do naufrágio do Titanic. Ao contrário de outros personagens desta coluna, Mayer não teve um envolvimento imediato com o esporte a motor, se dedicou mais aos estudos, formando-se em Direito pela Universidade de Cornell.
A ligação com o automobilismo viria por meio do irmão mais novo, Timmy, este sim piloto. Também foi por intermédio do caçula, que Teddy conheceu Peter Revson, com ambos tornando-se grandes amigos.
Os irmãos Mayer e Revson foram para a Europa, aonde buscavam uma oportunidade das pistas. O trio se acertou com um jovem piloto neozelandês que havia adquirido carros da Cooper para disputar competições na Europa. Começava assim a aliança entre Teddy Mayer e Bruce McLaren.
Teddy, o único do grupo que não era piloto, passou a ser o responsável pela parte administrativa da empreitada de Bruce, enquanto o neozelandês corria junto com Revson e Timmy Mayer. A primeira empreitada ocorreu em 1964 na chamada Tasman Series (uma competição com carros de F1 realizados em pistas em países da Oceania, como Austrália e Nova Zelândia, mas que não fazia parte do calendário mundial da categoria).
O desempenho da equipe McLaren foi muito bom no certame continental, com Bruce disputando o título ponto a ponto com Jack Brabham. No fim, o neozelandês levou a melhor e ficou com o título. No entanto, não houve motivos para festa: durante os treinos para a última etapa, no circuito de Longford, Timmy Mayer perdeu o controle de seu carro e bateu em uma árvore, o levando a falecer aos 26 anos.
Mesmo com a perda do irmão caçula, Teddy seguiu no comando administrativo da equipe, como foco mais nas competições norte-americanas. Embora na F1, a escuderia ainda engatinhava, nos States, a McLaren passou a dominar as competições de protótipos, em especial da Can-Am, uma das competições com maior criatividade em engenharia automotiva que existiu. O ano de maior domínio foi 1969, quando Bruce e seu compatriota Denny Hulme ganharam todas as provas daquela temporada.
Então veio outro baque: em 2 de julho de 1970, Bruce McLaren morria em um acidente no circuito de Goodwood, na Inglaterra, testando o carro da Can-Am. Sem o patrono, Hulme solicitou a Mayer para assumir o comando principal da organização. Assim, Teddy tornara-se o homem-forte da organização a partir daquele ano.
Enquanto a equipe fazia bons papéis nos Estados Unidos, com mais vitórias de Revson na Can-Am e uma vitória nas 500 milhas de Indianápolis de 1972, com Mark Donohue a bordo de uma McLaren Offenhauser da equipe de Roger Penske (que também já havia trabalhado com Timmy Mayer no começo da carreira do caçula), na F1, a escuderia tinha dificuldades em obter resultados consistentes e era uma mera figurante no campeonato.
Com Revson e Hulme, a McLaren começou a crescer e tornar-se competitiva no certame mundial de monopostos. O americano venceu duas vezes, enquanto o neozelandês uma na temporada de 1973, levando a escuderia ao terceiro lugar naquele ano, o melhor resultado na F1 até então.
O piloto norte-americano resolveu mudar de ares e mudou-se para a Shadow em 1974, mas a campanha de Revson não durou muito, pois viria a falecer após um acidente com incêndio nos treinos para o GP da África do Sul daquele ano.
Apesar da tristeza pela perda do amigo, o ano de 1974 foi bastante positivo para Mayer no campo profissional. A McLaren contava com uma dupla campeã do mundo: Hulme, vencedor em 1967, e Emerson Fittipaldi, vitorioso em 1972 e que vinha da Lotus. Além disso, a McLaren deixava de lado o laranja-papaia dos seus primórdios e passava a estampar o patrocínio da Marlboro, em acordo que durou mais de 20 anos, sendo uma das marcas mais lembradas da história do automobilismo.
Dentro das pistas, os ventos sopraram favoráveis a escuderia britânica. Com as três vitórias de Emerson e a regularidade do brasileiro com seu M23, a McLaren pela primeira vez faturava os títulos de pilotos (o bicampeonato de Fittipaldi) e o primeiro caneco entre os construtores. A conquista da equipe também foi o último momento de Hulme na F1, já que anunciara sua aposentadoria dentro do certame naquela época.
Além disso, a McLaren celebrou a vitória na indy 500 pela segunda vez, com Johnny Rutherford como piloto, a bordo do carro com as cores originais da escuderia (a mesma estampada por Fernando Alonso na edição de 2017 da prova). Rutherford repetiria a dose em 1976, completando a trinca vencedora da escuderia na Brickyard.
Após o revés na temporada de 1975, a McLaren já se mexia para surpreender no ano seguinte, com o projeto do M26. Entretanto, a saída de Emerson para a Copersucar pegou a todos de surpresa. Mayer e seu braço-direito, Tyler Alexander, parceiro desde os tempos de Bruce, conversaram com alguns nomes, até apostarem em James Hunt.
Em uma temporada cheia de polêmicas e reviravoltas, como você já deve saber, Hunt conseguiu ser o piloto certo na hora certa e conseguiu superar Niki Lauda para levar o segundo título de pilotos de um piloto McLaren.
Todavia, o período de vacas gordas foi chegando ao fim. Hunt ainda venceu três corridas em 1977, mas depois disso, a escuderia entrou em uma seca nas temporadas seguintes, sendo suplantada pelas equipes que desenvolveram bólidos melhores com o conceito do efeito solo.
Remembering Teddy Mayer, our former Team Principal, who sadly passed away on this day in 2009.
After our founder Bruce's passing, Teddy led the team through the ‘70s to our first F1 World Championships. 🧡 pic.twitter.com/dmtW7HGCWi
— McLaren (@McLarenF1) January 30, 2024
Com desempenho sofrível entre os anos de 1978 a 1980, a McLaren chegou a ficar atrás de equipes como Wolf, Arrows e Copersucar Fittipaldi. A Philip Morris, dona da marca Marlboro estava insatisfeita com os rumos da equipe e sugeriu mudanças. Nisso, foi chamado o apoio de uma equipe bem-sucedida da Fórmula 2, chamada Project Four.
Desta forma, no começo de 1981, a McLaren se fundia a Project Four, com a ascensão de Ron Dennis como novo chefe da tradicional equipe. A partir daquele ano, os carros produzidos pela escuderia viriam com a alcunha MP4, em referência a fusão. Em meio a todas as mudanças, Mayer ainda atuou por mais um ano, como diretor administrativo, mas deixou a organização em 1982.
Mayer voltou aos Estados Unidos, onde montou sua equipe na CART durante os anos 1980. Em 1986, uma nova oportunidade para voltar à F1, com o projeto de Carl Haas em disputar a categoria com os chassis Lola e motores Ford. Porém, a empreitada realizada em 1986 terminou em um enorme fiasco.
Após um ano sabático, Mayer retornou para o mundo do automobilismo como vice-presidente de Operações da Penske. Entre 1988 e 2007, a organização se consolidou como uma das marcas mais vitoriosas dos Estados Unidos, principalmente na Indy, contando com nomes como Rick Mears, Emerson Fittipaldi, Al Unser Jr., Gil de Ferran e Hélio Castroneves. A equipe obteve nove vitórias de 500 milhas de Indianápolis e seis títulos entre CART e IRL.
Teddy se aposentou em 2007 e foi morar na Inglaterra. Diagnosticado com Mal de Parkinson, passou os anos finais em tratamento da doença, mas não resistiu e faleceu em 30 de janeiro de 2009.
Remembering a McLaren stalwart and one of the team's early pioneers, Edward "Teddy" Mayer, who sadly passed away #OnThisDay in 2009. pic.twitter.com/LJnkvIRKFt
— McLaren (@McLarenF1) January 30, 2018
1976, Bernie and Teddy Mayer (Mclaren) playing backgammon, James Hunt watching the game. Cool ! #legends pic.twitter.com/wPn3MqSgg8
— ZivKnollF1 (@zivknoll) August 12, 2016
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