Considerado o templo da velocidade, a história do circuito de Monza começou em janeiro de 1922, quando o Clube Automotivo de Milão decidiu construir uma pista permanente em comemoração aos 25 anos de fundação do clube. O circuito também serviria para que as montadoras pudessem realizar seus testes, já que no ano anterior, no GP da Itália em 1921, disputado no circuito semi-permanente de Montechiari, os italianos viram a vitória de uma montadora francesa. Além de replicar o sucesso do Clube Automobilístico Francês, o ACF, responsável pelas primeiras corridas da história, o novo circuito seria uma melhora nas condições de corrida, já que Montechiari não era totalmente adequado para as competições.
Dois locais surgiram como candidatos, Gallarate, que foi dispensada por ser longe demais (hoje o local abriga o aeroporto de Malpensa e fica a 50 km do centro de Milão) e o distrito de Cagnola, em Milão, que também foi rejeitado, dessa vez por ser muito perto da cidade.
Então foi proposto construir o circuito no parque Villa Reale em Monza, uma área cercada e a cerca de 24 km de Milão. Local aceito, era a hora de fazer o projeto, que ficou nas mãos do engenheiro Alfredo Rosselli, que ficou encarregado de criar dois tipos de traçado, um de Grande Prêmio e outro oval, mas que poderiam ser usados em conjunto, somando 14 km.
A inauguração inicial das obras aconteceu no dia 26 de fevereiro de 1922, com os pilotos Vincenzo Lancia e Felice Nazzaro tendo a honra de colocar a primeira pedra da construção. Logo após as obras começarem, protestos contra a derrubada de um grande número de árvores interrompeu os trabalhos. Depois de meses de negociações, a construção pode começar, mas o traçado teve que ser diminuído para 10 km.
O problema é que os organizadores do circuito já tinham prometido a pista para o GP da Itália daquele ano. A solução foi colocar um batalhão de 3500 homens para trabalhar e em 110 dias, o circuito estava pronto.
No dia 28 de julho de 1922, os pilotos Felice Nazzaro e Pietro Bordino, dirigindo um Fiat 570, andaram pela primeira vez na nova pista, que foi inaugurada oficialmente no dia 3 de setembro, com uma corrida de voiturettes, vencida por Bordino.
Na semana seguinte, no dia 10 de setembro, o GP da Itália foi disputado pela primeira vez em Monza, com a vitória da Fiat 804, pilotada por Bordino, que completou as 80 voltas em pouco menos de 6 horas.
Se os primeiros anos foram de felicidade, uma tragédia atingiu o circuito em 1928. Durante a corrida, Emilio Materassi perdeu o controle de seu carro durante uma ultrapassagem na reta principal, batendo nas barreiras e voando sobre o público. O piloto e 22 espectadores morreram no acidente, fazendo com o circuito parasse de receber o GP da Itália até 1931, recebendo apenas o GP de Monza.
O acidente causou uma mudança no circuito em 1930, para trazer mais segurança para o público. Com isso, Monza ganhou uma quarta configuração de pista, chamada de Florio, que integrava partes da pista de corrida e da oval, mas era menor do que o circuito completo. O novo traçado também atenderia as competições de motociclismo, que também eram famosas em Monza.
Mas as tragédias continuaram acontecendo. Em 1931, Philippe Etancelin saiu da pista na curva Lesmo e acertou o público. O piloto e mais dois espectadores morreram no acidente, que ainda deixou 14 feridos. Outra tragédia que atingiu o circuito aconteceu no dia 10 de outubro de 1933 e ficou conhecido como “Domingo Sangrento”. Os pilotos Giuseppe Campari, da Alfa Romeo, e Baconin Borzacchini, da Maserati, perderam o controle do carro após derrapar no óleo deixado por outro competidor. Os dois morreram na hora. Mais tarde, o carro de Stanisław Czaykowski capotou e pegou fogo, matando o piloto polonês.
Algumas corridas ainda aconteceram nos anos seguintes, usando variações da pista Florio e da pista Grande Prêmio, até que alterações mais radicais fossem feitas em 1938.
Sob supervisão do engenheiro Aldo di Rienzo, a parte oval do circuito foi abandonada e a pista de Grande Prêmio revisada, incluindo alterações nas curvas Vialone e Lesmo. Todas as outras instalações do circuito também foram modernizadas, incluindo a construção de uma nova arquibancada.
Mas antes do novo autódromo ser inaugurado, veio a Segunda Guerra Mundial e paralisou as atividades em Monza, com o circuito sendo usado para várias outras coisas, entre elas o abrigo de animais do zoológico de Milão. E para piorar, em 1945, um desfile militar na reta principal destruiu o asfalto, enquanto o resto do circuito serviu para abrigar artigos e veículos militares.
Com o fim da Guerra, Monza estava destruído e sem condições de ser usado. No começo de 1948, o Clube Automotivo de Milão decidiu restaurar o circuito, levando apenas dois meses para completar a reforma e colocar a pista em uso.
No dia 3 de setembro de 1950, Monza recebeu o GP da Itália de F1, sendo o circuito que mais recebeu corridas da categoria, deixando apenas de receber a corrida de 1980, disputada no recém inaugurado circuito de Imola. Para alegria da torcida local, a corrida foi vencida pelo italiano Giuseppe Farina, pilotando uma Alfa Romeo. Nos dois anos seguintes, a alegria seria ainda maior, com as vitórias do italiano Alberto Ascari, pilotando pela Ferrari, a equipe com mais vitórias no circuito.
Em 1955, um projeto ambicioso recriou o antigo bank, mas dessa vez, fazendo-o mais inclinado. Esse novo circuito oval dividiu os boxes com a pista de Grande Prêmio e podia ser usado tanto sozinho como em conjunto com a principal, formando uma pista de 10 km.
A pista completa foi usada nos Grandes Prêmios da Itália de 1955, 1956, 1960 e em 1961, quando durante a corrida, Wolfgang von Tripps e Jim Clark se envolveram em um acidente na Parabolica, com o carro de Wolfgang voando e atingindo uma área com público. O piloto alemão e mais onze espectadores morreram na hora. A tragédia aposentou a pista completa e o bank nunca mais foi usado pela F1. Depois de ser usado por outras categorias, essa parte do circuito foi abandonada de vez em 1970.
Mesmo não usando mais a parte oval, o circuito continuou perigoso e em 1970, o austríaco Jochen Rindt, que liderava o campeonato, perdeu o controle do carro durante os treinos e bateu forte no guard-rail. Rindt tinha o costume de não usar a parte de baixo do cinto de segurança, para poder sair do carro mais rápido em caso de fogo e durante a batida, o piloto deslizou para a frente no cockpit e teve o pescoço cortado pelo cinto. Mesmo sendo resgatado rapidamente, Rindt não sobreviveu e faleceu a caminho do hospital, tornando-se no final da temporada, o único campeão póstumo da F1.
Com as velocidades dos carros aumentando, era a hora de mais uma mudança e em 1972, uma chicane foi introduzida no lugar da curva del Vialone, chamada de Variante Ascari, em homenagem ao piloto Alberto Ascari, que faleceu neste lugar em 1955, quando fazia um teste privado.
Os campeonatos de motociclismo continuavam acontecendo em um traçado sem a chicane, mas depois de cinco mortes em menos de dois meses, as principais competições foram abandonadas, com apenas ligas menores usando a parte júnior do circuito, até serem brevemente retomadas nos anos 1980.
A chicane Ascari sofreria mais uma alteração em 1974, deixando-a com um fluxo melhor e com uma área de escape mais reforçada. Dois anos depois, a curva della Roggia ganhou uma chicane, assim como a reta principal, que ganhou uma chicane dupla, chamada de Variante Rettifilo.
Mesmo com as alterações, os acidentes graves continuaram a acontecer. Durante a corrida de 1978, um acidente com vários carros aconteceu na primeira volta. O sueco Ronnie Peterson foi retirado do carro em chamas por James Hunt, mas teve um embolismo no dia seguinte e faleceu.
Depois dos acidentes ocorridos em Ímola, em 1994, todos os circuitos foram revisados, incluindo Monza. Toda a primeira parte do circuito foi alterada, criando mais áreas de escape. Em 2000 veio a última modificação, com a Variante Rettifilo perdendo uma das suas chicanes. Hoje o circuito conta com dois traçados, o Grande Prêmio, de 5,793 km de extensão e o Júnior, que tem 2,405 km e é quase um circuito oval.
Entre os vencedores, Michael Schumacher e Lewis Hamilton estão empatados em número de vitórias, com cinco cada. Os dois pilotos também estão empatados em número de pódios, com oito.
Já a Ferrari é a equipe que mais venceu no circuito, com 19 vitórias, com a mais recente sendo com Charles Leclerc, em 2019. Em pódios, a equipe italiana também é imbatível, com 69 pódios, contra apenas 29 da McLaren, que aparece em segundo lugar.
A Ferrari não foi a única equipe italiana a vencer no circuito. Além da Alfa Romeo, que venceu a corrida na temporada inaugural, a Maserati conseguiu sua primeira vitória na F1 em 1953, com Fangio no volante. Em 2008, Vettel venceu sua primeira corrida na F1, dando também a única vitória da equipe Toro Rosso, que depois mudou de nome para AlphaTauri e venceu em Monza em 2020, com Pierre Gasly, que na ocasião também vencia sua primeira corrida na categoria.
Já entre os pilotos da casa, 14 pilotos italianos já conseguiram um pódio em Monza, sendo 9 deles com a Ferrari. Alberto Ascari, Ludovico Scarfiotti e Giuseppe Farina são os únicos pilotos italianos a vencer no circuito, sendo os dois primeiros com a Ferrari e Farina com a Alfa Romeo.
Entre os brasileiros, Nelson Piquet e Rubens Barrichello estão empatados com 3 vitórias cada, Senna tem duas e Emerson Fittipaldi tem uma vitória no circuito italiano. E Barrichello ainda está empatado com Senna em número de pódios, com 5 cada, enquanto que Piquet e Fittipaldi têm quatro pódios cada.