A Argentina já tinha uma cena automobilística forte entre as décadas de 1940 e 1950, com grandes nomes despontando no automobilismo mundial. Para se ter uma ideia, dos 22 pilotos argentinos que já disputaram pelo menos uma corrida de F1, 12 correram nos anos 1950. Mas ainda faltava um lugar definitivo para as corridas, que até então, eram disputadas pelas ruas do país.
Alguns desses nomes, como Juan Manuel Fangio, Onofre Marimón e José Froilán González, se sentaram com o presidente Juan Perón para discutir como fazer o esporte se desenvolver ainda mais no país. Da reunião saiu a ideia de construir um circuito permanente e o local escolhido foi o bairro de Villa Lugano, na cidade de Buenos Aires.
Com uma construção rápida, devido ao envolvimento do presidente, o Autódromo 17 de Octubre – nome dado em homenagem ao dia em que Perón foi liberado do cativeiro em 1945, foi inaugurado no dia 9 de março de 1952 com três corridas. O circuito tinha dez variações de traçado e o primeiro a ser utilizado foi o número 4, que tinha 4,706 km e contou com a vitória de Fangio na Copa Péron de Formula Libre, a principal categoria a correr naquele dia.
Já no dia 18 de janeiro de 1953, o circuito receberia sua primeira corrida de F1, disputada no traçado número 2, de 3,912 km.
A Ferrari de Alberto Ascari se sagrou vencedora, depois do piloto ter feito a pole e a volta mais rápida, tendo seu compatriota Villoresi em segundo e o argentino José Froilán González completando o pódio.
Porém o dia não foi de festa. O número de presentes para ver a corrida inaugural era bem maior do que o circuito comportava. Com as arquibancadas lotadas, o público que invadiu o autódromo se acomodou na beirada da pista, até brincando de tourada com os carros que passavam. Um espectador atravessou na frente de Giuseppe Farina, que ao desviar, perdeu o controle do carro e acabou acertando um grupo de espectadores que estava na beira da pista. A notícia do acidente causou pânico nas pessoas e um menino correu para o meio da pista, morrendo atropelado pelo carro de Alan Brown. O saldo foi de nove mortos e mais de 40 feridos.
Os eventos trágicos de 1953 foram logo esquecidos pelas conquistas de Fangio na pista portenha, com o penta campeão conquistando quatro vitórias consecutivas em casa. Uma delas, a de 1956, acabou sendo compartilhada com o piloto italiano Luigi Musso. Os dois eram companheiros de equipe na Ferrari e quando Fangio precisou parar com problemas na bomba de combustível, assumiu o carro do italiano na volta 29 e venceu a corrida, dividindo os louros da vitória com Musso. Foi a única vitória do italiano, que faleceu dois anos depois, durante o GP da França.
A corrida continuou acontecendo na capital do país até 1960, quando já sem suas principais estrelas Fangio e González, que tinham se aposentado das pistas, junto com a instabilidade política no país, fez com que o interesse pelas corridas diminuísse, até a F1 parar de ser disputada na Argentina, deixando o espaço apenas para competições nacionais. Nesse meio tempo, o circuito mudou de nome e passou a se chamar apenas de Autódromo Municipal.
Sem desistir de contar com competições internacionais, o autódromo passou por mais uma reforma, estendendo o circuito com duas longas retas e mais uma curva de alta, para dar a volta em um lago, dando ao circuito mais quatro possibilidades de traçado.
As corridas de Sportscars retornaram em 1971, com a corrida de 1.000 quilômetros sendo realizada como parte do Campeonato Mundial. A corrida, no entanto, foi marcada por uma tragédia, quando o piloto Ignazio Giunti bateu no carro de Jean-Pierre Beltoise, que tinha abandonado a corrida e estava empurrando seu carro de volta para os boxes. Giunti ficou preso nos destroços de seu carro em chamas e acabou falecendo.
Vendo que a falta de uma barreira entre a pista e os boxes poderia causar um acidente grave, o autódromo passou por uma reforma, não só para colocar essa proteção, mas também para instalar um sistema de luzes nos postos de fiscais, que substituiriam as bandeiras que não tinham sido acionadas durante o acidente do Giunti.
As mudanças não ficaram só na estrutura do autódromo. O traçado também sofreu alterações, com duas chicanes em forma de S sendo colocados antes da entrada dos boxes e outra no lugar da curva Ascari no circuito longo. Os boxes também foram remodelados, permitindo a criação de um pit lane.
O interesse dos argentinos pela F1 voltou com a chegada de Carlos Reutemann, que fez sua estreia na categoria correndo em casa e ainda largando na pole, em 1972. Nos dois primeiros anos da volta da F1 ao circuito, o traçado número 9, de 3,412 km, foi usado, dando lugar ao número 15 a partir de 1974. Esse traçado era o mais longo e tinha 5,959 km de extensão.
Renomeado Autódromo General San Martín por conta do golpe militar em 1976, o circuito sediou a etapa argentina até 1981, quando o país passou a disputar as ilhas Malvinas com a Inglaterra. A corrida de 1982 teve que ser cancelada por conta da guerra e nesse mesmo ano, Reutemann anunciou sua aposentadoria. Recebendo apenas corridas nacionais, o circuito voltou a se chamar Autódromo Municipal quando a democracia foi reinstaurada no país, em 1983. Em 1989, houve mais uma mudança de nome, desta vez homenageando o piloto Oscar Gálvez. Em 2008, foi acrescentado o nome do irmão de Oscar, que também era piloto na categoria Turismo, virando Autódromo Oscar y Juan Gálvez.
Na metade dos anos 1990, o país voltou a sonhar com a F1. O autódromo foi alugado para uma companhia privada e passou por uma extensa reforma para se adequar aos requerimentos da época. Na pista, a reta de largada/chegada foi realinhada depois da reforma dos boxes. O último hairpin também foi modificado e o S depois da primeira curva foi removido. A pista ainda ganhou uma seção batizada de Ayrton Senna, que substituiu a curva Tobogan em algumas opções de traçado, como na número 6-S, que foi usada na volta da F1 ao país em 1995.
No dia 9 de abril de 1995, o GP da Argentina voltou a ser disputado, com Damon Hill saindo vitorioso não somente no ano de retorno da corrida, mas também no ano seguinte.
A MotoGP também começou a disputar uma etapa no circuito, mas a crise econômica na Argentina impediu que o país continuasse a pagar as taxas exigidas pela FIM e pela FISA. Em 1998, Michael Schumacher venceu a última corrida de F1 disputada na Argentina, com a MotoGP abandonando as competições no país no ano seguinte.
Restou para o autódromo a competição de Turismo Carretera TC2000, mas sem muito investimento, as instalações foram ficando ultrapassadas. Em 2005, o circuito foi alugado para a Autodromo Buenos Aires SA por 15 anos, porém somente a pista recebeu um asfalto novo, sem outras melhorias maiores sendo feitas. Com isso, o número de corridas foi diminuindo e o autódromo passou a ser usado para eventos e shows.
A TC 2000 também parou de usar o circuito, preferindo fazer suas corridas nas ruas. Em 2014, a categoria organizou uma corrida de endurance de 200 km, mas no dia da corrida, as autoridades locais interditaram o autódromo por problemas com as leis de segurança, atrasando o início da prova em quatro horas e deixando claro os problemas enfrentados pela falta de investimento. Nesse mesmo ano, parecia que a salvação do autódromo estava a caminho, com o Ministério de Desenvolvimento Econômico sugerindo um projeto milionário para atualizar o circuito para os padrões exigidos pela F1. A proposta acabou não sendo levada adiante, o que não impediu o autódromo de passar por melhorias desde 2017, com a reforma de arquibancadas, boxes, barreiras de proteção e renovação das caixas de brita.
Entre os 16 vencedores do GP da Argentina, o maior foi Juan Manuel Fangio, que ouviu o hino nacional no pódio em quatro ocasiões, sendo que em duas delas, esteve acompanhado de seu compatriota José Froilán Gonzalez, que tem 3 pódios na pista portenha.
Já Carlos Reutemann nunca conseguiu vencer em casa, conseguindo apenas quatro pódios.
Entre os brasileiros, Emerson Fittipaldi conseguiu duas vitórias na Argentina, enquanto que Nelson Piquet representou o Brasil no degrau mais alto do pódio em 1981, depois de ter conseguido um pódio em 1980.
Das quatro provas que disputou no país, José Carlos Pace conseguiu completar apenas uma, subindo no pódio em 1977, o último pódio do piloto antes de falecer em um acidente de avião cerca de dois meses depois.