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Robert Reid renúncia à vice-presidência da FIA em protesto contra gestão de Ben Sulayem

Por não concordar com os caminhos que a FIA tem tomado nos últimos meses, a vice-presidente de esportes da entidade deixa o cargo com efeito imediato

Nesta quinta-feira (10) tivemos uma nova surpresa quanto o quadro de funcionários da FIA. O vice-presidente de esportes da entidade, Robert Reid renunciou ao cargo com ação de efeito imediato.

Robert Reid foi co-piloto de Rali e campeão mundial em 2001, atuava como um dos principais aliados de Mohammed Ben Sulayem desde a campanha eleitoral que o levou à presidência da FIA. Sua renúncia surge em um momento delicado para a entidade, surpreendendo pelo timing. Reid, que teve papel central na eleição de 2021, já vinha demonstrando crescente desconforto com os rumos da atual gestão.

Em uma declaração concisa, Reid afirmou que seus princípios e valores tornaram insustentável a permanência no cargo, sinalizando uma clara divergência com a atual liderança da instituição.

Confira a declaração na Íntegra

“Após profunda reflexão, tomei a difícil decisão de renunciar ao cargo de vice-presidente de esportes da FIA.”

“Assumi essa função para ajudar a proporcionar maior transparência, governança mais forte e liderança mais colaborativa.”

“Com o tempo, esses princípios foram cada vez mais deixados de lado e não posso mais, de boa-fé, permanecer como parte de um sistema que não os reflete mais.”

“Me afastar não foi fácil, mas permanecer significaria comprometer aquilo que acredito. Isto é uma questão de princípios, não de política.”

“O automobilismo merece uma liderança baseada na integridade, responsabilidade e respeito ao processo. Esse é o padrão mínimo que todos devemos esperar e exigir.”

Reid também deixou claro que estava deixando o cargo por conta de mudanças fundamentais nos procedimentos da FIA e como as coisas estavam acontecendo “a portas fechadas”.

“Quando assumi esse papel, foi para servir aos membros da FIA; não para servir ao poder”, explicou. “Com o tempo, testemunhei uma erosão constante dos princípios que prometemos defender. As decisões estão sendo tomadas a portas fechadas, ignorando as próprias estruturas e pessoas que a FIA existe para representar. Minha renúncia não é uma questão de personalidades; é uma questão de princípios.”

“O automobilismo merece uma liderança responsável, transparente e orientada pelos membros. Não posso mais, de boa-fé, continuar fazendo parte de um sistema que não reflete esses valores.”

A saída de Robert Reid da vice-presidência reflete as inúmeras mudanças que já aconteceram nos últimos meses, sendo um reflexo crescente insatisfação com os rumos da governança da entidade. Apesar de afirmar que vinha contribuindo positivamente na função — fortalecendo a governança e dando suporte aos clubes membros —, Reid passou a se preocupar com diversas práticas adotadas nos bastidores da organização.

Entre os principais pontos de incômodo está a maneira como algumas mudanças nas regras vêm sendo aprovadas no Conselho Mundial de Automobilismo da FIA, muitas vezes sem passar pelos processos tradicionais de análise e debate. A tendência crescente de reuniões virtuais e a adoção de votações eletrônicas rápidas, sem discussões aprofundadas, causaram desconforto entre alguns membros, que passaram a sentir que a diligência estava sendo deixada de lado.

O clima ficou ainda mais tenso quando Reid e outros integrantes do WMSC foram impedidos de participar de uma reunião recente por não assinarem um novo acordo de confidencialidade. A medida foi duramente criticada por David Richards, presidente da Motorsport UK, que chegou a ameaçar tomar ações legais, classificando o acordo como uma espécie de “ordem de silêncio”.

A situação reforça o cenário de instabilidade na cúpula da FIA, com questionamentos sobre a transparência e os mecanismos internos de tomada de decisão.

“Este não é o fim do meu serviço ao automobilismo”, acrescentou Reid. “Continuarei a defender reformas, transparência e uma governança que respeite os membros da FIA e a integridade do nosso esporte.”

No final deste ano acontecem novas eleições na FIA, em um momento que a popularidade de Ben Sulayem não é das melhores. No entanto, talvez o presidente consiga fugir pela tangente, já que a eleição não conta com votos de pilotos, das categorias sob chancela da FIA ou de montadoras.

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Debora Almeida

Jornalista, escrevo sobre automobilismo desde 2012. Como fotógrafa gosto de fazer fotos de corridas e explorar os detalhes deste mundo, dando uma outra abordagem nas minhas fotografias. Livros são a minha grande paixão, sempre estou com uma leitura em andamento. Devoro séries seja relacionada a velocidade ou ficção cientifica.

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