A Fórmula 1 está tentando retirar as mantas térmicas que são usadas para aquecer os pneus a partir de 2024. O processo começou já com os novos pneus de chuva, o composto de faixa azul destinado ao uso em chuva extrema não necessita mais do aquecimento prévio e o novo pneu intermediário será introduzido em breve.
No entanto, durante alguns testes realizados pela Pirelli com as especificações do próximo ano, os pilotos têm alertado da dificuldade para guiar os carros e colocar temperatura nos pneus. O diretor da Pirelli, Mario Isola abordou a situação para o site Racing News 365.
A ideia é interessante, mas ainda é um pouco complicado construir um pneu nos moldes que a categoria quer atualmente, que possam operar sem a manta térmica. Além disso é necessário fabricar um pneu que lide com diferentes configurações de circuitos, exigência de temperatura e pressão.
Atualmente a retirada das mantas térmicas estão ligadas as questões sustentáveis, pois o gasto de energia para preparar os pneus é algo que a categoria deseja eliminar. A Pirelli acredita nessas questões e por isso está trabalhando no desenvolvimento de uma borracha que não precise do aquecimento.
A grande preocupação atual é que mais voltas serão necessárias para aquecer e preparar os pneus. Nos treinos livres, ainda que a atividade tenha apenas 60 minutos de duração, os pilotos contam com um pouco mais de tempo para preparar os pneus, mas o mesmo não acontece em uma classificação e até mesmo na corrida. Os pilotos têm se questionado sobre acidentes e erros. George Russell e Charles Leclerc tiveram a oportunidade de realizar uma avaliação após o GP da Espanha e a Red Bull vai fazer os testes em Silverstone.
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Outra preocupação dos pilotos, são os acidentes dentro do pit-lane assim que a troca for realizada. Os pilotos não estão pensando apenas nas batidas com outros pilotos, mas também em acidentes com os fiscais de pista e até mesmo com os mecânicos.
“Obviamente eu entendo o ponto. O objetivo é fornecer um pneu que não precise de três voltas para aquecer. É fornecer um composto que faça isso em três curvas, mas mais que uma volta”, comentou Mario Isola.
“Com os pneus atuais você precisa de uma volta de preparação na classificação, então eu entendo o ponto. Podemos encontrar muitas razões. Também ouvi pessoas dizendo: ‘Sim, mas se você bater gasta muito mais em peças para a reposição’, e isso se torna um pouco complicado de analisar.”
“Mas o ponto principal é que os pneus novos não podem ser iguais aos antigos. É um pneu diferente, é uma abordagem diferente. É muito mais parecido com o que aconteceu na Fórmula 2, por exemplo, porque eles não têm cobertores”, comentou Isola.
Quando a parte de reposição de peças, as equipes demonstram uma certa preocupação, pois ao precisar substituir peças após batidas, isso significa que a produção de novos pacotes de atualização pode ficar comprometidos, por conta dos acidentes.
É claro que a categoria tem rumado cada vez mais em direção a sustentabilidade e esse gasto energético é uma preocupação.
Isola também foi questionado sobre o poder de movimentar a competição com a retirada dos cobertores, no entanto, ainda é necessário obter dados com testes para compreender o real impacto.
“Alguns acreditam que temos um elemento adicional de imprevisibilidade, então é bom para o show, mas alguém acha que é um desastre para o show porque eles vão escorregar e a ultrapassagem vai acontecer por causa das diferentes velocidades e todo esse tipo de coisa. É por isso que precisamos fazer simulações da melhor maneira possível, porque com isso podemos entender o impacto.”
Mesmo com os cobertores, quando os pilotos enfrentam algumas pistas com as temperaturas mais frias e até mesmo a possibilidade de chuva, alguns já demonstram a dificuldade que é para tornar o pneu operacional. Na conjuntura atual, com os pneus usados hoje pela categoria é possível imaginar que as competições serão afetadas, bem como a eficiência das estratégias. Mas é importante lembrar que o pit-stop é o momento de maior tensão das equipes, não apenas pela troca, mas ela também está aliada com a forma que o piloto vai tratar o seu novo conjunto de compostos.
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“Basicamente estamos testando agora, obtemos os dados, fornecemos os dados para a FIA e a F1, eles têm as ferramentas para simular o que pode acontecer e vemos juntos o impacto. Se acreditarmos que o impacto não é bom para o show, também podemos decidir introduzir o conceito sem os cobertores mais tarde, em um ano ou em um período mais longo”, disse Isola.
A WEC realizou a retirada das mantas térmicas, a categoria trabalha com a Michelin e a Goodyear, mas após alguns acidentes, para as 24 Horas de Le Mans optaram por liberar o uso da manta térmica, para garantir a segurança de todos e nivelar a competição. Alguns pilotos como Lewis Hamilton e Max Verstappen não gostaram da ideia de trabalhar sem a manta térmica, por conta da dificuldade para colocar temperatura nos compostos.
“É uma decisão que devemos tomar com base em dados e objetivos, não apenas no sentimento ou em outros elementos que não fazem parte do esporte. Penso que temos de ouvir também os pilotos, porque se eles acreditam que por qualquer motivo não é bom introduzir os pneus, devemos ouvi-los. Partilhamos a sua motivação [então vamos] considerar isso, verificar com os dados o que temos que fazer. Há muitos especialistas, devemos usá-los.”
Christian Horner, chefe de equipe da Red Bull também comentou o assunto: “Tenho certeza que a Pirelli tomará a decisão certa, não acho que é isso que os pilotos querem. Meu medo com essas coisas é que quando você pensa que vai conseguir algo simplista e criar uma corrida melhor, você se esforça muito para tentar aquecer os pneus rapidamente e nas últimas voltas, e isso pode aumentar o custo. Todo mundo tem cobertores elétricos, eles fazem o seu trabalho e o que devemos buscar é uma forma sustentável de alimentar esses cobertores ao invés de retirá-los”.
A Pirelli deseja permanecer na categoria atuando como fornecedora de pneus, atualmente está acontecendo processo de definição da empresa que fornecerá os compostos a partir de 2025, por um período de três anos, com o contrato podendo ser estendido por mais uma temporada.
A atual fornecedora italiana tem tentado se adequar as necessidades da categoria, assim como os pedidos das equipes e pilotos. Sabemos que a Pirelli não tem agrado muito alguns competidores e provavelmente a retirada das mantas térmicas serão um desafio na categoria, pois nem sempre existiu confiança (firmeza) no produto que é entregue.
É claro que em um primeiro momento é uma questão de adaptação, no entanto, as questões voltadas para a segurança também precisam ser levantas. A decisão da retirada das mantas térmicas deve ser votada depois de Silverstone.