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Os hermanos voltavam a ter uma prova de F1

Série 365: 24 de Janeiro – Os hermanos voltavam a ter uma prova de F1 - 02ª Temporada: dia 247 de 365 dias. Por: Carlos Eduardo Valesi

Brasileiros e argentinos, por mais que gostem de provocar uns aos outros, tem amores em comum. Os dois povos adoram churrasco, futebol e as praias de Santa Catarina, por exemplo. E, como no esporte bretão, ambos tiveram seus ídolos e apaixonaram-se por automobilismo.

No caso dos hermanos, este relacionamento começou mais cedo, graças aos grandes Juan Manuel Fangio e José Froilán González. Os dois pilotos foram responsáveis por acender no coração portenho a chama da velocidade, tanto que desde 1930 um Grand Prix de Buenos Aires é disputado, e no final da década de 40 a regularidade e organização da corrida já atraíam não só pilotos brasileiros como europeus.

Em 1952 Juan Domingo Perón, presidente do país, inaugurou nas imediações da capital o Autódromo 17 de Outubro, que em 1953 recebeu o primeiro GP oficial contando pontos para o campeonato, a segunda prova regular a ser disputada fora da Europa (apenas a Indy 500 tinha essa primazia até então).

A etapa permaneceu no calendário até 1960, quando por conta da instabilidade governamental na região deixou de ser disputada.

Uma década depois os argentinos sentiam falta do circo da Fórmula 1, e resolveram se organizar para novamente participar do calendário. Isso exigia uma prova teste extracampeonato, que foi agendada para 24 de janeiro de 1971.

Uma vez que o ano iria começar em terras austrais, os pilotos e as equipes aproveitaram para adiantar a farra, e vieram em peso para os 1.000 km de Buenos Aires. Infelizmente a festa foi substituída por tragédia: após 36 voltas, o francês Jean-Pierre Beltoise ficou sem combustível com sua Matra e pulou do carro para empurrá-lo até os boxes. Só que ele ainda estava na entrada da reta, e a prova não havia sido neutralizada, ou seja, os outros competidores continuavam a toda velocidade a seu lado.

Tragédia com a Ferrari de Giunti.
Fonte: ruiamaraljr.blogspot

Um deles era o italiano Ignazio Giunti, que dirigia uma Ferrari dividida com Arturo Merzario. Ignazio já havia passado por Beltoise duas vezes, mas na terceira chegou disputando posição e tirou o carro de lado. O francês já havia desistido de empurrar, mas a Ferrari atingiu em cheio a Matra parada e imediatamente entrou em combustão. Merzario saiu dos boxes correndo para tentar tirar o companheiro do carro (seis anos após ele faria o mesmo por Niki Lauda em Nürburgring), mas Giunti não resistiu às queimaduras e faleceu logo após.

Duas semanas depois, quando o evento teste da Fórmula 1 teve vez no mesmo local, o clima ainda era de tristeza. Mesmo tendo registrado três carros para participar, a Ferrari decidiu abandonar a prova. Beltoise, que havia sido suspenso pela FIA pela atitude perigosa, também não pode participar.

Jo Siffert se prepara para a primeira bateria.
Fonte: Pinterest

Sendo assim apenas 10 carros de Fórmula 1 alinharam no grid para a primeira das duas etapas que seriam disputadas. As regras eram as seguintes: duas provas de 50 voltas teriam os tempos somados para se definir o campeão, e o grid da segunda bateria seria definido pela classificação da primeira. Cinco carros da Fórmula 5000 também participariam da prova.

Entre os concorrentes da categoria principal, haviam nomes conhecidos: a Matra ainda tinha Chris Amon, a Lotus vinha com três carros e os irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi em dois deles, a McLaren tinha o prata da casa Carlos Reutemann, a March fornecia três carros com Henri Pescarolo, Derek Bell e Jo Siffert, o time da Surtees tinha o alemão Rolf Stommelen e a suíça Bellasi disputou com seu piloto conterrâneo Silvio Moser.

As Lotus alinhadas.
Fonte: Pinterest

A primeira bateria viu Stommelen largar em primeiro, com Chris Amon a seu lado e as Lotus de Reine Wilsell e Emerson logo em seguida. Reutemann, que tinha o apoio da torcida, largou em quinto. O alemão da Surtees levou de ponta a ponta, com Jo Siffert saindo de 6º para segundo e Henri Pescarolo ficando com a terceira posição com um March do time de Frank Williams. Emerson perdeu o nariz do carro e ficou três voltas atrás de todos, terminando em 10º lugar à frente dos F5000 apenas.

McLaren do queridinho da torcida, Carlos Reutemann
Fonte: Pinterest

Na segunda prova do dia, Siffert tomou a liderança de Rolf logo na largada e Chris Amon, que tinha terminado em quarto a corrida prévia, conseguiu ficar em terceiro. Quando o neozelandês tentou ultrapassar Stommelen ambos colidiram e o alemão levou a pior, tendo que abandonar a prova. Amon não sofreu danos e logo conseguiu tomar a liderança do suíço, que foi perdendo posições consecutivamente para Pescarolo, Reutemann e Derek Bell, que eventualmente passou o argentino só para abandonar logo em seguida com um motor estourado. Ao final das 50 voltas Chris Amon terminou em primeiro, com Henri Pescarolo em segundo e Carlos Reutemann em terceiro, e curiosamente essa foi a classificação geral, uma vez que a segunda bateria foi consideravelmente mais rápida do que a primeira e os abandonos de Stommelen e Siffert os impediram de marcar tempo na prova final.

Pódio com Amon, Pescarolo e um sorridente Reutemann
Fonte: Soymotor.com

Por fim, mesmo com as memórias do acidente ainda frescas, a FIA gostou do que viu no país vizinho e, em 1972 o GP da Argentina estava de volta ao calendário. Mas esse é história para outro dia.

lll FORA DAS PISTAS

Nasceram em 24 de janeiro o cantor Neil Diamond, o excelente Blues Brother John “Joliet Jake Blues” Belushi, o diretor brasileiro Carlos Saldanha, que nos deu A Era do Gelo e Rio e o atacante canibal uruguaio Luis Suárez.

E para o encerramento musical vamos ficar com a obra prima de Warren Zevon, que perdeu uma aposta e foi obrigado a escrever uma música sobre um filme que ele e Phil Everly (dos Everly Brothers) tinham acabado de assistir. Nascia assim “Werewolves of London”, com uma linha de piano que para mim lembra demais “Sweet Home Alabama”, e uma performance vocal divertidíssima.

lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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