Brasileiros e argentinos, por mais que gostem de provocar uns aos outros, tem amores em comum. Os dois povos adoram churrasco, futebol e as praias de Santa Catarina, por exemplo. E, como no esporte bretão, ambos tiveram seus ídolos e apaixonaram-se por automobilismo.
No caso dos hermanos, este relacionamento começou mais cedo, graças aos grandes Juan Manuel Fangio e José Froilán González. Os dois pilotos foram responsáveis por acender no coração portenho a chama da velocidade, tanto que desde 1930 um Grand Prix de Buenos Aires é disputado, e no final da década de 40 a regularidade e organização da corrida já atraíam não só pilotos brasileiros como europeus.
Em 1952 Juan Domingo Perón, presidente do país, inaugurou nas imediações da capital o Autódromo 17 de Outubro, que em 1953 recebeu o primeiro GP oficial contando pontos para o campeonato, a segunda prova regular a ser disputada fora da Europa (apenas a Indy 500 tinha essa primazia até então).
A etapa permaneceu no calendário até 1960, quando por conta da instabilidade governamental na região deixou de ser disputada.
Uma década depois os argentinos sentiam falta do circo da Fórmula 1, e resolveram se organizar para novamente participar do calendário. Isso exigia uma prova teste extracampeonato, que foi agendada para 24 de janeiro de 1971.
Uma vez que o ano iria começar em terras austrais, os pilotos e as equipes aproveitaram para adiantar a farra, e vieram em peso para os 1.000 km de Buenos Aires. Infelizmente a festa foi substituída por tragédia: após 36 voltas, o francês Jean-Pierre Beltoise ficou sem combustível com sua Matra e pulou do carro para empurrá-lo até os boxes. Só que ele ainda estava na entrada da reta, e a prova não havia sido neutralizada, ou seja, os outros competidores continuavam a toda velocidade a seu lado.
Um deles era o italiano Ignazio Giunti, que dirigia uma Ferrari dividida com Arturo Merzario. Ignazio já havia passado por Beltoise duas vezes, mas na terceira chegou disputando posição e tirou o carro de lado. O francês já havia desistido de empurrar, mas a Ferrari atingiu em cheio a Matra parada e imediatamente entrou em combustão. Merzario saiu dos boxes correndo para tentar tirar o companheiro do carro (seis anos após ele faria o mesmo por Niki Lauda em Nürburgring), mas Giunti não resistiu às queimaduras e faleceu logo após.
Duas semanas depois, quando o evento teste da Fórmula 1 teve vez no mesmo local, o clima ainda era de tristeza. Mesmo tendo registrado três carros para participar, a Ferrari decidiu abandonar a prova. Beltoise, que havia sido suspenso pela FIA pela atitude perigosa, também não pode participar.
Sendo assim apenas 10 carros de Fórmula 1 alinharam no grid para a primeira das duas etapas que seriam disputadas. As regras eram as seguintes: duas provas de 50 voltas teriam os tempos somados para se definir o campeão, e o grid da segunda bateria seria definido pela classificação da primeira. Cinco carros da Fórmula 5000 também participariam da prova.
Entre os concorrentes da categoria principal, haviam nomes conhecidos: a Matra ainda tinha Chris Amon, a Lotus vinha com três carros e os irmãos Emerson e Wilson Fittipaldi em dois deles, a McLaren tinha o prata da casa Carlos Reutemann, a March fornecia três carros com Henri Pescarolo, Derek Bell e Jo Siffert, o time da Surtees tinha o alemão Rolf Stommelen e a suíça Bellasi disputou com seu piloto conterrâneo Silvio Moser.
A primeira bateria viu Stommelen largar em primeiro, com Chris Amon a seu lado e as Lotus de Reine Wilsell e Emerson logo em seguida. Reutemann, que tinha o apoio da torcida, largou em quinto. O alemão da Surtees levou de ponta a ponta, com Jo Siffert saindo de 6º para segundo e Henri Pescarolo ficando com a terceira posição com um March do time de Frank Williams. Emerson perdeu o nariz do carro e ficou três voltas atrás de todos, terminando em 10º lugar à frente dos F5000 apenas.
Na segunda prova do dia, Siffert tomou a liderança de Rolf logo na largada e Chris Amon, que tinha terminado em quarto a corrida prévia, conseguiu ficar em terceiro. Quando o neozelandês tentou ultrapassar Stommelen ambos colidiram e o alemão levou a pior, tendo que abandonar a prova. Amon não sofreu danos e logo conseguiu tomar a liderança do suíço, que foi perdendo posições consecutivamente para Pescarolo, Reutemann e Derek Bell, que eventualmente passou o argentino só para abandonar logo em seguida com um motor estourado. Ao final das 50 voltas Chris Amon terminou em primeiro, com Henri Pescarolo em segundo e Carlos Reutemann em terceiro, e curiosamente essa foi a classificação geral, uma vez que a segunda bateria foi consideravelmente mais rápida do que a primeira e os abandonos de Stommelen e Siffert os impediram de marcar tempo na prova final.
Por fim, mesmo com as memórias do acidente ainda frescas, a FIA gostou do que viu no país vizinho e, em 1972 o GP da Argentina estava de volta ao calendário. Mas esse é história para outro dia.
lll FORA DAS PISTAS
Nasceram em 24 de janeiro o cantor Neil Diamond, o excelente Blues Brother John “Joliet Jake Blues” Belushi, o diretor brasileiro Carlos Saldanha, que nos deu A Era do Gelo e Rio e o atacante canibal uruguaio Luis Suárez.
E para o encerramento musical vamos ficar com a obra prima de Warren Zevon, que perdeu uma aposta e foi obrigado a escrever uma música sobre um filme que ele e Phil Everly (dos Everly Brothers) tinham acabado de assistir. Nascia assim “Werewolves of London”, com uma linha de piano que para mim lembra demais “Sweet Home Alabama”, e uma performance vocal divertidíssima.
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.
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