Na história da música, uma das místicas mais lamentáveis foi o chamado Clube dos 27.
Sugere-se que estrelas musicais acabam morrendo quando tinham apenas 27 primaveras.
Nomes como Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e Amy Winehouse são os mais notórios.
Embora o Clube dos 27 seja restrito para os músicos, as pistas têm um representante nessa relação.
E uma das perdas mais brutais.
Contudo, Thomas Baldwin Pryce, ou simplesmente Tom Pryce, é um representante de um triste grupo.
Aquela que os britânicos chamam de a “Geração Perdida”.
A mesma geração que tinha Roger Williamson (vítima de uma negligência dos organizadores do GP da Holanda) e Tony Brise (pupilo de Graham Hill e que pereceu junto ao bicampeão e sua escuderia em um acidente aéreo).
Dos três britânicos, o galês Pryce foi o que teve a carreira mais longeva na F1.
O galês, que tinha como ídolo Jim Clark, teve uma jornada de muitos desafios e dificuldades.
De carreira discreta na base, chegou a trabalhar com Ron Dennis na Fórmula 3 inglesa.
Estreou na F1 em 1974 no GP da Bélgica, em Nivelles, com a nanica Token.
Pryce foi vetado para disputar a prova seguinte em Mônaco, por ser inexperiente.
O galês ainda resolveu insistir em correr no principado, mas pela F3, a bordo de um March da equipe Ippokampus Racing.
Na preliminar realizada em Monte Carlo, Tom dominou a prova e venceu por 21 segundos de vantagem. Nada mal para alguém taxado de inexperiente.
Alguns meses depois, uma oportunidade mais interessante.
A Shadow, equipe média do grid, procurava um piloto para substituir o falecido Peter Revson.
Após testar alguns nomes, a escuderia trouxe o galês para o carro 16 a partir da metade do campeonato.
Pryce se acidentou nas duas primeiras corridas (Holanda e França), mas mostrou potencial na etapa britânica.
Em Brands Hatch, o galês chegou a ser o mais rápido nos treinos livres, o que lhe rendeu 100 garrafas de champanhe!
Classificou-se em quinto e brigou pelos pontos, mas um problema mecânico o derrubou para o oitavo.
Na etapa seguinte, em Nurburgring, Tom pontuava pela primeira vez na F1, com o sexto posto no inferno verde.
Apesar de ser o único tento em 1974, as impressões sobre o galês foram excelentes.
Houve um burburinho sobre uma proposta da Lotus, mas Pryce seguiu na Shadow.
Foi em 1975 o seu momento mais brilhante.
Numa corrida extraoficial, em tarde chuvosa em Brands Hatch, Tom foi um dos grandes do dia.
O piloto da Shadow largou na pole e ficou entre os primeiros por toda a prova.
Faltando oito voltas para o fim, a Tyrrell de Jody Scheckter quebrou e Pryce retornou à ponta para não perder mais.
Embora não tenha contado para o campeonato e para as estatísticas oficiais, aquele foi o único triunfo do galês na F1.
Porém, Tom ainda teve bons momentos em 1975, com direito a um pódio (terceiro posto na Áustria), um quarto lugar na Alemanha e três sextos (Bélgica, Holanda e Itália).
Mesmo com a saída do principal patrocinador da Shadow, a petrolífera UOP, o início de 1976 foi promissor.
Em Interlagos, Pryce conquistou o terceiro lugar na abertura do campeonato.
Apesar do bom começo, a Shadow não conseguiu evoluir e Tom obteve apenas mais dois quartos lugares (Inglaterra e Holanda).
Por sua vez, o ano de 1977 estava complicado.
Na Argentina, o galês terminou em nono, mas não foi classificado, por terminar oito voltas atrás do vencedor. Já no Brasil, teve um motor estourado quando andava em segundo.
Em 5 de março de 1977, as perspectivas para o GP da África do Sul não eram das melhores.
Tom largou em 15º e caiu para último na largada.
O galês vinha galgando posições e estava em 13º na altura da volta 22.
Naquele instante, o seu companheiro de equipe, o italiano Renzo Zorzi parou na reta dos boxes com um princípio de incêndio.
Dois fiscais de pista tentaram atravessar a pista, enquanto os carros ainda passavam.
Pryce estava colado em Hans-Joachin Stuck e não conseguiu mudar de rota a tempo.
Assim, acontecia o acidente mais feio, plasticamente, da história da Fórmula 1. E um dos mais trágicos.
O Shadow DN8 acertou em cheio o corpo do fiscal Fredrik Jensen Van Wuuren, cujo corpo dilacerado rodopiou no ar antes de cair no chão.
O pior é que o extintor que o fiscal carregava acertou em cheio a cabeça de Pryce.
O capacete branco com cinco listras negras e a bandeira de Gales, assim como a face do piloto estavam irreconhecíveis com o impacto. Tom Pryce estava morto.
E, se não bastasse isso, o Shadow desgovernado seguiu descendo a reta dos boxes a 250 km/h.
Só foi parar na grade de proteção após se chocar com a Ligier de Jacques Laffite na primeira curva.
Niki Lauda, que foi o vencedor daquela corrida em Kyalami (voltava a vencer após o terrível acidente de Nurburgring), declarou não sentir nenhum prazer por aquela vitória.
A viúva, Fenella, viu o seu esposo ser cremado na mesma igreja aonde se casaram dois anos antes.
Assim, o nome do galês entrou para a história como mais uma vítima das eras sangrentas da Fórmula 1.
Integrando um grupo promissor, com promessas que viram seus sonhos dissipados em alguns instantes.
E com a idade para integrar outro clube.
Fonte: Rodrigo Mattar, Continental Circus, Stats F1
lll A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.