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O piloto que adora a América

Série 365: 20 de Setembro – O piloto que adora a América – 02ª Temporada: dia 122 de 365 dias. Por: Carlos Eduardo Valesi

Correr – ultrapassar – é tão ridiculamente difícil, por causa destas regras aerodinâmicas estúpidas. Na Fórmula 1 tudo gira em torno do carro, e isso não é muito satisfatório…

Juan Pablo Montoya Roldán sempre entendeu de ultrapassagem. Agressivo nos circuitos ovais, a ponto de ter Emerson Fittipaldi dizendo que ninguém corria como ele lá, e dono de algumas das mais belas brigas por posição da Fórmula, ele também sabe ser muito rápido, e manteve por muitos anos recordes de velocidade na categoria mãe.

Fonte: Pinterest

Nascido em Bogotá, na Colômbia, em 20 de setembro de 1975, desde cedo demonstrou ter um talento acima da média para o automobilismo, estimulado por seu pai que era um arquiteto e entusiasta do esporte a motor. Foi tetracampeão do campeonato nacional de kart entre os 6 e os 9 anos de idade. Com o tempo foi crescendo (dizem as más línguas que ainda não parou, mas falemos disso depois), e pilotando máquinas maiores. Em 1992 correu (e ganhou) a Fórmula Renault da Colômbia, com cinco poles e quatro vitórias em oito corridas. Continuou participando e ganhando campeonatos, até que em 1997 estava na Fórmula 3000, onde em seu ano de estreia brigou pelo título, que não veio por 1,5 ponto (o campeão foi o brasileiro Ricardo Zonta). Mesmo não levando o caneco o colombiano ganhou a atenção da Williams, que o convidou para uma rodada de testes em Jerez, na Espanha. Após marcar o melhor tempo de todos os que estavam lá, Montoya voltou para casa um contrato para ser piloto de testes da equipe. Isso em uma época em que, segundo ele, estava tão duro que não tinha dinheiro nem para o transporte público, e ia para os treinos de patins.

Acumulando o emprego na Williams com o campeonato da F3000, em 1998 Montoya não deu chance para Nick Heidfeld e garantiu o título, com direito a apresentações espetaculares, como em Pau, onde colocou uma volta em todo o resto do grid. O natural era passar logo à F1, mas um capricho do destino o apresentou ao que viria ser o grande amor de sua vida: o automobilismo norte-americano.

A Williams estava sem dinheiro, após um 1998 onde não amealhou nenhuma vitória, algo que não acontecia desde 1988 quando sofreram com os motores Judd. Na tentativa de ganhar uns caraminguás a mais, Frank Williams topou uma ideia maluca de Chip Ganassi, e trouxe Alessandro Zanardi, então com um bicampeonato da CART no bolso, de volta à Fórmula 1. Em seu lugar mandou o rookie Juan Pablo para correr nas pradarias ianques. Zanardi foi um fiasco, mas o colombiano ganhou não só o campeonato como os corações e as almas dos americanos. Ao chegar empatado em pontos com Dario Franchitti no final do campeonato e ser declarado vencedor por ter sete vitórias contra três do escocês, tornou-se apenas o segundo calouro a ganhar o título em seu ano de estreia, repetindo o feito de Nigel Mansell seis anos antes.

Sem tirar o sorriso do rosto. Fonte: USA Today

Agora Frank Williams o queria, e ele tinha contrato com a equipe de Grove, mas de alguma forma conseguiu convencer a F1 a espera-lo. Isso de certa forma foi um desastre, pois culminou na entrada de Jenson Button na categoria, porém isto é haterismo da minha parte. De qualquer forma, a decisão foi mais que acertada para JP: mesmo com um carro pouco confiável e com muitos abandonos, o colombiano acabou se tornando o piloto que mais liderou voltas. O maior triunfo, porém, foi em um cross over: a Ganassy resolveu colocar seus carros para competir a icônica Indy 500 e, contrariando todas as expectativas, Montoya ganhou de lavada: liderou 167 de 200 voltas, e foi o primeiro piloto a vencer em sua corrida de estreia desde Graham Hill em 1966.

Tanta coincidência com campeões da F1 não poderia ter outra consequência que não fosse o anúncio da Williams, no mesmo fim de semana da Indy 500, de que Montoya iria correr na categoria mãe ao lado de Ralf Schumacher em 2001.

Vindo agora com um nome conhecido, ele ganhou uma boa quantidade de fótons dos holofotes da imprensa, mas seus primeiros cartões de visita não agradaram muito pelos resultados. Juan Pablo era rápido, ultrapassava sem medo e brigava pelas primeiras posições, mas cometia erros bobos que o tiravam da pista. Foram quatro abandonos nas primeiras quatro provas, seguidos de seu primeiro pódio, um segundo lugar na Espanha atrás de Michael Schumacher. Nas 12 corridas seguintes, outros 7 abandonos, muitos por própria culpa, embora também tenham havido mais três pódios: dois segundos lugares em Nurburgring e no Japão, e a vitória inaugural em Monza, após largar da pole. Foram no total 31 pontos e a sexta colocação geral.

Fonte: YouTube

Em 2002 e 2003 Montoya e a Williams sempre brigaram pelas primeiras posições, mas a força da Ferrari e de Schumacher mostraram-se barreiras intransponíveis. Nenhuma vitória em 2002, mas quatro segundos lugares e outros três terceiros garantiram a todos que o colombiano era o melhor do resto. Em 2003 repetiu o terceiro lugar geral do ano anterior, porém com comemorações no alto do pódio na Alemanha e em Mônaco, dando-lhe a segunda perna da Tríplice Coroa. Infelizmente seu relacionamento com a equipe começava a deteriorar: um mal entendido no rádio fez com que o piloto discutisse asperamente com o time nos boxes, o que gerou inclusive uma reprimenda pública da equipe. As queixas de que o carro tinha que ser adaptado a seu tamanho rechonchudo com perda de qualidade também estava cada vez menos velada. Os resultados menos que razoáveis de 2004 jogaram a pá de cal no que restava de respeito entre os dois lados, e mesmo antes do anúncio oficial todos sabiam que ele estava de malas prontas para a McLaren no ano seguinte. A parceria entre Montoya e Williams ao menos fechou com chave de ouro, com vitória na última prova do ano, em Interlagos.

Fonte: Pinterest

Acostumado com uma Williams literalmente moldada à sua imagem, Juan Pablo classificou a McLaren como “inguiável”. O time também começou o ano escalando um personal trainer para colocar o colombiano em forma, mas pelo menos o programa de spa (não o circuito, mas a clínica de emagrecimento) foi por água abaixo quando Montoya machucou o ombro após a segunda etapa na Malásia e precisou ficar fora por duas provas. A história oficial é de que a lesão ocorreu durante uma partida de tênis, mas o que correu pela rádio paddock foi que a culpa havia sido de um acidente de moto. Ao voltar ainda mais volumoso do que saiu, JP demorou muito para entrar no ritmo, e só chegou ao pódio com uma vitória na décima primeira etapa, em Silverstone. Ele receberia ainda outras duas bandeiradas na primeira posição, repetindo seus próprios feitos com a Williams na Itália e no Brasil.

Ainda assim, uma quarta posição geral não era o que o time de Woking queria para brigar com Fernando Alonso (na verdade a equipe queria era o próprio Alonso, e conseguiu para o ano seguinte). E 2006 começou ainda pior: 5º, 4º, abandono, 3º, abandono, abandono. Cinco corridas e poucos pontos, o anúncio de que uma vaga na equipe seria do espanhol, o silêncio da McLaren em falar sobre uma renovação mesmo sabendo que Kimi Raikkonen estava de saída para a Ferrari e uma dificuldade em encontrar a melhor forma de guiar o carro fizeram as saudades dos Estados Unidos baterem mais forte, tanto que assim que atravessou o Atlântico ele fez uma das suas ultrapassagens mais bonitas, na primeira volta do Canadá, em cima de Michael Schumacher. Pena que na volta seguinte bateu com Nico Rosberg, errou a última curva e encheu o muro, abandonando. A corrida seguinte, justamente em Indianápolis, foi o fim: envolvido em um “big one” de oito carros onde ele foi um dos principais culpados, acertando seu companheiro de equipe, e a decisão estava tomada de ambos os lados. Montoya ficaria nos Estados Unidos, e a McLaren voltaria para casa e daria o volante para Pedro de la Rosa.

Juan Pablo também voltou para casa: conseguiu facilmente uma vaga na Chip Ganassi para correr pela NASCAR, tanto pela Busch Series quanto pelas Nextel Cup. Foram cinco corridas naquele ano para ambientar-se novamente. Em 2007, duas vitórias “comuns” e o primeiro lugar nas 24h de Daytona, que ele viria a repetir no ano seguinte e em 2013. Porém os bons resultados do início da carreira estavam bem mais escassos, e o colombiano não era um dos que brigavam pelo título. Sua melhor colocação final foi um oitavo lugar no campeonato de 2009.

Com a esposa e os três filhos. O casal Montoya tem um projeto que ajuda crianças carentes na Colômbia. Fonte: Motorsport

Era hora de outra mudança: foram sete anos de NASCAR, e Montoya queria outras paisagens, mesmo que fossem conhecidas. Em 2014 mudou-se para a Indy, a bordo da Penske. A injeção de ânimo que novos ares provocam foi suficiente para que vencesse em seu primeiro ano a Pocono IndyCar 500, e de quebra ganhasse o recorde de piloto mais rápido em uma corrida de 500 milhas da história, com velocidade média de 375km/h.

Duas. Fonte: Flatout

Em 2015, uma vitória na corrida de abertura em St. Petersburg era o prenúncio de outra conquista: o bicampeonato na Indy 500 foi conquistado com uma ultrapassagem sobre Will Power a quatro voltas do final da corrida. Outra vitória em St. Petersburg no início de 2016 seria sua última na categoria. Ao final daquele ano a Penske anunciou que Montoya não seria mais um piloto regular, embora tivesse vaga garantida nas 500 Milhas de Indianápolis em 2017 – Juan Pablo terminou em sexto lugar esta prova. Em lugar disso, o colombiano seria a cabeça do projeto da equipe na WeatherTech Championship, uma evolução das American Le Mans Series. Ele ainda está lá, mirando na verdade a outra Le Mans, para completar sua tríplice coroa. Neste 2018 abiscoitou uma terceira colocação em sua categoria, e um sétimo geral. Não duvidem de que o gordinho colombiano consiga este título nos próximos anos.

FORA DAS PISTAS

Em 20 de setembro de 1982 os jogadores profissionais de futebol americano começaram uma greve que durou 57 dias. Não entendo muito do esporte (sou torcedor dos Falcons, para vocês terem uma ideia, mas isso foi obra do Fernando Campos), mas a história gerou uma das melhores comédias esportivas do cinema, The Replacements (Virando o Jogo), com Keanu Reeves e Gene Hackman.

Outro piloto nasceu em 20 de setembro: Ferenc Szisz, mecânico, chapa de Marcel Renault e vencedor do primeiro Grand Prix da história, em 1906 em Le Mans. Quem sabe um dia não contamos a história dele?

Sophia Loren, o ícone da beleza italiana, também faz aniversário hoje. Além deles, completam translações o maníaco escritor George R. R. Martin (#TeamLannister), Nuno Bettencourt, guitarrista do Extreme, e Wander Wildner, dOs Replicantes e de carreira solo genial.

E nossa dica fica por conta de outro aniversariante, Rodolfo Abrantes. Entendemos o novo rumo que tomou na vida, mas agradecemos é por pérolas como estas nos Raimundos:

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p style=”text-align: left;”>A Série 365 Dias Mais Importantes do Automobilismo, recordaremos corridas inesquecíveis, títulos emocionantes, acidentes trágicos, recordes e feitos inéditos através dos 365 dias mais importantes do automobilismo.

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Carlos Eduardo Valesi

Velho demais para ter a pretensão de ser levado a sério, Valesi segue a Fórmula 1 desde 1987, mas sabe que isso não significa p* nenhuma pois desde meados da década de 90 vê as corridas acompanhado pelo seu amigo Jack Daniels. Ferrarista fanático, jura (embora não acredite) que isto não influencia na sua opinião de que Schumacher foi o melhor de todos, o que obviamente já o colocou em confusão. Encontrado facilmente no Setor A de Interlagos e na sua conta no Tweeter @cevalesi, mas não vai aceitar sua solicitação nas outras redes sociais porque também não é assim tão fácil. Paga no máximo 40 mangos numa foto do Button cometendo um crime.

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